Aline Araújo, gerente de marketing da Indigo. Foto: Divulgação.

 

O Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânios) da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) promoveu na última quinta-feira (23/5), na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, um debate sobre bioinsumos e agricultura sustentável. O evento integrou a programação da Conferência Green Rio.

Com mediação de Sylvia Wachsner, coordenadora do CI Orgânicos, o painel teve a participação de representantes da Indigo, ABCBio, Korin Agricultura e Meio Ambiente, Embrapa Agrobiologia, GR Agrária e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

“A agricultura não pode ser mais vista somente como responsável pela produção de enormes volumes de alimentos. Uma produção com sustentabilidade pode ser, para os produtores, uma das maneiras de capturar valor e também um diferencial frente aos concorrentes”, disse Sylvia.

Desafios

A gerente de marketing da Indigo, Aline Araújo, apresentou o case da empresa e falou sobre os desafios do produtor rural que, segundo ela, dependem cada vez mais da ajuda da tecnologia. Aline destacou a necessidade de se produzir mais no mesmo metro quadrado, buscar eficiência, alimentar uma população cada vez maior e entregar ao consumidor a qualidade que ele exige dos produtos.

“A Indigo está desafiando a indústria tradicional, canalizando e acelerando as novas tecnologias digitais no agro. A missão é aumentar a rentabilidade do produtor, incentivar o cultivo de forma sustentável e entregar um alimento de melhor qualidade ao consumidor final”, disse a gerente de marketing.

A cadeia de TV norte-americana CNBC nomeou a Indigo AG a número um entre as empresas mais disruptivas do mundo. Avaliada em 3,5 bilhões de dólares, utiliza microrganismos que elevam a produtividade das lavouras, ao mesmo tempo em que protegem e fortificam as plantas contra o estresse, insetos, doenças e mudanças climáticas. A partir de recursos de Big Data e Inteligência Artificial, a empresa acelera a pesquisa e objetiva a descomoditização da produção.

Controle biológico

 

Amália Borsari, diretora executiva da ABCBio. Foto: Divulgação

 

Amália Borsari, diretora executiva da ABCBio – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, mostrou como a instituição promove e estimula o controle biológico como técnica avançada e eficiente, composta por produtos que são menos agressivos ao meio ambiente, ao homem e animais, e proporcionam maior produtividade ao agricultor.

Entre o fim de 2017 e o início de 2018, a ABCBio realizou uma pesquisa para averiguar a percepção dos produtores brasileiros em relação aos bioinsumos. Mais de 1700 foram entrevistados, em 15 estados e em 11 culturas.

“O fato que nos assustou foi em relação ao conhecimento do uso de biodefensivos. 43% dos produtores entrevistados nunca ouviram falar de biodefensivos, bionsumos e produtos fitossanitários para a defesa vegetal. E desses 57% que conhecem, apenas 39% utilizavam. Entretanto, dos que utilizaram na safra 2017/2018, 98% pretendem usar novamente, ou seja, há uma satisfação em relação ao que o produto oferece”, afirmou Borsari.

A diretora falou sobre a importância de o produtor estar atento à utilização dos chamados inimigos naturais, uma vez que estes organismos contribuem para o controle biológico de pragas em determinados cultivos.

O controle biológico é uma opção segura em relação à utilização de inseticidas e agrotóxicos, que poluem o solo e prejudicam a saúde do trabalhador rural e dos consumidores dos produtos. A técnica de utilização de inimigos naturais se dá por meio do uso de organismos vivos presentes na natureza. “O inimigo natural tem de ser inimigo da praga e não do ser humano e do meio ambiente”, disse a CEO da ABCBio.

Agricultura natural

 

Luiz Demattê, CEO da Korin Agricultura e Meio Ambiente. Foto: Divulgação.

 

A Korin Agricultura e Meio Ambiente também participou dos debates. Empresa brasileira, fundada em 1994, possui visão empresarial baseada na filosofia e no método de agricultura natural de Mokiti Okada, que privilegia o equilíbrio entre preservação e uso dos recursos naturais.

Luiz Demattê, CEO da empresa, explicou como são realizados estudos que resultam no desenvolvimento de produtos por meio de tecnologias sustentáveis, como o frango livre de antibióticos. “O animal é o resultado do ambiente em que ele está e dos alimentos que ele come. E isso resulta no equilíbrio do seu microbioma e do trato gastrointestinal. Com base nessas experiências, nós desenvolvemos essas tecnologias”, disse.

Para a Korin, “um produto sustentável é aquele que origina-se de uma cadeia produtiva que preserva o meio ambiente, é livre de insumos químicos e valoriza o trabalho e a saúde de todos os envolvidos, desde o campo até os grandes centros urbanos”.

Demattê também falou sobre a relação dos bioinsumos com o autismo em crianças. “Em pacientes autistas, a literatura mostra claramente que eles perdem a diversidade microbiológica do sistema gastrointestinal.” Desta forma, com a ampliação da agricultura biológica, é possível refletir como os bioinsumos poderão ajudá-las no futuro.

