Interferência do Processo Científico no Desenvolvimento Agropecuário da Região da Campanha, RS, Brasil
Jaime Quintanilha Gomes
e-mail jaimeqg@urcamp.tche.br
Trabalho publicado em 19/04/02
1) INTRODUÇÃO
“Ou a humanidade se deixa conduzir à dilaceração definitiva, na direta linha do apogeu capitalista, ou tomará afinal o rumo da justiça e da dignidade, seguindo o luminoso caminho traçado pela sabedoria clássica. Não há terceira via”. Com esta afirmativa, pode-se perceber o grau de correlação entre a busca insidiosa e imediatista do modelo de produção agropecuário amplamente adotado e estimulado por interesses públicos(de ordem cientificamente externos aos princípios, quer sejam políticos, econômicos ou sociais, como a falta de uma política agrícola para exemplificar o que foi dito), e principalmente, por mega-instituições privadas. Corrobora a este raciocínio a aceitação inconseqüente deste processo pelos setores ligados à produção primária, ou seja, pelos responsáveis diretos pela produção dos alimentos essenciais à manutenção e desenvolvimento da humanidade.
Para muitos, que já visualizam uma alternativa para os seus modelos de produção devido a insustentabilidade estabelecida e comprovada ao longo dos anos pelo modelo anterior, Voisin foi o grande idealizador do método do Pastoreio Rotativo Racional. Mas muitos também esquecem que nos primórdios da civilização o homem já trabalhava os seus rebanhos baseado em ‘cuidados de pastoreio’, levando sempre em consideração e segundo várias das suas necessidades como: a segurança, o clima, e principalmente, a preservação do solo, pois já admitia ser deste último uma grande porcentagem da sua segurança alimentar. Voisin, sim, teve desta forma, a felicidade de sistematizar este processo através das suas observações e defini-lo conforme os fenômenos verificados fossem naturalmente ocorrendo. Escrevendo assim, os fundamentos universais de um Pastoreio Rotativo Racional, aceito hoje pela Academia.
Porém, dentro do processo produtivo existem alguns problemas, e dentre os quais, o da relutância verificado em algumas classes produtoras rurais em transitar para um modelo alternativo e agroecológico adequado aos seus ecossistemas. Durante a chamada ‘transição agroecológica’, reside um fenômeno que pode ser considerado significativo. Tal acontecimento consiste em que a as referidas classes, perseverem em basearem-se em dados e argumentos de instituições de investigação científica que não satisfaçam as exigências da Academia, mas que contém um outro quesito considerado (dentro de algum outro padrão) mais importante, que vem a ser: a vaidade.
2) OBJETIVO
Alertar para o descaso da sociedade brasileira em relação ao nível e ao método de escolha das pesquisas desenvolvidas pelas instituições oficializadas, bem como do despreparo das mesmas em relação ao consentimento e ao retroalimento de seus conceitos e princípios.
3) MARCO CONCEPTUAL
Para Voisin, existe um ‘porque’ responsável pela concepção errônea ao longo dos tempos sobre o fundamento do pastoreio rotativo racional. Segundo ele, no princípio do século XVIII, o método não foi desenvolvido suficientemente. Portanto, isto pode ter determinado o tratamento dispensado a esse sistema de manejo até a atualidade, pois ainda existem pesquisas relativas ao tema que são desenvolvidas com a mesma insuficiência técnica constatada nos séculos anteriores. Buscando a resposta a esta questão, Voisin percebe assim como outros, o vício que impede o desenvolvimento deste sistema, ou seja, não se considerava em absoluto a variação dos tempos de repouso das parcelas. Durante muito tempo, e ainda hoje, segue-se crendo que o pastoreio rotativo racional consiste em dividir o pasto em um número mais ou menos elevado de parcelas, e depois em deslocar o rebanho de uma parcela para outra. Esquece-se de que deverá ocorrer um “retorno”, e sobre tudo, o tempo que devia transcorrer antes deste retorno, assim como a necessidade de variar este tempo, de acordo com as estações.
Da mesma forma, existe um equívoco na produção e no desenvolvimento de tecnologias para a fruticultura no Brasil e principalmente na Região da Campanha, que atualmente atravessa uma crise econômica e social por não estar considerando que há a necessidade de transição do modelo de desenvolvimento no que tange a produção agropecuária. Em “Alternativa Ecológica para a Alternativa Convencional” aparece parte de uma justificativa para com a disseminação de um novo enfoque para uma nova classe de produtores rurais com vistas a salvar um ecossistema da introdução de um ‘pacote tecnológico’ subsidiado por empresas alienígenas da micro região da Campanha. Mais propriamente, inserir a concepção da possibilidade para a produção de uma variedade ecologicamente correta, socialmente justa, e portanto, sustentável ao propor sua viabilidade para as futuras gerações que venham possivelmente explorar este ecossistema natural.
4) CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de construção de um novo paradigma que envolva diretamente, ou melhor, que parta do setor primário está vinculado à sustentabilidade. Existem várias alternativas disponíveis nas prateleiras da ciência. Adentramos numa fase de considerarmos em maior número e em maior freqüência, sobre a inter-relação e sinergia das disciplinas científicas. Ultimamente, por necessidade, evidentemente, questões de caráter social e ambiental tomam a dianteira quando da construção de um projeto científico. Vai-se desta forma, interagindo e percebendo as conexões existentes e formadoras do ‘processo’. Um redimensionamento nas informações e critérios de adoção de trabalhos científicos para serventia da humanidade, é questão prioritária da comunidade científica e também responsabilidade da sociedade em geral, visto que a ciência existe para a humanidade. Visto que a ciência faz parte de um conhecimento da humanidade. E visto também, que a ciência não é e não pode ser excludente e elitista.
5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Anderson, J. Essays relating to agriculture and rural affairs. Londres, 4ª Edição. Londres, 1797.
2. Arquivo capturado dia 23/01/2002 http://www.planetaorganico.agropecuaria.ws
3. Comparato, F.K. A humanidade no século XXI: a grande opção. IN: FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2001 (2001: Porto Alegre) Biblioteca das Alternativas. Artigo publicado na revista Praga nº09, junho de 2000
4. Costabeber, J. A. Acción colectiva y procesos de transición agroecológica en Rio Grande do Sul, Brasil. Córdoba, España, 1998. 434p. Tese de Doutoramento – Instituto de Sociologia y Estudios Campesinos, Universidad de Córdoba, España, 1998.
5. Voisin, A. Productividad de la hierba. Madrid, Editorial Tecnos, S.A. 1967.
Fábio Konder Comparato
Baseados em pacotes tecnológicos muito estimulados a partir da Revolução Verde.
Costabeber, 1998.
Anderson, James 1797.
Artigo Jaime Quintanilha Gomes