Sebrae realiza feira agroecológica em Santa Cruz (RN)

O Sebrae no Rio Grande do Norte realizou dia 28 de fevereiro a primeira Feira Agroecológica da cidade de Santa Cruz, na região do Trairi. Somente este mês, já foram promovidas em locais diferentes três desses encontros, que aproximam quem busca alimentação saudável daqueles que produzem sem agredir o meio ambiente.

Em Santa Cruz, são 20 famílias de agricultores que vão levar sua produção para comercialização na Feira Agroecológica, a ser montada no pátio em frente à Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia a partir das 6h. A escolha da data foi proposital, um dia antes da feira tradicional da cidade.

Tudo que é vendido na feira é resultado excedente das unidades do programa Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), implementado através de parceria entre Sebrae, Fundação Banco do Brasil, Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e prefeituras locais. O programa se baseia na racionalização, no respeito ao meio ambiente e no aproveitamento das oportunidades produtivas existentes, fortalecendo os pequenos negócios da agricultura familiar, com disseminação de conceitos de empreendedorismo, gestão e mercado. No caso de Santa Cruz, os produtores da zona rural da cidade recebem consultoria técnica do engenheiro agrônomo Alexandre Amaral, credenciado do Sebrae para atender à região.

Anteriormente, a feira já havia sido promovida em Parelhas. No município, sete produtores comercializaram todos os itens destinados à venda no mercado público da cidade. No dia anterior, iniciativa semelhante ocorreu em Severiano Melo, onde 12 produtores conseguiram vender todos os produtos numa única manhã.

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Araripe pernambucano conta com certificadora de produtos orgânicos

Informações do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Sertão do Araripe, ressaltam que a região araripiana se destaca por possuir grande número de estabelecimentos pertencentes à agricultura familiar. E, em relação à agroecologia, existe um significativo número de experiências que são referenciais no Território, assim como propriedades que estão em fase de transição (agricultura convencional para a agroecológica).

A criação da Associação dos Agricultores e Agricultoras Agroecológicos do Araripe (ECOARARIPE) e seu credenciamento como Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC), do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) vai garantir que os produtos da agricultura familiar agroecológica tenham reconhecimento e selo brasileiro orgânico dos produtos vegetais. O credenciamento permite que a OPAC, emita o selo permitindo que as famílias agricultoras comercializem seus produtos com valor agregado.

Com a recente conquista, centenas de famílias poderão ser beneficiadas na região, a exemplo, dos agricultores do Assentamento Frei Damião, em Santa Cruz que produzem o algodão em consórcio agroecológico e já conseguiram garantir a venda do algodão em pluma para a empresa francesa Veja Fair Trade, que confecciona tênis com matérias-primas orgânicas.

“No nosso caso, o cultivo do algodão é um aprendizado e complemento para a agricultura familiar. Hoje, a comercialização está sendo feita para a Veja e este ano, com as chuvas a gente quer produzir uma safra recorde. Mesmo na seca a gente produziu 720 quilos de pluma, o que tem um  bom significado para o agricultor do Semiárido”, disse o agricultor assentado, Severino Amaro da Silva mais conhecido como Joca.

O credenciamento da EcoAraripe foi autorizada pelo MAPA em dezembro de 2013 com o apoio do Projeto Dom Helder Câmara (PDHC), Caatinga e outros instituições parceiras. A certificadora é formada por onze grupos de comunidades/assentamentos do Araripe/PE.

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Cosméticos Amazônicos: Ingredientes que Brotam das Árvores

João Matos
Consultor em Negócios da Biodiversidade

Claudia Blair
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia

A floresta Amazônica é uma reserva verde capaz de fornecer um sem fim de ingredientes inovadores para a indústria de cosmético, farmacêutica ou de alimentos. Concretizar esse cenário, passa pelo estabelecimento de mecanismos econômicos diferenciados, que integrem governos, empresas e academia, para se alcançar o tão falado Desenvolvimento Sustentável, possível somente com o uso do conhecimento cientifico aplicado para a construção de tecnologias e ações não predatórias.  As populações amazônicas tem conseguido, em alguns casos, este feito, vejamos:

Um problema ambiental transformado num sucesso mundial.

