Confira a opinião do ator e produtor orgânico Marcos Palmeira sobre a Reforma do Código Florestal.
Percebo na Reforma do Código Florestal uma evolução no discurso ambiental do agronegócio, coisa que já tinha notado nos argumentos de deputados ruralistas.
O problema nessa história é que com o código vigente. Estávamos conseguindo fazer com que os latifundiários começassem a se preocupar com a preservação,mesmo que fosse para não serem multados e, agora, essa preocupação se esvazia, já que eles não estão mais devendo nada.
Em resumo: o novo código é um retrocesso em vários pontos. O discurso é sempre defendendo o pequeno produtor, mas o que não consigo ver são os interesses da agricultura familiar sendo discutidos e nem as questões vitais para se erradicar a fome no Brasil (o que, pra mim, deveria ser prioridade).
As comparações são sempre com os produtores de carne bovina e de frango (cheios de hormônios) e os produtores de milho e soja (muitas vezes transgênicos).
Onde estão nossos alimentos? O feijão, a lentilha, o arroz, o inhame, a mandioca, as verduras os legumes, as frutas, etc. Onde estão?
Não é possível mais se discutir a agricultura no Brasil sem falar no pequeno produtor. Claro que isso vale pra quem está realmente preocupado em acabar com a fome e dar dignidade para quem produz.
Ninguém fala em equilíbrio na propriedade!
E a reforma agrária que não vinga?
É claro que temos que discutir o código florestal, mas eu disse discutir e não nos empurrar goela abaixo uma decisão que ainda não foi amplamente discutida com a sociedade.
Quando se tenta descaracterizar grupos ambientalistas sérios como o Greenpeace e a SOS Mata Atlântica, ONGs que mais se expuseram durante toda essa “discussão”, fica clara a tentativa de se desviar dos verdadeiros problemas: a eterna exploração do homem no campo, o velho discurso de que se
não investirmos numa semente geneticamente modificada não acabaremos com a fome, se não ampliarmos nossas áreas de produção ficaremos para trás na disputa do mercado externo.
Ora, temos tantos problemas internos ligados à alimentação e à preservação, que devemos primeiro resolvê-los para depois pensarmos no vizinho. Temos um grande mercado consumidor!
Também nos esquecemos de dizer que essas sementes modificadas poderão ser a razão do aumento da fome nos próximos anos, uma vez que nossos solos ficarão
mais contaminados, necessitando o produtor adquirir mais agrotóxicos (meu Deus, como é forte essa indústria!).
O que está em jogo não é o alimento, mas sim as divisas de mercado!
Fica claro que enquanto não tivermos um projeto voltado para a agroecologia, não
existirá código florestal que resolva o desequilíbrio.
Na agroecologia, as propriedades buscam o equilíbrio entre preservação e a produção, visando um alimento e/ou um produto mais saudável e uma melhor qualidade de vida de quem produz e de quem consome.
Mas entendo que sem marketing, sem uma grande empresa de insumos por trás, nós produtores agroecológicos ficaremos sempre no nicho de mercado, sendo vistos como sonhadores.
É preciso entender que uma floresta em pé vale muito mais que uma deitada!
Espero que nessa época de eleições possamos encontrar alguém que tenha não só um discurso, mas uma vida voltada para novas formas de economia, colocando o maio ambiente no centro das discussões de uma forma madura.
Alguém que não veja os ambientalistas como pessoas que são contra o “progresso”, alguém que queira discutir essa forma de progresso.
“Progresso pra quem, cara pálida?”
Ninguém é contra o grande produtor, mas ele deve estar inserido nesse processo de preservação ambiental. No compromisso de um produto ético e sustentável!
Vamos cair na real e abraçar essa árvore da vida, que é disso que estamos falando: vida digna para nossos filhos, num Brasil equilibrado e sustentável!
Fica aqui essa reflexão!
Marcos Palmeira
http://www.fazendavaledaspalmeiras.com.br/
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