Aroeira1*, L. J. M.; Pires1, M. A. F.; Morenz2, M. J. F.; Macedo3, R.; Fernandes1, E. N. Paciullo, D. S. C3.
1. Embrapa Gado de Leite, Rua Eugênio do Nascimento, 610,36038-330 Juiz de Fora, MG – Brasil. laroeira@cnpgl.embrapa.br e fatinha@cnpgl.embrapa.br
2. FAPEMIG/Embrapa Gado de Leite. mirtonmorenz@yahoo.com.br
3. CNPq/Embrapa Gado de Leite. robertmacedo1@yahoo.com.br, dscp@terra.com.br
Introdução:
Apesar de possuir uma das mais extensas áreas do mundo, dedicada à agricultura orgânica, a produção de “leite orgânico” ainda é insipiente, não chegando a 0,1% da produção brasileira. Diferentes fatores contribuem para esta pequena produção. A lei que caracteriza a agricultura orgânica nacional, só foi sancionada em novembro de 2003. Além do mais, pode ser citada a carência de pesquisas enfocando a alimentação, o padrão racial e os cuidados sanitários do rebanho, especialmente, no que diz respeito ao controle de carrapatos e ao tratamento das mastites (Aroeira et al., 2001). Entretanto, acredita-se em um incremento da produção orgânica de leite, devido às tendências atuais ligadas à preservação ambiental e à demanda do mercado externo. Baseado nesta crescente demanda e num mercado mundial que movimentou no ano de 2004, cerca de 26,5 bilhões de dólares, o incentivo à produção orgânica consiste em umas das metas prioritárias do governo brasileiro (Revista ISTOÈ, 2005)
O objetivo deste trabalho foi de conhecer o estado da arte da produção orgânica de leite em diferentes regiões do Brasil, a partir da aplicação de questionários, em propriedades certificadas ou em processo de conversão.
Material e Métodos
Na Região Nordeste, foram identificadas três propriedades certificadas, na Região Centro-Oeste, uma propriedade certificada e na Região Sudeste, foram visitadas seis propriedades, sendo quatro certificadas e duas em processo de conversão. A entrevista com o produtor consistiu em levantar informações sobre as características da propriedade (nome, localização, área total e área destinada à pecuária leiteira), características do produtor e da família (nome, grau de instrução, tempo de dedicação à atividade, participação familiar), característica da atividade leiteira (raça e número de animais, produção, destino e preço do leite comercializado, alimentação e controle sanitário do rebanho, diversificação da atividade e qual o grau de conhecimento do proprietário em relação à produção orgânica de leite).
Resultados e Discussão:
A propriedade de produção orgânica de leite possui em média de 325 ha de área total, sendo desta 138 ha, dedicados à atividade leiteira. A idade do proprietário é em média 49 anos, 67% têm nível de instrução superior, 33% nível de instrução primário e secundário. Dedicam-se há 4,5 anos à atividade e 50% das esposas participam do trabalho, geralmente fabricando algum tipo de derivado do leite. Todas as propriedades fazem controle zootécnico. O rebanho é constituído de 41 vacas em lactação, 35 vacas secas, 44 bezerros de zero a dois anos, 42 novilhas de mais de 24 meses, e dois touros. Cerca de 60% dos animais são mestiços Europeu x Zebu e 40% constituídos de animais Zebu. A média da produção por vaca é de 9,2 kg/dia durante a época das chuvas e de 8,2 kg/dia na seca. Em metade das propriedades é feita apenas uma ordenha diária e na outra, duas vezes ao dia. Em 50% dos casos o tipo de ordenha é mecanizada, mas sempre com o bezerro ao pé. O tanque de expansão ou resfriador são utilizados em 70% das propriedades e a maior parte do leite é vendida para as cooperativas, embora 40% deste seja vendido diretamente para o consumidor, em feiras ou entregue em domicílio.
A alimentação dos animais baseia-se em pastagens de Brachiaria spp, com exceção das propriedades do Nordeste, onde o capim buffel (Cenchrus ciliaris) e Urochloa spp são mais utilizados. As gramíneas, Setaria ssp e Pannicum spp (cv. Mombaça e Tanzânia), são, também, usadas em muitas propriedades. Em 90% destas o manejo das pastagens é rotativo. Na época da seca os volumosos mais utilizados são: capim-napier (Pennisetum purpureum), cana-de-açúcar e silagem de sorgo. No Nordeste, utiliza-se a palma forrageira (Opuntia indica). Em cerca de 40% das propriedades, leguminosas são empregadas na alimentação, tais como: Cajanus cajan,
Calopogonium muconoides, Pueraria phaseoloides, Arachis pintoi, Leucaena leucocephala e Gliricidia sepium.
O concentrado mais utilizado é o farelo de soja, de algodão, de milho ou de trigo, adquirido de fontes convencionais.
As principais vacinas (aftosa e brucelose) são utilizadas. Os medicamentos mais adquiridos são produtos homeopáticos (fatores preventivos de carrapatos e mastites “nosódios”). A incidência de carrapatos é baixa e as práticas utilizadas na ordenha consistem nas recomendações de higienização das tetas e no emprego da caneca telada, para detecção de mastites. A incidência da doença é baixa, segundo o relato de 100% dos proprietários. Quanto ao manejo reprodutivo, 70% dos proprietários adotam a inseminação artificial, enquanto 30% empregam a monta natural controlada.
A diversificação da renda se dá a partir de atividades de recria e engorda, piscicultura, avicultura de corte e produção de verduras. Entretanto, a renda do leite representa em média 40% da receita total da propriedade. O leite produzido de forma orgânica (certificado) alcança até três vezes o valor do produto convencional, vendido diretamente ao consumidor. Quando vendido a cooperativas/laticínios, o produto é comercializado com 50% de acréscimo em relação ao valor do convencional. O produtor orgânico, de um modo geral, procura assistência técnica especializada, se atualiza consultando publicações específicas da área, e seus conhecimentos sobre as normas para a produção orgânica de leite são bastante satisfatórios.
A alimentação e a genética do rebanho, assim como os cuidados sanitários com relação ao combate de carrapatos e controle das mastites, consistem, para a maioria dos produtores, os principais problemas da produção orgânica de leite.
Conclusões:
Apesar da baixa produção atual, acredita-se na perspectiva de incremento, baseando-se numa demanda em crescimento. Os resultados de pesquisa referentes à alimentação e genética do rebanho, bem como aos cuidados sanitários (combate aos carrapatos e prevenção de mastites) poderão contribuir para o aumento da produção orgânica de leite.
Bibliografia citada
AROEIRA, L. J. M.; CARNEIRO, J. C. ; PACIULLO, D. S. C. ; Fernandes, E. N.; XAVIER, D. ; Furlong, J ; ALVIM, M. J. . Tecnologias para produção orgânica de leite. In: Madalena, F. E., Matos, L. L., Holanda Jr, E. V. (Org.). Produção de Leite e Sociedade. Belo Horizonte, 2001, p. 435-449.
ISTOÉ 1847-09/03/2005. Ciência, tecnologia e meio ambiente, p. 92-94, 2005.