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O Alicerce da
Agricultura Agroecológica.
1) A Origem da Domesticação das Espécies Vegetais.
Entre 10.000 e 12.000 anos atrás, não se criavam ambientes agrícolas estritamente controlados como se faz na agricultura de hoje. Os agricultores daquela época cuidavam de certas espécies que ocorriam naturalmente, modificando seus habitats, facilitando sua reprodução, controlando seus competidores e, eventualmente, transferindo-as para locais mais convenientes. A seleção natural ainda tinha um papel importante em tais sistemas, porque a intervenção humana não era suficiente para superar o fato de que as espécies úteis tinham de sobreviver aos rigores do ambiente natural.
À medida que os seres humanos tornaram-se melhores na arte de alterar, manejar e controlar o ambiente no qual ocorriam as plantas úteis, começaram a fazer seleção não intencional de características úteis específicas. Isso iniciou o processo de domesticação. Conforme a domesticação progrediu, a seleção se tornou mais intencional, com os agricultores primitivos escolhendo sementes das plantas com rendimentos mais elevados e mais previsíveis. Ao longo do processo de domesticação o efeito do meio ambiente foi perdendo a importância e a seleção dirigida pelo homem assumiu um papel maior. Por fim, as espécies agrícolas alcançaram um ponto em que sua constituição genética foi alterada a tal ponto que não poderiam mais viver sem a intervenção do homem o exemplo clássico é do milho, no qual todas as sementes germinam de uma só vez na espiga, impedindo que qualquer uma das pequenas plantas se desenvolva. A espécie, portanto, só sobrevive se for plantado pelos agricultores que separam os grãos da espiga e os deposita no solo. Atualmente, as espécies domesticadas dependem dos seres humanos tanto quanto estes dependem das plantas e animais que domesticaram para sobreviverem. A seguir, veremos de que forma ocorre a domesticação das espécies vegetais na agricultura convencional.
2) Sementes na Agricultura Convencional
As plantas cultivadas atuais foram submetidas a muitas pressões de seleção, nas quais foram privilegiados os seguintes aspectos: a otimização do rendimento, o gosto e aparência atraentes, uniformidade genética, resposta rápida à aplicação de água e fertilizantes, facilidade de colheita e processamento e vida mais longa na prateleira dos pontos de venda. Esse processo alterou muito, entre outras coisas, a distribuição do carbono na planta. As espécies modificadas tendem a armazenar a maior parte da energia nos grãos, nos frutos e em outras partes comestíveis, comparativamente às espécies naturais originais, que distribuíam mais uniformemente a energia em todas as suas partes. Consequentemente, menos energia é utilizada pelas plantas domesticadas para uso em características ou comportamentos que lhe confiram resistência ambiental – a capacidade de resistir a estresses, ameaças ou fatores limitantes do ambiente. Muitas dessas características que permitiam às plantas se defenderem de condições ambientais adversas já se perderam durante o processo de seleção induzida pelo ser humano.
Por ter se priorizado o fator produtividade em detrimento de todos as outras características das plantas, atualmente, as principais variedades cultivadas exigem insumos externos na forma de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos (incluindo os herbicidas) e irrigação, para terem o desempenho planejado. Contudo, a lógica que orienta o uso desses insumos externos, além de aumentar a dependência financeira do agricultor, constitui a principal causa dos impactos ambientais que a agricultura convencional gera.
Além disso, é importante ressaltar que a grande maioria das áreas cultiváveis no mundo hoje são semeadas com variedades de sementes híbridas. Tecnicamente, híbridos são o cruzamento de duas variedades diferentes, resultando numa planta com traços de ambas variedades. Plantas híbridas geralmente são maiores e produzem sementes ou frutos maiores, ou têm alguma característica desejável não possuída por nenhum dos pais. Esta resposta, conhecida como vigor híbrido é uma de suas vantagens. Outra é a uniformidade genética: plantas de mesma altura, com grãos e frutos uniformes, com mesma época de maturação e colheita facilitando os tratos culturais. A grande desvantagem ecológica dos híbridos é que as sementes produzidas por estas plantas não podem ser replantadas pelo agricultor, porque a recombinação de genes no cruzamento não irá gerar plantas com o mesmo vigor e características desejáveis dos pais. Ou seja, a cada ano os agricultores são obrigados a comprar sementes híbridas das empresas produtoras de sementes, que não por acaso também dominam o mercado de agrotóxicos ou de fertilizantes.
Em culturas de tubérculos ou com outros mecanismos de reprodução assexuada como a batata e a banana, uma vez que um híbrido é produzido com um conjunto de características desejáveis, ele é, então propagado assexuadamente como um clone. Este método de propagar híbridos sem sementes apesar de amplamente usado, só pode ser desenvolvido por laboratórios especializados que vendem esta muda a um preço relativamente caro para a maioria dos produtores rurais dos países em desenvolvimento.
Seja qual for o meio de reproduzir as plantas gera-se, na agricultura convencional, um verdadeiro “círculo vicioso” de dependência econômica: os agricultores ao comprarem sementes ou mudas de plantas híbridas necessitam adquirir também todo um “pacote tecnológico” da indústria de insumos que inclui produtos como fertilizantes sintéticos e agrotóxicos para que as culturas expressem todo seu potencial.