Na década de 70, especificamente no arquipélago das ilhas do Marajó, no Estado do Pará, houve um grande desafio para a sobrevivência da espécie Euterpe oleraceae, conhecida como Açaí.  A comercialização de palmito de açaí, na época, destinada basicamente para o sudeste do Brasil, causou destruição em massa do açaizais nas ilhas, em menos de uma década. Porém, o costume e hábito das populações tradicionais daquela região em consumir a polpa, extraída das sementes, foi decisiva para que o vinho de açaí voltasse a ser o principal produto da espécie, que em alguns anos alcançou sucesso mundial, tornando-se a bebida da moda entre os jovens. A partir de então, a extração do palmito passou a ser autorizada apenas se aplicado o manejo dos açaizais, fato que reduziu o abate indiscriminado das palmeiras e contribuiu para a regeneração da espécie. Atualmente a comercialização do açaí alcança 215.000 toneladas de fruto, promovendo mudanças na vida social e econômica das populações urbanas e ribeirinhas (cerca de 100.000 empregos diretos e indiretos), sem esgotar o recurso natural. Podemos dizer que no Brasil, este produto genuinamente amazônico, causou uma ruptura industrial da rota comercial sul-sudeste, onde a partir da cadeia produtiva organizada e capacitada, o açaí, conquistou o mercado mundial. É comercializado sob diferentes formas de produtos tais como: polpa, sourbet, energético clarificado, cápsulas, açaí em pó, diferentes blends, entre outros. Apesar das dificuldades da região, o açaí alcançou um espaço mercadológico almejado por qualquer seguimento da indústria, porque seu desenvolvimento ocorreu num âmbito empresarial de grande porte (empreendimentos privados), com recursos disponíveis para custear pesquisas. Na Amazônia existe um lista de palmeiras, provavelmente com o mesmo potencial econômico e diferentes aplicações, que significariam para as empresas interessadas, novos projetos com lançamento garantido de muitos produtos até a virada do século, caso fossem investidos hoje, recursos para estudos e desenvolvimento tecnológico em parceira com instituições locais, a exemplo do açaí.

Tecnologia e Inovação

Na Amazônia a geração de empresas Spin-Off, resultado da parceria e transferência de conhecimento entre universidade e setor produtivo, reforça o sucesso do elo entre a ciência e a inovação, mostrando que é possível alcançar grandes mercados tendo como base os ingredientes que brotam da Floresta, como é o caso das empresas Amazongreen no Amazonas e Amazon Dreams no Pará, ambas trabalhando com insumos e desenvolvimento local. Outro tipo de investimento fundamental para alavancar a inovação e tecnologia na região vem do governo brasileiro, como a criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia em Manaus-AM, onde é possível desenvolver, por exemplo, processo biomoleculares para o uso sustentável da biodiversidade, com ações globais integradas aos principais centros de pesquisas e laboratórios públicos e privados, num novo desenho capaz de atender empresas de cosmético de diferentes portes.

Sociedade e Cultura

Da Amazônia brotam mais que produtos, insumos ou ativos, brotam também a essência das populações tradicionais, cuja a maior parte do conhecimento, de seus usos e costumes, envolvendo as espécies nativas, é a base para o sucesso comercial desses produtos. Essa sabedoria popular está em diferentes feiras, vilarejos e beiras de rios, nas cidades distantes onde o comerciante de ervas e folhas ainda põe produtos, à vendas, oriundos de sua própria terra e muitas vezes de sua manipulação caseira. É visto nas mulheres que exibem seus brilhantes e longos cabelos e peles que encobrem a idade, pela leveza e suavidade com que foram cuidadas, graças às misturas formadas com produtos vindos da farmacopéia de seus avós e bisavós, com resultados, que se fossem testados nos melhores laboratórios do mundo, causariam surpresas. A Convenção sobre Diversidade Biológica é o ambiente onde o acesso ao conhecimento tradicional das populações extrativistas, indígenas e agricultura familiar tem sido bastante discutidos, afim de estabelecer reconhecimento e remuneração sócio-econômica deste conhecimento herdado por seus antepassados de forma justa.

