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Francis Canterucci, diretora da Associação
Brasileira de Produtos Naturais fala sobre a
missão dos produtos naturais, e destaca a
importância de comercializar alimentos de
qualidade, sem química, que sejam cultivados
em harmonia com o meio ambiente.

 

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PO: Como você definiria o conceito de produto natural? Qual é a relação que ele tem com os produtos artesanais?

FRANCIS – Na realidade, um produto natural não pode estar longe do que consideramos como artesanal. O cuidado com a manipulação é artesanal, mas hoje há o respaldo da tecnologia. Para o produto ser natural, ele deve ser um produto seguro, que não prejudique a saúde. E além disso, ele deve ser eficiente, corresponder às expectativas. Não adianta ser natural e não ser eficiente. As pessoas, na hora de consumirem um produto natural, devem simplesmente pegá-lo na loja, levá-lo para casa, e não precisar ficar fazendo química na cozinha, limpando, colocando vinagre, etc. Até porque o consumidor moderno não tem tempo para isso.

PO: E sobre os cosméticos naturais. O que você poderia nos dizer sobre as empresas que comercializam esse tipo de produto?

FRANCIS –Nós da ABRAPAN (Associação Brasileira de Produtos Naturais) constatamos, através de pesquisas, que existem várias empresas que desenvolvem produtos maravilhosos na linha de cosméticos naturais, mas essas empresas estão espalhadas pelo país, e não mantém quase nenhum contato umas com as outras. É difícil achá-las. Algumas não têm nem mesmo sítios na internet. Como não existe nenhum foco de representatividade, nós precisamos começar a fomentar isso tudo.

PO: E quanto às farmácias e drogarias. A ABRAPAN tem algum trabalho junto a elas?

FRANCIS – Nós vamos começar um trabalho com as farmácias em breve. Já existe um projeto nosso nesse sentido. As drogarias são um canal específico. Elas podem ajudar a fomentar o mercado de produtos naturais. 

PO: Muitas farmácias já têm seções de produtos naturais, tais como vitaminas e cereais em barra.

FRANCIS – Pois é. São os chamados suplementos fitoterápicos (que tratam doenças mediante o uso de plantas). Nos Estados Unidos, esse tipo de produto é colocado dentro do mesmo setor dos dietéticos. Estão todos incluídos na linha de produtos ligada ao bem-estar do indivíduo. Os sintéticos, por exemplo, vão na contra-mão dessa ideologia. Quando a química é consumida, ela entra no organismo, e nem sempre é totalmente eliminada, acarretando prejuízos à saúde. A revolução industrial, lá do passado, teve o seu mérito, mas eu acho que ela alcançou o seu ápice. Ao mesmo tempo em que a indústria criou produtos fáceis e cômodos, afastou as pessoas da natureza. Isso afetou muito a saúde do ser humano em todo o mundo, e a qualidade de vida caiu.

PO: O meio-ambiente é uma preocupação essencial quando falamos em produtos naturais. Como a ABRAPAN trata essa questão junto aos seus associados?

FRANCIS – Não existe uma empresa que fabrique um produto natural e que não o faça pensando em critérios de conservação do meio-ambiente. Se você tiver que derrubar uma árvore no processo de produção, você não derruba. As pessoas que trabalham nesse setor têm uma ideologia muito forte, e não estragam a natureza. É a partir da natureza que nós existimos. Como é que poderíamos feri-la? A gente não pode deteriorar aquilo que nos alimenta, que nos faz ganhar dinheiro, aquilo que nos faz viver.

PO: O respeito ao meio-ambiente é, por assim dizer, uma exigência fundamental para que uma empresa se associe à ABRAPAN? 

FRANCIS – Sem dúvida. Aliás, a nossa orientação é que as próprias empresas associadas passem adiante essa ideologia aos seus fornecedores. É tudo uma cadeia; todos os níveis devem estar ligados, intimamente. As empresas devem avaliar os seus fornecedores. Se a empresa compra óleo, por exemplo, é importante saber como esse óleo foi extraído. E além disso, além da preservação do meio-ambiente, a empresa associada deve estar de olho também nas condições de trabalho no campo. Não adianta respeitar a natureza e, ao mesmo tempo, explorar mão-de-obra infantil, utilizar trabalho escravo, ou pagar um valor salarial injusto à comunidade rural. 

PO: Vocês já estão com quantos associados no Estado do Rio de Janeiro?

FRANCIS – São doze associados. A grande maioria é composta por empresas do ramo de cosméticos. Esse foco nos cosméticos acabou acontecendo por acaso, mas estamos abertos a outras empresas, como as de alimentos.
A Mãe Terra, uma empresa que trabalha justamente nessa linha, seria o exemplo perfeito.

PO: Fale um pouco sobre o mel e suas potencialidades.

FRANCIS – O mel é um produto bárbaro, mas ele não está se encaixando perfeitamente em nossos preceitos. A gente percebe que há muitas cooperativas produtoras de mel, mas as maiores estão priorizando a exportação. Hoje, exporta-se até mesmo mel a granel. O brasileiro, em si, talvez não tenha cultura de consumir o mel. Talvez não tenha percebido, ainda, os seus benefícios para a saúde. 

PO: Você acha que o mel, então, poderia ser mais bem trabalhado, melhor divulgado? A variedade de marcas no mercado é bem grande.

FRANCIS – Seria interessante fazer um trabalho junto ao setor, com as empresas produtoras, para puxar o mel para o mercado brasileiro. Isso porque, basicamente, quase tudo vai embora para o exterior. O consumidor estrangeiro percebe o benefício do produto. O mel é um alimento mágico.

PO: Quais seriam as ações prioritárias da ABRAPAN para este ano de 2005?

FRANCIS – Nós temos algumas ações voltadas para facilitar a distribuição dos produtos das empresas associadas. Temos alguns projetos em que as empresas participam em comum acordo, para fomentar a distribuição. Como eu te falei, muitas empresas são pequenas, e o país é gigantesco. Unidos, temos mais força, e podemos chegar aonde, sozinhos, nunca chegaríamos. Além disso, existem os projetos de comunicação e de ampliação, não só da ABRAPAN, mas do setor. O setor precisa se comunicar melhor, se vender melhor. 

PO: Como você vê as oportunidades de negócios para as empresas que comercializam produtos naturais?

FRANCIS – O produto natural é uma tendência. Na verdade, eu iria que ele é inevitável, até em função da qualidade de vida do ser humano. O produto natural tem entrado em uma trajetória ascendente. Daqui para frente não dá mais para parar. Cada vez mais, o consumidor vai exigir qualidade, benefícios. Então, essa oportunidade, sinceramente, nenhuma empresa do setor pode perder. 

PO: A ABRAPAN tem projetos para ampliar as exportações?

FRANCIS – Sim, é claro! Os produtos naturais brasileiros são muito bem aceitos lá fora. Brasil tem tudo a ver com natureza. O nosso acesso ao mercado externo é muito rápido e fácil, justamente por sermos brasileiros. O nosso país é modelo de produção natural. Em fevereiro, na Feira de Ontario, o Brasil foi escolhido o país-tema, e não foi por acaso. A nossa oferta está crescendo. Não tem mais como frear isso. O que nós temos que fazer é usar o nosso jogo de cintura para driblar os custos, que acabam realmente inviabilizando o processo. Infelizmente esse é um fardo da economia brasileira, não podemos fazer muita coisa. Agora, você imagina o que é para um expositor brasileiro participar de uma feira no exterior. Os gastos são elevadíssimos, ainda mais quando tudo é pago em euros ou em dólares.

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