Especial da Sociedade Nacional de Agricultura
Para se criar um sistema global eficiente de alimentos, resiliente e voltado para suprir uma população que deverá atingir 9 bilhões em 2030, as empresas do agronegócio têm como desafio fortalecer suas cadeias de fornecimento e adaptar suas ofertas para atender uma multiplicidade de necessidades sem precedentes. Essas demandas, que incluem desde questões como segurança alimentar e nutrição básica das populações de baixa renda à capacidade de lidar com os desejos e prioridades dos consumidores nos mercados desenvolvidos, foram debatidas em seminário na sede da Sociedade Nacional de Agricultura, na quinta (14). Na ocasião, entidades e companhias do agro mostraram o que vêm criando nas áreas de tecnologia e inovação em busca de soluções com foco no desenvolvimento sustentável. O evento foi realizado em parceria com o Green Rio.
Representantes da Good Food Institute, Fazenda Urbana, Sebrae-RJ, GR Agrária, Mapa, CI Orgânicos, EMBRAPA Solos, SENAI, SICOOB Fluminense, CONAB, Banco do Brasil e Agrosuisse estiveram presentes e articularam sobre possíveis ações e parcerias para colaborar com o crescimento do agronegócio no contexto da economia.
Com mediação do vice-presidente da SNA Helio Sirimarco, o painel que abriu o evento, “Empreendedorismo e tecnologias no agronegócio sustentável”, teve como um dos convidados o Assessor de Política da Good Food Institute, Alexandre Cabral. Ele revelou como funciona a organização sem fins lucrativos, sediada nos EUA, que promove carne, laticínios e ovos à base de vegetais, bem como carne limpa e alternativas aos produtos da agricultura convencional. “Defendemos substitutos mais sustentáveis para carne, leite e ovos. Nós não queremos criar uma cadeia que vá substituir o agronegócio, mas sim promover um perfil de pessoas flexitarianas saudáveis”, disse.
O fundador e CEO da Fazenda Urbana, Tom Oberlin, comentou como a empresa elaborou um sistema de desenvolver microverdes, que quando embalados em seu substrato mantêm todas as propriedades do alimento até o momento do consumo. “Nossa produção não precisa de fertilizantes. Não usamos pesticidas ou fungicidas, há a redução de 95% no uso de água e não degrada a Terra, devido ao uso de substrato natural”, revelou Oberlin.
Cezar Kirszenblatt, Gerente de Conhecimento e Competitividade na Sebrae/RJ, traçou o perfil do produtor orgânico e defendeu a ideia de que “o Rio é uma cidade agrícola”, utilizando como exemplo as regiões de Guaratiba, Campo Grande e Santa Cruz.
O participante também defendeu que “empreendedores precisam acolher a ideia de consumir produtos e serviços de forma consciente” como forma de contribuir para o setor. Para ele, “a questão financeira ainda é o principal impeditivo para adesão aos comportamentos conscientes”, devido a custos altos mesmo nas camadas sociais de mais escolaridade e renda.
Ao falar de inovação, Cezar apresentou o projeto do Sebrae/RJ em parceria com a Danone, com apoio do fundo de investimentos Livelihoods, que trabalha na conservação da água e no desenvolvimento econômico sustentável em área rural na Baixada Fluminense.
O Gerente de Conhecimento e Competitividade na Sebrae/RJ demonstrou positivismo em relação à tecnologia no agronegócio. “A tecnologia de drones vem para somar à vida do agricultor e facilitar a plantação, além de cada vez mais existirem softwares acessíveis a eles e a internet das coisas.”
Já Guilherme Sá, representante da GR Agrária no evento, contou como a empresa aperfeiçoou a milenar prática da compostagem. “Começamos a produzir fertilizante orgânico, primário no Brasil, onde a base da fermentação é o sangue bovino”, disse.
Fernando Silveira Camargo, secretário de Inovação do Mapa, encerrou o primeiro painel com a notícia de que o órgão pretende criar um Fórum de Inovação do Agro e realizar pequenos eventos regionais que possam levar informação às pessoas envolvidas no setor.
