Brasil deveria seguir o exemplo da China

por Ricardo Sousa *

No final de setembro deste ano, a nação mais populosa do planeta – a China – anunciou a proibição do plantio de arroz e trigo transgênico. A decisão das autoridades chinesas foi baseada no princípio da precaução, devido à falta de estudos conclusivos sobre a segurança dos transgênicos para a saúde e para o próprio meio-ambiente. A preocupação do governo da China assentou-se também no elevado nível de consumo dos dois grãos, por parte da população chinesa.

No mesmo mês, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), criada no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, tomou uma polêmica decisão: a liberação do feijão transgênico – um dos alimentos mais consumidos pelo brasileiro.

A medida surpreendeu consumidores, cientistas e ambientalistas não apenas pela velocidade com que a liberação foi aprovada, mas também pelo posicionamento parcial de membros da CTNBio: quinze dos integrantes, que votaram pela liberação, endossaram um abaixo-assinado, semanas antes da votação, manifestando-se pela aprovação do feijão transgênico.

Como os membros da CTNBio são proibidos, por lei, de antecipar publicamente seus votos, entidades de defesa do consumidor e da saúde, como o Conselho de Segurança Alimentar (Consea), dentre outros, estão reclamando a revogação da liberação, em documento oficial enviado à Presidência da República, devido à falta de estudos conclusivos sobre a segurança do novo produto, e pedindo o afastamento dos membros da CTNBio que anteciparam seus votos.

Importa registrar que nada temos, ideologicamente, contra os transgênicos. Entendemos mesmo que a tecnologia poderá das contribuições à ciência. O que não é razoável é assistirmos ao açodamento de decisões que prescindem de pesquisas e estudos comprovando a segurança dos produtos em análise.

O princípio da precaução está sendo exemplarmente respeitado pela nação mais populosa do planeta, preocupada com sua segurança alimentar. O Brasil deveria seguir o mesmo caminho.

Ricardo Sousa
* Diretor Executivo da Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange)

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