Por José Vitor Bomtempo
Pesquisador associado e Professor e Pesquisador da Pós-graduação da Escola de Quimica/UFRJ
O Green Rio, um evento anual que teve sua primeira edição em 2012, por ocasião da Rio+20, já se tornou tradicional no Rio de Janeiro. Nos últimos anos, o evento ganhou uma nova perspectiva, a de encontro de referência da bioeconomia no Rio de Janeiro. Isso pode ser visto pela programação do Green Rio 2018, realizado nos dias 24, 25 e 26 de maio, na Marina da Glória, Rio de Janeiro. O evento está ocupando duas lacunas importantes na construção da bioeconomia no Brasil.
A primeira lacuna é a quase ausência do Rio de Janeiro no debate e nos eventos relacionados à bioeconomia. Concentrando universidades e centros de pesquisas importantes, o Rio poderia ter uma presença muito mais importante no desenvolvimento da bioeconomia, tanto do ponto de vista nacional quanto regional.
O Rio de Janeiro pode vir a ser um centro de encontros e debates sobre a construção da bioeconomia. Na edição recente do Green Rio, a exemplo do que já tinha ocorrido em 2017, foi realizado um fórum Brasil – Alemanha em que atores chave das inovações em bioeconomia dos dois países tiveram a oportunidade de apresentar e comparar suas visões, abrindo um espaço de discussão para projetos de cooperação. O German Brazilian Bioeconomy Workshop explorou, numa programação paralela e com a presença de experts convidados do Brasil e da Alemanha, três temas centrais da bioeconomia: Phenotyping and plant breeding, Industrial use of renewable resources, Biological pest control. Os resultados dessas discussões bilaterais serão explorados como base para projetos de cooperação entre os dois países em projetos de pesquisa e inovação.
A segunda lacuna refere-se à bioeconomia como vetor de desenvolvimento regional e de oportunidades para os pequenos negócios. Afinal, a saída da crise atual do Rio de Janeiro nos leva a buscar novas oportunidades de desenvolvimento compatíveis com as transformações tecnológicas e sociais que vivemos neste século. A bioeconomia poderia fazer parte desse processo e ser uma fonte de dinamismo econômico, social e ambiental.
A perspectiva da bioeconomia como oportunidade para recuperação do Rio de Janeiro foi explorada numa tese de doutorado defendida recentemente no PPE, Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ. A tese Planning The Transition Of Brazilian Sugarcane Mills To Advanced Biorefineries Using A Methodological Proposal Based On The Industrial Symbiosis Approach, elaborada por Victoria Emilia Neves Santos, explorou como estudo de caso o potencial das biorrefinarias no norte fluminense, região tradicional da cana de açúcar, hoje praticamente estagnada. A tese mostra como as biorrefinarias, elemento central da bioeconomia, podem ser estruturadas, a partir do conceito de simbiose industrial, como uma fonte de dinamismo econômico, social e ambiental. Uma síntese da tese pode ser vista no artigo Biorefining and industrial symbiosis: A proposal for regional development in Brazil.
A bioeconomia como vetor de desenvolvimento regional está fortemente ligada a um tema muito caro ao Green Rio que são as oportunidades para os pequenos negócios. A valorização das oportunidades da bioeconomia para as micro e pequenas empresas é uma perspectiva que o SEBRAE tem procurado valorizar nos últimos anos e que é central no Green Rio. Muitos painéis e iniciativas como o concurso de startups tiveram esse foco no Green Rio 2018.
Se tomarmos como ponto de partida que a bioeconomia envolve a produção e utilização inovadora e sustentável dos recursos biológicos renováveis (biomassas), sem esquecer, como nos adverte a economia circular, da utilização inovadora dos resíduos gerados nos processos, o leque de oportunidades à disposição dos empreendedores é quase inesgotável. Há certamente desafios na estruturação desses negócios. Essa relação entre desafios e oportunidades para os pequenos negócios foi o tema do painel que o nosso GEBio, Grupo de Estudos em Bioeconomia da Escola de Química/UFRJ, apresentou no Green Rio.
Esse painel representou a primeira iniciativa do GEBio para discutir a bioeconomia na perspectiva dos pequenos negócios. Os pontos de partida foram a própria definição de bioeconomia e a identificação das dimensões básicas da estruturação dos negócios inovadores na exploração dos recursos biológicos renováveis: matérias-primas, tecnologia, produtos e modelos de negócios. Essa base conceitual serviu de referência para a discussão de alguns exemplos de oportunidades (e seus desafios) em biogás, cadeia dos plásticos/economia circular, e cosméticos. Por fim, Victor Ferreira, gerente do SEBRAE Nacional, apresentou a linha de atuação do SEBRAE em bioeconomia.
No termo de referência definido pelo SEBRAE para sua atuação em bioeconomia são identificadas oportunidades na extração e produção de matérias-primas e em diversos segmentos industriais: alimentos e bebidas, higiene e cosméticos, bioenergia, indústria têxtil e modas, bioplásticos e embalagens. O SEBRAE Nacional já apoiou 21 projetos em 14 estados, envolvendo 2.608 empresas e recursos de cerca de R$ 12 milhões. Nesses projetos predomina o segmento de alimentos orgânicos. A iniciativa SEBRAE em bioeconomia é recente e apenas uma pequena parte do potencial existente foi explorada. Muitas oportunidades estão à espera das iniciativas dos empreendedores.
Cabe a nós, envolvidos com os estudos em bioeconomia, procurarmos entender esse processo e contribuirmos para caracterizar as oportunidades e os desafios das inovações na utilização dos recursos biológicos renováveis. A participação no Green Rio 2018 trouxe para o GEBio a oportunidade de se aproximar de um novo terreno de estudo e reflexão – os pequenos negócios na bioeconomia. Só temos que saudar o Green Rio como evento de referência em bioeconomia e aguardar o Green Rio 2019!
As apresentações feitas no Green Rio 2018 estão disponíveis aqui.
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