O segundo painel, “Green Rio e SNA na promoção da economia verde”, teve a participação da Coordenadora do CI Orgânicos, Sylvia Wachsner, que falou sobre novas tecnologias no agro como drones, apps e startups, que auxiliam no incremento da produtividade. “A agricultura está mudando e áreas novas no setor estão surgindo para que os jovens possam se especializar”, comentou.
A Coordenadora do Green Rio, Maria Beatriz Costa, também participou do painel e definiu a bioeconomia como “uma economia sem petróleo”. A também diretora do Planeta Orgânico se aprofundou no tema, explicou meios de como se fazer um crescimento econômico sustentável e afirmou que “o Brasil tem tudo para ser o maior player de bioeconomia do mundo”. Por fim, Beatriz convidou os participantes para a nova edição do Green Rio, que acontece nos dias 23 a 25 de maio, na Marina da Glória, e iniciou o terceiro quadro do evento sobre “Inovação e ganho de escala em produção sustentável”.
O pesquisador da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro, falou sobre a importância do programa Pronasolos, que pretende mapear o território brasileiro e gerar dados com diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, auxiliar gestão territorial, embasar agricultura de precisão e apoiar decisões de concessão do crédito agrícola, entre muitas outras aplicações. “O Brasil é um país que depende do solo e da água para produzir alimentos”, diz Polidoro, que ressalta que “o programa é um passo importante para o futuro do agro, pois o Brasil passa a ter uma estratégia de 30 anos para levantamento do uso dos solos”.
Paulo Coutinho, gerente do Instituto de Inovação em Biossintéticos do SENAI, abordou a bioeconomia na indústria química e colocou em questão a forma com que a sustentabilidade é recebida no país. “Consumidores não pagam mais por produtos sustentáveis”, comentou. Ele afirmou que “tecnologias do futuro chegam para produzir mais por menos, através da intensificação de processos, nano e biotecnologia, indústria 5.0, manufatura e conexão”.
Coutinho acrescentou que o Instituto Senai tem infraestrutura única no país com biolector, síntese de DNA, robôs e microreatores, entre outros elementos, e revelou que em breve uma nova instalação da entidade ocupará o Parque Tecnológico da UFRJ. “Precisamos criar cadeias produtivas e crescer na agregação de valor.”
Milton Ribeiro, diretor-presidente da SICOOB Fluminense, ressaltou a importância de uma instituição financeira corporativa para o desenvolvimento regional local. Segundo ele, “o problema do agricultor está na hora de dar garantias”. “O dinheiro tem que entrar no ciclo produtivo”, defendeu. Desta forma, a Sicoob pretende atender às necessidades do pequeno, do médio e do grande produtor rural, oferecendo apoio para custear todas as etapas de sua produção, com várias opções de crédito e repasses, além de uma linha de financiamento próprio.
Newton Araújo Silva, diretor-presidente da CONAB, apresentou detalhes do Prohort (Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro), que “possui uma série de informações que ajudam o produtor familiar” e tem por finalidade contribuir para o desenvolvimento e a modernização do setor hortigranjeiro nacional, proporcionando maior interação entre os diversos agentes governamentais envolvidos no setor e os integrantes da cadeia de produção e distribuição. O programa, executado pela Conab, busca também a melhoria e ampliação das funções dos mercados atacadistas.
Ivandré Montiel da Silva, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, mostrou como a instituição contribui para o agronegócio e sustentabilidade. “Com economia verde, o BB aplica R$ 193 bilhões em energias renováveis, agricultura sustentável, água, pesca, floresta, eficiência energética e etc.”
O vice-presidente também falou sobre o aplicativo Agrobot, consultor virtual inteligente, criado pelo BB, para auxiliar o produtor rural no processo de tomada de decisão sobre seu ciclo produtivo. Segundo ele, o app combina a expertise do banco no setor do agronegócio, com informações de mercado e clima, para que os produtores otimizem os resultados de sua produção. Está disponível para smartphones Android e iOS.
O sócio-diretor da Agrosuisse, Fábio Ramos, encerrou o seminário. O empresário falou das soluções em consultoria que a companhia oferece para a agropecuária, agroindústria e desenvolvimento rural.
Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura
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