Planeta Orgânico entrevistou João Norberto Noschang Neto, Gerente de Gestão Tecnológica da Petrobras Biocombustível. Confira esta entrevista que aborda desde o apoio ao pequeno agricultor no semi-árido a de agricultura familiar no biodiesel
Quando e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, assumiu a Petrobras Biocombustível, ele convidou João Norberto Noschang Neto para ajudá-lo na tarefa de dar continuidade a um plano de investimento já definido pela direção da Petrobras e pelo Conselho de Administração.
Com experiência em projetos inovadores e ações comprometidas com o meio ambiente, Norberto aceitou o convite de Miguel Rossetto com entusiasmo e confiança.
Confira aqui a entrevista que João Norberto deu ao Planeta Orgânico.
Por que o biodiesel deve ser considerado uma das principais alternativas energéticas para o futuro?
Norberto – Hoje o grande combustível consumido no país, além da gasolina, é o diesel. Nós importamos o diesel e exportamos gasolina. O biodiesel tem um papel estratégico porque está relacionado ao nosso balanço energético, faz uma diversificação da matriz. E isso não apenas no Brasil, mas, no mundo inteiro, criamos essa possibilidade e oportunidade de diversificar a matriz energética. Existem ainda as questões sociais quanto à produção de biodiesel, pois vem da agricultura familiar, gerando empregos e renda. Finalmente, há as questões ambientais, pois usando o biodiesel se emite menos gases de efeito estufa.
Qual o incentivo que a Petrobras oferece ao produtor rural?
Norberto – Hoje nós já somamos investimentos de milhões de reais no desenvolvimento tecnológico e no apoio ao pequeno agricultor no semi-árido. Estamos fornecendo sementes, e, também, dando assistência técnica que é muito importante. Possibilitando que o agricultor tenha um negócio de mais longo prazo. Estamos fazendo contratos de 5 anos com os produtores.
O manejo é muito importante. Precisa ser feita correção de solo, principalmente no semi-árido. Contratamos mais de 200 técnicos e agrônomos oferecendo assistência técnica a agricultores familiares
Como a Petrobras pode se tornar uma referência internacional para o reuso de águas?
Norberto – Reuso de águas é uma realidade na Petrobras, que é uma referencia em reuso de águas, ao menos da indústria do petróleo. Quase todas as refinarias estão reutilizando água do processo de produção. Temos projetos para utilização da água inclusive para irrigação de plantações.
Outro tema ressaltado pela Petrobrás é o monitoramento de fauna e flora, inclusive na vida marítima.
Norberto – Existe a exigência dos órgãos ambientais e, muito além de cumprirmos a lei, realizamos um trabalho de preservação da biodiversidade em todas as áreas que trabalhamos. Para entrar numa área que será explorada para produção, primeiro precisa ser feito o levantamento técnico desta região Isso vale também para o mar.
Com o licenciamento ambiental, temos uma licença da sociedade e há obrigação de devolver a área como recebemos. Portanto, fazemos um trabalho completo de avaliação e monitoramento ambiental. Monitoramos ao longo de todo processo o tempo de produção naquela região. Fizemos um levantamento na Bacia de Campos que foi o maior monitoramento ambiental realizado em águas profundas no mundo.
A Petrobras também desenvolve projetos de seqüestro indireto e direto de gás carbônico. Pode comentar a respeito?
Norberto – Este projeto criamos a cerca de 10 anos, quando pouco se falava sobre o assunto. Primeiro, começamos a trabalhar com sustentabilidade, depois focamos em seqüestro de carbono. Ainda não sabíamos direito o que fazer mas sabia que esse tema era importante. Então, criamos um grupo, pesquisamos com oito universidades diferentes de pesquisa. Abrimos o projeto no Brasil inteiro e os resultados já inclusive foram concluídos.
Hoje pesquisamos sobre o seqüestro direto de gás carbônico.
A Petrobras já monitora suas emissões há muito tempo. Também, investimos no desenvolvimento tecnológico para seqüestro e armazenamento de carbono. E, muito além disto, a Petrobras possui programas e desenvolvimento tecnológico ligado à mudança climática.
Voltando ao tema do biodiesel, a questão ambiental em relação à agricultura familiar precisa de um cuidado especial.
Norberto– Ao falarmos da agricultura familiar com o biodiesel, temos a oportunidade de produzir onde hoje não produz nada, onde o solo hoje é muito pobre. Mamona, por exemplo, cresce em solo pobre. Culturas como o babaçu ou outras utilizadas para a produção do biodiesel demoram de três a cinco anos para colher. E não admitimos que o pessoal deixe de plantar alimento para plantar energia. Ao falar de agricultura familiar no biodiesel, precisamos deixar de lado o tema da soja.
Mencionar competição entre alimento e energia em outros países pode ser uma possibilidade mas não no nosso programa do Biodiesel. Os produtores também estão interessados nisso.
Se você pudesse se dirigir a um grupo de agricultores familiares e dizer a eles qual o tipo de cultura seria interessante trabalhar em relação ao bicombustível, quais indicaria.
Norberto – Primeiro, olhe o que foi aprendido no passado, respeite o zoneamento agrícola e acredite que com tecnologia é possível produzir mais e mais barato. Hoje no semi-árido estamos incentivando a introdução de girassol e de mamona. Girassol se mostrou muito viável, algodão também. Mas existe ainda macaúba e pinhão manso que são novos para a maioria e merecem ser investigados como potencialmente viáveis para o biodiesel.