Rogerio Konzen (camisa amarela) presidente da Terra Preservada, e Alvaro Werneck, gerente administrativo do Planeta Orgânico, diante dos armazéns da Terra Preservada.

Rogério Konzen recebeu o Planeta Orgânico em Colombo, Paraná. Rogério conta como a Chácara Verde Viva, de propriedade de seu pai e originalmente de agricultura convencional, tornou-se orgânica e fala também sobre o moderno kit “anti-transgênico” importado, que identifica se há modificação genética na soja. Atualmente, a Terra Preservada, além de exportar seus produtos, os vende também para lojas e supermercados Sonae, Carrefour, Pão de Açúcar, Angeloni e a Casa Santa Luzia.

PO: Como você iniciou seu trabalho com a agricultura orgânica?

RK: Em 85, meu pai morava no interior e tinha a Chácara Verde Vida, que existe até hoje. Ele era agricultor, produzia pelo manejo convencional e a chácara estava passando por dificuldades financeiras. Disse a ele que podia ajudá-lo mas com a condição de tornar-se orgânico. Na época, era estudante de filosofia na faculdade. Começamos, então, plantando hortaliças sem agrotóxicos e vendendo na feira de artesanato do Largo da Ordem em Curitiba. Éramos a única barraca de orgânicos e começamos a vender bastante. Tivemos a ideia de criar uma feira livre só de produtos orgânicos e surgiu a Feira Verde. Em 1993, a Terra Preservada iniciou seus trabalhos, principalmente com exportação.

PO: Explique o funcionamento da cadeia produtiva na comercialização e distribuição.

Armazém da Terra Preservada

RK: Temos mais de mil fornecedores para todas as culturas, sendo cerca de quinhentos somente para soja. Na maioria, pequenos produtores, constituindo uma média de cinco hectares de áreas orgânicas cultivadas por produtor. Compramos os produtos dos agricultores com contrato em que garantimos o pagamento a eles. Ajudamos no transporte da fazenda até nosso armazém em Ponta Grossa, que é um dos maiores do mundo somente para produtos orgânicos. Temos capacidade para armazenamento de 17.000 toneladas em cerca de 9.000m2. Ponta Grossa é um município estrategicamente bem localizado, pois recebemos produtos de outros estados e ele fica numa parte central.

Também temos um armazém com capacidade para 5.000 toneladas em 3.000m2 no município de Capanema, região onde se concentra a maioria de nossos fornecedores.

Nos armazéns, o alimento recebe diversos cuidados, como limpeza, secagem a gás em caso de umidade, separação de grãos por tamanho e embalagem para mercado interno ou em sacas de 900kg para exportação. Temos até um kit “anti-transgênico” importado que identifica se há modificação genética na soja. A mercadoria a ser exportada é colocada dentro de contêiner e levada para o porto. No mercado interno, o transporte é feito por caminhão. Em Colombo, funciona nosso escritório de apoio. Nosso custo para distribuição poderia ser bem mais alto, já que ainda não há produção orgânica em grande volume, comparando com a convencional. Isto não ocorre porque temos uma variedade de mais de vinte alimentos.

 

Rogerio Konzen e produtores da Terra Preservada

PO: E quanto à relação da Terra Preservada com seus produtores?

RK: A Terra Preservada é uma empresa que foca sua atenção na relação com o produtor. Normalmente, temos contato com lideranças em determinadas regiões, que conhecem bem a produção local. Todos os nossos fornecedores são certificados pela IBD, alguns através de um acordo com a AAO para trabalhar também com alguns produtores desta instituição. Receberemos em breve seis inspetores que farão um trabalho de supervisão durante vinte dias. Além do controle das certificadoras, temos nosso controle de qualidade próprio. Por isso, a Terra Preservada precisa estar sempre perto dos produtores. Oferecemos assistência técnica e treinamento a eles.

PO: E quanto à relação da Terra Preservada com seus produtores?

RK: A Terra Preservada é uma empresa que foca sua atenção na relação com o produtor. Normalmente, temos contato com lideranças em determinadas regiões, que conhecem bem a produção local. Todos os nossos fornecedores são certificados pela IBD, alguns através de um acordo com a AAO para trabalhar também com alguns produtores desta instituição. Receberemos em breve seis inspetores que farão um trabalho de supervisão durante vinte dias. Além do controle das certificadoras, temos nosso controle de qualidade próprio. Por isso, a Terra Preservada precisa estar sempre perto dos produtores. Oferecemos assistência técnica e treinamento a eles.

PO: Como você vê a importância da certificação?

RK: A certificação é obrigatória para quem quer exportar. Acredito que o IBD seja a certificadora brasileira mais eficiente pelo seu grau de exigência e reconhecimento internacional. É bom lembrar também que a Terra Preservada foi a segunda brasileira a receber o selo Demeter.

PO: Qual a situação atual do alimento orgânico no mercado brasileiro economicamente e quais as perspectivas de crescimento? Como analisar isso em comparação com o produto convencional?

RK: A produção orgânica tem capacidade para crescer 100% ao ano. É um mercado que não consegue suprir a demanda, portanto, existem oportunidades de mercado, principalmente no sul do Brasil. O orgânico tem capacidade para competir com o convencional economicamente e, a médio ou longo prazo, oferece melhor retorno financeiro. Os Governos deveriam dar maior apoio aos produtores orgânicos, oferecendo a eles melhores condições de crescimento. Ao invés disso, anuncia supersafras, que, na verdade, serve apenas para os políticos se venderem. Acho que os Conselhos Estaduais de agricultura orgânica deveriam ser mais atuantes, denunciando produtores que dizem na embalagem trabalhar sem agrotóxicos, enquanto não temos garantia nenhuma quanto a isso. Existe muita confusão em relação a conceitos como a diferença para o hidropônico, por exemplo, que os Conselhos deveriam esclarecer.

