Os tempos mudaram. Não há mais setor da economia que possa permanecer indiferente à questão da sustentabilidade. É cada vez mais evidente que qualquer atividade humana tem, direta ou indiretamente, um impacto sobre o finito estoque dos recursos naturais e que é necessário desenvolvermos práticas que otimizem estes recursos.

O setor da construção civil é um bom exemplo desta nova atitude. Historicamente, as construtoras tem se colocado entre os maiores dissipadores de insumos, com taxas de desperdício entre 25% a 30%. Isto quer dizer que para cada dez prédios de apartamentos construídos, poderiam ser erguidas outras três unidades. O desperdício de matérias primas, água, energia e o impacto ambiental gerado pelos resíduos – o entulho de obra – é significativo nas grandes cidades.

Todavia, a disponibilidade de novas tecnologias, a mudança da legislação e a pressão exercida pelos consumidores, fizeram com que alguns representantes do setor da construção introduzissem novas técnicas de gerenciamento de obras e de uso dos materiais, reduzindo visivelmente o impacto ambiental da atividade. Apesar de ser um movimento ainda restrito as construtoras de maior porte, a chamada “construção verde” vem obtendo um número cada vez maior de adeptos entre os consumidores, principalmente aqueles das classes A e B, mais preocupados com as questões ambientais e com a qualidade de vida.

Os últimos anos foram de grandes mudanças na construção. Depois da crise de energia por que passou o país em 2001, provocando o freqüente aumento das tarifas de energia elétrica, chuveiros elétricos vem sendo substituídos por sistema a gás e, em alguns casos, por equipamentos de aquecimento solar. A água, recurso que também se torna cada vez mais escasso e por isso também mais custoso, está sendo economizada e reaproveitada. Muitos prédios já estão sendo construídos com sistemas de reuso de água cinza (a água dos lavatórios e chuveiros). Depois de passar por um processo de tratamento, esta água – correndo por uma tubulação separada – volta a ser usada como água de descarga dos banheiros. Os mesmos edifícios também deverão ser equipados com cisternas no subsolo, onde depois de captada e tratada a água da chuva será usada para lavagem de áreas comuns do prédio. Os apartamentos estão sendo equipados com medidores individuais do consumo de água, de modo a possibilitar a cada morador o controle de seus gastos e pagamento individualizado da taxa de água. Os tijolos usados na construção do imóvel são fabricados a partir de material reciclado, apresentando a mesma qualidade daqueles produzidos a partir de matéria prima virgem.

A técnica da construção verde não se limita aos prédios residenciais. Prédios comerciais e centros de compras também estão sendo construídos de maneira a reduzir o uso de energia e recursos naturais – até agências bancárias estão aderindo à nova tendência. Trata-se de uma questão de coerência da atitude com o discurso. Uma empresa que se diz preocupada com a preservação do meio ambiente tem que dar o exemplo em suas próprias instalações. Com o crescimento lento, mas constante, deste mercado, estão surgindo oportunidades de negócios para empresas certificadoras, que avaliam as construções atestando seu grau de sustentabilidade e, eventualmente, propondo melhorias.

As prefeituras poderão ter importante papel como indutoras na difusão das tecnologias usadas na construção verde. Através de incentivos à reciclagem, ao reuso e à economia de água e de energia elétrica, as administrações municipais estarão contribuindo para tornarem suas cidades mais sustentáveis.

Ricardo Rose
Diretor de Meio Ambiente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.
E-mail: mambiente@ahkbrasil.com