Insegurança alimentar

 

Mariella Uzeda, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia. Foto: Divulgação

 

Mariella Uzeda, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, ressaltou a relevância da agricultura familiar no agronegócio e a importância de os bioinsumos chegarem às mãos dos produtores. Segundo ela, “se existisse apenas a agricultura familiar no Brasil, o país ainda estaria como oitavo produtor de alimentos do mundo.”

A pesquisadora também chamou a atenção para o fato de o Brasil ser o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo – desde 2008 – e a população estar perdendo sua tradição alimentar, muitas vezes como consequência de maior produtividade por área.

Uzeda revelou dados de que a aproximadamente 50% das famílias rurais no mundo e 37% das brasileiras vivem com insegurança alimentar. Para ela, o desafio da Embrapa para os próximos anos é garantir segurança e resiliência por meio de serviços ecossistêmicos.

Reciclagem

 

Guilherme Ribeiro, consultor da GR Agrária. Foto: Divulgação

 

Também presente ao painel, a GR Agrária atua na reciclagem dos resíduos originários do abate de bovinos.

A unidade de triagem e compostagem transforma resíduos de abate animal, principalmente sanguebovino e restos de podas urbanas, num fertilizante orgânico composto Classe A, utilizado para a recuperação dos solos degradados e para restaurar o equilíbrio biológico do solo. Este fertilizante é usado na fruticultura e na produção de grãos como café, feijão e milho.

O consultor da empresa, Guilherme Ribeiro, explicou como a entidade reciclou 5 mil toneladas de resíduos destinados corretamente, entre eles, 1,7 mil toneladas de sangue bovino, 1,5 mil toneladas de frutas, legumes e verduras, 300 mil kg de rumem, 700 mil kg de maravalha, 100 mil kg de cinza de caldeira e 250 mil kg de cama de cavalo.

 

Guilherme Sá, representante técnico da GR Agrária. Foto: Divulgação

 

“Em 2018, a gente recolheu e tratou estes resíduos que iriam para os lixões contaminar o meio ambiente, caso não houvesse a destinação correta. Transformando o lixo em fertilizante orgânico, num bioinsumo, conseguimos devolver essa matéria para a natureza e de forma responsável”, comentou Ribeiro.

O responsável técnico da GR Agrária, Guilherme Sá, falou sobre o desperdício durante a rotina alimentar dos brasileiros. “Se a gente for contabilizar toda a perda, desde o campo até a lixeira de nossa casa, em alguns casos, o que se desperdiça é mais do que se usa. Se o próprio consumidor fica super exigente na aparência de um vegetal, por exemplo, estamos provocando um desperdício muito grande.”

Neste contexto, Sá citou como exemplo o maracujá, que costuma ser rejeitado por sua aparência, mesmo em bom estado. “O maracujá é exigido pelo consumidor com aparência perfeita. Sabemos que o maracujá murcho é melhor e mais gostoso e que ninguém compra pois não tem valor de mercado.”

Para finalizar, o especialista apresentou o resultado de uma pesquisa realizada pela Embrapa, em 2018, onde 1.764 famílias brasileiras de diferentes classes sociais foram entrevistadas. Na ocasião, foram avaliados quais são os alimentos mais desperdiçados em casa. O ranking mostrou o arroz em primeiro lugar (22%), carne bovina em segundo (20%), feijão em terceiro (16%) e frango em quarto (15%).

Programa nacional de insumos

 

Mariane Vidal, pesquisadora da Embrapa. Foto: Divulgação.

 

A pesquisadora da Embrapa, Mariane Vidal, falou sobre o Programa Nacional de Insumos para a Agricultura Orgânica, que está sendo elaborado no âmbito do Ministério da Agricultura e que tem por objetivo sistematizar, fomentar e disponibilizar para a sociedade serviços, tecnologias, produtos e processos relacionados ao bioinsumo para a agropecuária. A iniciativa seleciona eixos e estrutura linhas de ação para cada um deles.

Neste caso, são considerados eixos: bioestimulantes; produtos fitossanitários, veterinários, de fertilidade e nutrição do solo e planta; microorganismos; sementes; produtos de nutrição animal; parte de genética animal e produtos de pós-colheita e processamento de origem animal e vegetal.

“Estamos na construção da proposta do que é o Programa Nacional de Insumos para a Agricultura Orgânica, para que todo o processo que for feito com as peculiaridades relativas à agricultura orgânica possam se expandir para todos os outros sistemas produtivos”, disse Vidal. “Nós não temos dúvidas que os ativos biológicos fazem parte do novo paradigma da agricultura e da pecuária brasileira”, concluiu.

A representante da Embrapa revelou que quatro secretarias já trabalham no processo de produção do programa: as de Inovação, Defesa Agropecuária, Agricultura Familiar e Política Agrícola.

Fonte: SNA

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