Cícero Bley, Especialista e Pioneiro em Biocombustíveis, Sobre Biogás

O Planeta Orgânico entrevistou Cícero Bley, engenheiro agrônomo, consultor especializado em biocombustíveis, ex-diretor de energias renováveis da Itaipu Binacional e membro da ABIOGAS.

Por favor, explique um pouco sobre a bioenergia para os leitores do Planeta Orgânico.

Energia é um componente essencial de uma economia para o desenvolvimento. Assim, o tema bioenergia sempre será um componente infraestrutural da bioeconomia ou do desenvolvimento em bases biológicas.

A bioenergia está contida na biomassa do planeta, nos vegetais superiores e inferiores pelos processos da fotossíntese (fixação da energia solar). Assim como são produzidas pela ação de microorganismos, atuando na biodigestão pela via aeróbica (compostagem) e anaeróbica (biodigestão) de resíduos orgânicos. Tudo o que é velho, fraco ou doente e cai na natureza, solos e águas, é processado pela biodiversidade especializada.

E como se utiliza o biogás neste contexto?

Nos processos de biodigestão anaeróbica obtêm-se o biogás, um combustível natural, composto basicamente de CO2 e CH4 (metano) – este último com valor energético comparável ao do Gás Natural do petróleo e 95% menos poluente do que este, em termos de emissões de gases do efeito estufa. Aliás, o gás metano é 21 vezes mais agressivo do que o seu equivalente gás carbônico. Para cada metro cúbico de metano consumido para gerar energia, obtêm-se 21 vezes menos de gás carbônico.

O biogás é muito versátil. Pode ser aplicado para gerar energia elétrica, na razão de um metro cúbico para cada 2,3 kW-hora produzido, assim como depois de refinado, com 98% de metano, pode substituir o Gás Natural na razão de 1:1. Portanto, pode substituir também o diesel e a gasolina como combustível automotivo e também o GLP utilizado como fonte para energia térmica em substituição a lenha. Tanto para a secagem da produção, como para o cozimento.

Qual a relação de setor de alimentos com o biogás?

Os alimentos são constituídos de água, energia e biomassa. Assim que colhidos por ação humana, os alimentos começam a ser processados, o que ao mesmo tempo produzem resíduos, sólidos e líquidos. A FAO publicou, em 2013, um alerta ao mundo, sobre a produção desses resíduos mostrando que na produção e colheita perde-se 25% dos alimentos e no processamento e armazenagem perde-se mais 25%.  O que, convenhamos, são perdas absurdas que podem e devem ser evitadas e/ou incorporadas à produção.

Quais as perspectivas atuais de incentivo ao biogás no Brasil?

O Governo Federal – MME (Ministério de Minas e Energia) está dando prosseguimento ao Programa RenovaBio que abrange etanol, biodiesel, bioquerosene e biogás. Este programa deverá virar uma Política de Estado.

Este esforço de governo para introduzir de vez os biocombustíveis na matriz nacional tem como intenção, de fundo, a redução de emissões de gases de efeito estufa. O Brasil precisa utilizá-los para produzir os indicadores comprometidos na Conferência de Paris.