Para um assunto tão complexo possivelmente temos o início de um novo tempo, pois, na comunidade Maracá – município de Mazagão- Estado do Amapá, as comunidades receberam apoio do GTA – Grupo de Trabalho Amazônico, que iniciou o Projeto protocolo comunitário para acesso a recursos genéticos e conhecimento tradicional associado, seu uso sustentável, repartição de benefícios e conservação da biodiversidade em comunidades tradicionais, segundo o Presidente da organização, Rubens Gomes, a construção dos protocolos comunitários fará com que haja uma grande inclusão dos povos da floresta, preparando e estruturando-os para um melhor relacionamento comunidade-empresa, promovendo o empoderamento comunitário, domínio das informações disponíveis e, nesse sentido, preparar as comunidades às negociações de acordo com o protocolo da Nagoya.

Uma outra ação com foco no uso da biodiversidade é o Projeto Estruturante de Cosmético que está sendo  executado pelo Sebrae nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, com objetivo de promover a indústria de cosmético de base florestal na Amazônia. A motivação do projeto é que a floresta deixe de ser apenas fornecedora de matéria-prima bruta e através do conhecimento tecnológico, mercadológico e logístico da região, as empresas do setor percebam esta oportunidade de negócio, venham para a região e formem um cluster de cosmético, já que a mesma detém a maior biodiversidade do planeta. O Sebrae conta com um importante parceiro, A Agência de Cooperação Técnica Alemã – GIZ, que possibilitará a transferência de alta tecnologia para a extração de óleos e manteigas de sementes aos técnicos, gestores, micro e pequenas empresas, comunidades, associações e cooperativas, estabelecendo padrões de alta qualidade aos ingredientes, atendendo assim as exigências da indústria mundial de cosmético, farmacêutica e alimentícia.

Além das empresa nacionais, os maiores players mundiais tem identificado o mercado de produtos naturais como uma grande oportunidade de crescimento, afinal beleza e natureza sempre combinaram. Os produtos provenientes da floresta amazônica atendem os padrões e critérios de sustentabilidade e de certificação, sejam orgânica, biotrade ou fair wild, pois, a atividade de coleta deste produto é de baixo impacto ambiental. Espécies como açaí, andiroba, pracaxi, buriti ou babaçu já podem ser encontradas em todo o mundo, porém, continuam esperando suas companheiras da floresta dos baixios, das áreas altas ou de igapós como mucajá, bacuri-pari, bacaba ou buçu, afinal é de lá que todas elas vem, e brotam do mesmo lugar, das árvores.

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Uma Pergunta para Sylvia Wachsner, Coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura)

Sylvia Wachsner, Coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura)

O Brasil está bem posicionado como exportador de produtos orgânicos?

Sylvia Wachsner – Se levarmos em conta que são poucas as empresas que tem a capacidade de colocar no mercado externo quantidades de alimentos, com qualidade, e que, lamentavelmente, continuamos o rumo das exportações convencionais, enviando commodities, posso afirmar que podemos crescer muito mais.

Para elevar o faturamento com as vendas externas, a aposta do setor deveria estar em colocar no mercado produtos com maior valor agregado, que pode ser acrescido com tecnologia, por exemplo. Hoje nós exportamos, mas são as empresas estrangeiras que agregam valor e obtêm lucros maiores que nossos produtores.

Clique no website do Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA: www.ciorganico.agr.br

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