Parte II: Décadas de 1970 e 1980
Clique aqui para a primeira parte
Clique aqui para a terceira parte
No início dos anos 70 a oposição em relação ao padrão produtivo agrícola convencional concentrava-se em torno de um amplo conjunto de propostas “alternativas”, movimento que ficou conhecido como “agricultura alternativa”.
Em 1972 é fundada em Versalhes, na França, a International Federation on Organic Agriculture (IFOAM). Logo de início, a IFOAM reuniu cerca de 400 entidades “agroambientalistas” e foi a primeira organização internacional criada para fortalecer a agricultura alternativa.Suas principais atribuições passaram a ser a troca de informações entre as entidades associadas, a harmonização internacional de normas técnicas e a certificação de produtos orgânicos(Ehlers, 2000).
No Brasil, pesquisadores como Adilson Paschoal, Ana Maria Primavesi, Luis Carlos Machado, José Lutzemberger, contribuíram para contestar o modelo vigente e despertar para novos métodos de agricultura.Em 1976, Lutzemberger lançou o “Manifesto ecológico brasileiro: fim do futuro?”, que propunha uma agricultura mais ecológica, influenciando profissionais e pesquisadores das ciências agrárias, produtores e a opinião pública em geral.
Em 1979, Paschoal publicou “Pragas praguicidas e crise ambiental” mostrando que o aumento do consumo de agrotóxicos vinha provocando o aumento do número de pragas nas lavouras, por eliminar também grande parte dos inimigos naturais. Esses trabalhos despertaram o interesse da opinião pública pela questão ambiental, crescendo também o interesse pelas propostas alternativas para a agricultura brasileira
Durante a década de 80, o movimento para uma agricultura alternativa ganhou força com a realização de três Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa (EBAAs); que ocorreram, respectivamente, nos anos de 1981, 1984 e 1987. Se nos dois primeiros as críticas se concentravam nos aspectos tecnológicos e na degradação ambiental provocada pelo modelo agrícola trazido pela Revolução Verde, o terceiro encontro privilegiou o debate sobre as condições sociais da produção, sobrepondo as questões políticas sobre as questões ecológicas e técnicas. A partir do terceiro EBAA, foram realizados diversos Encontros Regionais de Agricultura Alternativa
(ERAAs), nos quais os problemas ambientais decorrentes da produção convencional de alimentos passaram a ser vistos como problemas ambientais decorrentes do sistema econômico hegemônico no mundo ( o capitalismo); incorporando de modo permanente os aspectos socioeconômicos, que juntamente com os aspectos ecológicos e técnicos passam a compor a pauta do debate sobre a produção da alimentos em todo o mundo (Pianna, 1999).
Foi também na década de 80 que surgiram várias Organizações Não Governamentais voltadas para a agricultura, articuladas em nível nacional pela Rede Projeto Tecnologias Alternativas – PTA ( hoje AS-PTA- Assessoria e Serviços – Projeto Agricultura Alternativa). A denominação “tecnologias alternativas” foi usada nesse período, para designar as várias experiências de contestação à agricultura convencional, passando a ser substituída numa fase seguinte, por agricultura ecológica, identificada como parte da agroecologia.
De modo geral é possível afirmarmos que, na década de 80, o interesse da opinião pública pelas questões ambientais e a adesão de alguns pesquisadores ao movimento alternativo, sobretudo em função dos afeitos adversos dos métodos convencionais, tiveram alguns desdobramentos importantes no âmbito da ciência e da tecnologia.
As características mais marcantes destes desdobramentos são: a busca de fundamentação científica para as suas propostas técnicas e, no caso da agroecologia o firme propósito de valorizar os aspectos sócio-culturais da produção agrícola. A principal meta da agroecologia é a resolução dos problemas da sustentabilidade.
No entanto, Miguel Altieri, (expoente pesquisador de sistemas agroecológicos de produção) ressalta que não basta abordar apenas os aspectos tecnológicos sem considerar as questões econômicas e sociais.
Considerando os aspectos ecológico, tecnológico e socioeconômico, a Agroecologia, ao contrário do que aparenta, não é uma disciplina nova, mas um novo campo de estudos, que busca combinar as contribuições de diversas disciplinas: Agronomia, Sociologia Rural, Ecologia e Antropologia. (De Jesus, 1996).Nesse sentido, a preocupação com os aspectos sociais e o enfoque científico dado ao estudo dos agroecossistemas são, provavelmente, os componentes que mais contribuíram para a rápida divulgação da agroecologia nos E.U.A ( particularmente na Califórnia) e na América Latina.
Desta forma, o termo ” agroecologia” deixa de ser compreendido como uma disciplina científica que estuda os agroecossistemas, ou seja, as relações ecológicas que ocorrem em um sistema agrícola, para tornar-se mais uma prática agrícola propriamente dita, ou ainda um guarda-chuva conceitual que permite abrigar várias tendências alternativas(Ehlers, 2000).
Clique aqui para a terceira parte:
Parte III: De 1990 até os dias atuais