A empresa argentina Eco Pampa é pioneira na produção pecuária orgânica mundial. O Planeta Orgânico entrevistou seu presidente, Alfredo Villegas Oromí.
PO – Como o senhor iniciou seu trabalho com a pecuária orgânica? |
AVO – Sempre tive uma preocupação com o meio-ambiente e com a qualidade dos alimentos, que devem ser saudáveis para as pessoas. Minha formação acadêmica foi voltada para o cuidado com a natureza e com os produtos saudáveis. Esta vontade ficou muito mais forte aos 22 anos, quando tive um acidente sério com agroquímicos e fiquei internado num hospital. Daí então, jurei que nunca mais trabalharia com agrotóxicos. Em 1978, quando me formei como engenheiro agrônomo, comecei trabalhando com uma empresa agropecuária no norte da Argentina, em Santa Fé. A empresa não usava aditivos químicos enquanto eu trabalhava lá, pois incentivava muito o cultivo ecológico. Eles tinham cerca de 100 mil hectares e 6 mil cabeças de gado. Na verdade, poucas empresas usavam agrotóxicos na Argentina nos anos 70 porque os agricultores não tinham dinheiro para adquiri-los. Os custos dos agrotóxicos estavam muito altos. Em 1994, criei a Eco Pampa, exclusivamente para produção de carne orgânica. Ganhamos naquele ano o Prêmio Empreendedor Agropecuário, importante prêmio argentino promovido pela Secretaria Agropecuária Argentina.
PO – Como era o mercado em 1994? Quanto o senhor produziu naquele ano? |
AVO – Não existia mercado para pecuária orgânica no mundo e nem se conheciam produtores. Havia possibilidades de mercado, mas o volume de compras não seria o suficiente. Preferimos começar trabalhando com o mercado interno para experimentar o interesse do consumidor. Fechamos contrato com um importante supermercado argentino que trabalhava com frango e legumes orgânicos, mas não tinham carne. Passamos a exportar em 1995. Em 1994, iniciamos com uma produção de apenas 60 novilhos por semana.
PO – Existe diferença no conceito do orgânico entre Brasil e Argentina? |
AVO – Existe na forma como ele é conhecido entre as pessoas. Na Argentina o orgânico também é conhecido como “ecológico”. O conceito de orgânico não existia quando me formei em 78. Usava-se somente o termo ecológico.
PO – Como está a Eco Pampa economicamente hoje e quais suas metas para os próximos anos? |
AVO – Em 2000, faturamos 4 milhões de dólares, dois milhões no mercado interno e dois no externo. Dividimos entre mercado interno e externo porque acredito que deva haver integração entre os dois. Exportamos atualmente cerca de 70% de nossa carne. Estamos muito interessados agora em criar alianças estratégicas e prestar consultorias a empresas que desejam trabalhar com a pecuária orgânica para difundirmos no mundo com mais força o conceito ecológico. Acho importante que fique claro entre as pessoas a ideia da sustentabilidade. Precisamos ter maior cuidado com nossas florestas. Existem sérios problemas na Argentina, principalmente na região norte.
PO – A Eco Pampa pretende investir no Brasil? Qual a sua posição diante do mercado brasileiro? |
AVO – Possivelmente, a produção pecuária brasileira atenderá a demanda do seu próprio mercado assim como o argentino cuidará do seu. Cada país tem o seu mercado específico. O brasileiro compra muita picanha, que vendemos para São Paulo. Já o argentino consome muita maminha. Sem dúvida, o mercado brasileiro é muito grande. Poderemos no futuro fornecer determinados cortes mas nosso principal objetivo é trabalhar com alianças. Queremos incentivar produtores a trabalhar com o sistema orgânico e fornecer informações e consultorias a brasileiros que estejam interessados nestas ideias. Tenho dado palestras exatamente para promover isso. Ano passado falei na PUC em Porto Alegre e este ano participarei da Zootec em Goiânia. Ano passado estive na Costa Rica para fornecer assistência técnica a produtores. Nosso interesse nessas alianças é difundir um modo de vida melhor para as pessoas com alimentos saudáveis, conservando o meio-ambiente e pensando no futuro do planeta. Além disso, teremos como consequência trocas de experiências e outras formas de parcerias.
PO – Qual a importância da certificação? |
AVO – A certificação é fundamental para o produto orgânico. É a garantia que o consumidor tem de qualidade. Não pode-se pensar em reconhecimento de mercado sem certificação. Somos certificados pela Argencert e pela OIA – Organização Internacional Agropecuária, ambas reconhecidas pelo órgão europeu IFOAM.
PO – Quais são as raças presentes na fazenda? O gado da Eco Pampa apresenta muitos problemas com doenças? |
AVO – Temos somente gado de ótima qualidade, principalmente os de raça britânica, como o Braford. Não temos muitos problemas neste sentido. O clima na Argentina favorece, diferente do que ocorre nos países de clima tropical. Utilizamos homeopatias no tratamento do gado. Aliás, o Brasil possui ótimos veterinários e produtores de homeopatias.
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