PO: A produção orgânica argentina está melhor organizada que a brasileira?

RK: O Governo argentino oferece mais espaço para produtores em feiras internacionais, por exemplo. A Argentina faz uma propaganda melhor que o Brasil na agropecuária. A única diferença da carne argentina para a gaúcha está no marketing. Além disso, a organização da produção orgânica na Argentina está mais acelerada.

 

Rogerio Konzen e um funcionario da Terra Preservada diante dos sacos para exportação.

PO: Como tem sido o crescimento da Terra Preservada e quais são suas projeções para os próximos anos?

RK: Desde 1993, crescemos 100% ao ano em volume de produção. Em 2000, tivemos um faturamento de R$3 milhões e para 2001 a nossa perspectiva fica entre oito e onze milhões de reais. Temos atualmente cerca de 80% de nossa produção voltada para exportação mas vamos fortalecer nossas vendas no mercado interno. Estamos com a meta de crescer 400% em volume de distribuição no Brasil. Para 2001, pretendemos investir cerca de R$300 mil em equipamentos. Temos 33 funcionários em campo e escritório. Este número dobra entre abril e junho na colheita da soja e milho. Esses resultados são fruto de um investimento em nossa marca, principalmente no exterior, e de um trabalho de bons relacionamentos e cooperação com nossos fornecedores.

PO: Qual a sua opinião sobre os alimentos transgênicos?

Rogerio Konzen com produtores examinando uma plantação de soja

RK: O transgênico é um conceito que não pode trazer benefícios às pessoas porque não surgiu como algo que fosse melhorar a saúde das pessoas. Ele foi criado puramente por objetivos econômicos, visando aumentar a margem de lucro. Não acredito em algumas notícias informando que algumas modificações genéticas poderiam prevenir certas doenças. Quando os agrotóxicos começaram a ser usados, também dizia-se que eles não faziam mal à saúde.Mas acredito que o orgânico tenha ganho força com a discussão sobre os transgênicos pois ele acaba sendo uma garantia de que não sofreu modificação genética.

PO: A pecuária orgânica está ganhando cada vez mais força…

RK: Um dos motivos está no “mal da vaca louca”. A carne orgânica torna-se uma garantia de saúde e higiene. Mas a pecuária orgânica exige muitos investimentos em estrutura, necessitando-se de uma estrutura de beneficiamento frigorífico. Talvez no Mato Grosso existam melhores condições de crescimento. Ou na Argentina, onde há mais campos e melhores condições parasitóides.

PO: Quais produtos a Terra Preservada está trabalhando? Cite alguns de seus compradores.

RK: Temos uma variedade de mais de vinte produtos. Nosso principal produto para exportação atualmente é a soja e derivados (em grão). Um dos melhores lugares no Brasil para plantar soja é em Ponta Grossa (PR). Outros produtos são o amido de mandioca, milho, feijão, polpa de fruta (acerola e maracujá) e açúcar mascavo. Vendemos para supermercados e lojas em seis estados do Brasil, trabalhando com as redes Sonae, Carrefour, Pão de Açúcar, Angeloni e a Casa Santa Luiza. A Terra Preservada é fornecedora exclusiva de soja e derivados da rede inglesa de cosméticos Body Shop com cerca de 1700 lojas pelo mundo. Este ano, também estaremos na maior feira de orgânicos do mundo, a Bio Fach, na Alemanha, expondo nossos produtos.

PO: Como você vê a relação dos produtores orgânicos com os supermercados?

RK: Acho que, por enquanto, os supermercados dependem dos fornecedores, pois temos poucos produtores orgânicos de qualidade e as pessoas estão cada vez mais interessadas em comprar este tipo de alimento. Porém, futuramente os supermercados vão impor maior pressão aos produtores. O preço do orgânico vai cair e as redes vão precisar comprar por preços mais baixos para manter sua margem de lucro. Existem problemas sérios na exposição do alimento orgânico nas gôndolas. As hortaliças ficam misturadas com hidropônicos cheios de agrotóxicos e com alimentos naturais sem garantia de ausência de elementos tóxicos. O prazo para pagamento aos agricultores é muito extenso, passando de sessenta dias em alguns casos.

Restaurante Greenlife em Curitiba

PO: Você também tem um restaurante de alimentos naturais e uma Chácara com sua família…

RK: O restaurante Green Life fica em Curitiba e utilizamos produtos da Terra Preservada e da Chácara Verde Vida, pertencente a minha família. Temos uma loja de produtos orgânicos junto ao restaurante. A Chácara fica num terreno de vinte hectares, onde plantamos hortaliças, cultivamos gado orgânico e temos uma pequena fábrica de tufu. Também vendemos hortaliças na Feira Verde. Minha esposa é gerente do restaurante.

PO: Quem mais de sua família trabalha com você?

RK: Tenho dois irmãos, um gerente comercial interno e outro gerente financeiro. Minha mãe é chefe de cozinha do restaurante Green Life e minha avó vende na Feira Verde.

 

Em vídeo sobre o projeto da Terra Preservada, Rogério Konzen diz:
” Quero agradecer a vocês, agricultores, que são a essência deste processo, pois tiveram a coragem para enfrentar os desafios desta escalada. Mas o nosso trabalho não teria sentido sem os consumidores…são vocês , os consumidores, que nos estimulam e nos fazem acreditar que é possível diminuir o abismo entre sonho e realidade, que é possível ampliar o universo de pessoas plenamente conscientes de sua responsabilidade com a vida na Terra. Só assim manteremos a Terra Preservada.”

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