Gustavo Bacchi é paulista de Piracicaba, engenheiro agrônomo formado pela Esalq. Trabalhou com assistência técnica junto a uma Cooperativa produtora de cereais e hoje é inspetor e representante da certificadora BCS Öko-Garantie no Brasil, morando em São Paulo, capital. A BCS é uma empresa privada com sede em Nuremberg, Alemanha, presente em cerca de 45 países. Já certificou mais de 40 mil produtores e 800 empresas processadoras e o selo está presente em 50% dos produtos orgânicos na Alemanha.

PO – Quando surgiu a oportunidade da BCS vir ao Brasil?

GB – A BCS recebeu nos últimos dois anos várias solicitações de empresas brasileiras para receber a certificação mas nenhuma foi concretizada em função dos altos custos relativos ao transporte do inspetor da Alemanha ao Brasil. Então, no ano passado, a BCS decidiu investir no Brasil. Eu já conhecia um dos inspetores, Dr. Bernhard Schulz, responsável pela coordenação dos escritórios da BCS na América Latina e ele me pediu para representá-los no país. Este trabalho de representação é recente, cerca de cinco meses.

PO – E como está a legalização da BCS no Brasil?

GB – A BCS ainda não tem escritório oficial no Brasil. No momento, eu estou representando a matriz alemã. Eu faço a intermediação entre o interessado e a matriz, além da maioria das inspeções, com exceção de determinados casos que exijam um suporte da Alemanha. Mas a idéia é credenciar a BCS também para mercado interno. Já estou participando como convidado das reuniões do órgão colegiado estadual (São Paulo) e espero obter o credenciamento tanto no Estado como no país ainda neste semestre.

PO – A BCS trabalha com parcerias junto a outras certificadoras?

GB – Temos parcerias oficializadas e em operação com cerca de 12 certificadoras no mundo e estamos buscando o mesmo entendimento no Brasil com as certificadoras brasileiras. Nos EUA, por exemplo, temos um acordo com uma certificadora desse país chamada QAI, através do qual a BCS realiza a inspeção e a QAI autoriza o uso do seu selo no produto. As principais diferenças entre as certificadoras européias e as brasileiras estão na adequação das normas à realidade de cada nação, pois as condições climáticas, edáficas, sócio-econômicas, fundiárias e outras são bem diferentes.

PO – Vocês cobram percentuais de venda do produtor?

GB – Não. Trabalhamos com tarifas fixas. Existe um valor para inspeção e análise de dados pelo comitê técnico na Europa. Ocorrendo a aprovação, a certificação é válida por um ano.

PO – Existe uma política de auxílio ao pequeno produtor, que muitas vezes não tem como pagar os custos da certificação?

GB – A BCS tem uma política clara de auxílio ao pequeno produtor. Ela se esforça ao máximo para fazer um preço acessível aos que se encontram em dificuldades financeiras. Existe, por exemplo, certificação coletiva para associações e cooperativas de pequenos agricultores a qual reduz de forma significativa os custos de certificação. Temos como parceiras instituições não-governamentais de apoio ao pequeno produtor. Trabalhamos para a GTZ e para a ProTrade, esta última trabalha com o conceito de mercado justo.

PO – Vocês têm nomes de produtores brasileiros sendo certificados pela BCS atualmente?

GB – A legislação alemã não permite a divulgação de produtores certificados por nenhuma certificadora da Alemanha, por isso não podemos citar nomes. O que posso dizer é que foi concluída, recentemente, a primeira certificação no Brasil de um produtor de hortaliças no Estado de São Paulo. Semana passada concluí quatro inspeções e, em pouco tempo, o trabalho de certificação estará concluído. Para o próximo mês, já tenho três inspeções previstas.

PO – E você não fica com muito trabalho acumulado?

GB – Sei que o trabalho é grande mas, até o momento, tenho atendido a demanda no prazo desejado pelos produtores.

PO – Como você vê a entrada da biotecnologia no mercado mundial?

GB – Acredito que o Brasil deveria adotar uma estratégia semelhante a da Comunidade Européia que está fundamentada na cautela, pois trata-se de um assunto muito polêmico. Mas minha opinião pessoal é a de que as pesquisas com biotecnologia devem continuar, não apenas na busca de novas soluções tecnológicas, mas principalmente no dimensionamento dos impactos ambientais e na saúde humana. A posição oficial da BCS quanto ao uso de transgênicos é a do regulamento europeu, ou seja, a proibição total de sua utilização.


Gustavo Bacchi
BCS Öko-Garantie
tel/fax 55 11 2565497
e-mail gbacchi@terra.com.br

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