O Grupo Agropalma, controlado pelo Banco Alfa, é o maior produtor nacional de óleo de palma . Em abril de 2004 a Agropalma assinou um contrato com a Dedini.S.A. Indústria de Base para o produção comercial de biodiesel, “o palmdiesel” como foi batizado. Em 2003, o Brasil consumiu cerca de 36 bilhões de litros de diesel convencional. Desse total, parte foi importada, representando um investimento da ordem de US$ 800 milhões.
“Além de ser ambiental e economicamente viável, o biodiesel permitirá também à Agropalma baixar as emissões de CO2, possibilitando a comercialização de créditos de carbono”, diz Marcello Brito, diretor comercial da Agropalma.
Marcello Brito será palestrante na BioFach América Latina 2004 em setembro próximo. Nesta entrevista, Marcello fala da trajetória da Agropalma, da sua atuação no setor orgânico, e questões como sustentabilidade, responsabilidade social e ambiental. Vale conferir!
PO: Gostaríamos que você fizesse um breve histórico da Agropalma até chegar ao orgânico, que é o foco do interesse dos visitantes do Planeta Orgânico. |
Marcello – A Agropalma foi mais um dos projetos do desenvolvimento da Amazônia implantado no final da década de 70 e no início da década de 80. Nesta época o governo incentivava as grandes empresas a irem para a Amazônia, para proporcionar o desenvolvimento que hoje sabemos que foi uma estratégia totalmente equivocada a de chegar lá e derrubar milhões e milhões de hectares de floresta para ali fazer qualquer tipo de plantação ou criação de gado… Na época o grupo Real (Banco Real), proprietário da Agropalma, realizou um estudo e identificou potencial para a cultura da palma. Em 1983 foi feito o primeiro plantio da Agropalma. Na época, todas as mudas eram importadas, não existia produção de semente no Brasil. Durante muito tempo trabalhamos importando sementes de vários países do mundo.Um ano depois, em 1984, adquirimos um outro plantio que era a Agromendes que também se incorporou a Agropalma.
Em 1985 inauguramos a 1ª Usina de extração que na época foi 100% importada. Veio quase tudo da Alemanha, Malásia entre outros países. Desde do início até hoje o resultado do trabalho são 33.000 hectares de plantios próprios e 5.000 hectares em parcerias com agricultores familiares, cooperativas, e pequenos e médios produtores privados locais. Temos 4 indústrias, sendo que a última, inaugurada há 4 anos já foi com 98% de nacionalização dos equipamentos, só 2% ou 3% vindo de fora. Em 1997 inauguramos a 1ª refinaria com 120 toneladas/dia de capacidade. Essa refinaria hoje produz 320 toneladas por dia e já esgotou sua capacidade. Não tem como expandir mais, e vamos ter que partir para o estudo de viabilidade de outra refinaria.
Anexo a esta refinaria construímos indústrias de margarinas e cremes e gorduras vegetais para atender mercados de “food service” . Hoje, estamos também construindo uma usina de biodiesel utilizando resíduos do processamento do óleo de palma. Assim fechamos o ciclo de auto-sustentabilidade, desde a fruta de onde extraímos o óleo. Do refino deste óleo temos um resíduo e este vai ser transformado em combustível que vai movimentar os equipamentos para continuar a produção. Realmente houve um grande crescimento neste período. Hoje são 3.000 empregos diretos e no último levantamento que fizemos dava mais ou menos 15.000 empregos indiretos e uma injeção de capital no estado do Pará de cerca de R$ 100 milhões em 2003 , através de pagamento de salários, compra de insumos, impostos e etc.. Um investimento realmente significativo. O investimento da Agropalma prova que quando o trabalho é feito seriamente, a coisa anda.
PO: Como vocês desenvolveram esta tecnologia? É a primeira usina no gênero no Brasil? |
Marcello – Foram cerca de 2 anos de estudo com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). É a primeira no Brasil, e foi desenvolvida pela Escola de Química da UFRJ. A patente é deles, fizemos um acordo operacional e a utilização da patente é nossa.
PO: Como vocês chegaram ao orgânico? |
Marcello – Tivemos um antigo colega de diretoria que quando foi fazer as prospecções para a compra da nova refinaria em 1997, andou pelo mundo para ver o que havia em tecnologia de ponta. Numa destas viagens ele passou pela Alemanha junto com um técnico alemão que trabalhava para a empresa. Este cidadão veio para o Brasil para montar a 1ª usina que nós compramos. Ele veio para cá e gostou tanto que ficou como gerente industrial da companhia. Em 1994, viajando pela Alemanha ele nos apresentou a um outro cidadão alemão, Carsten Reich , um dos donos da CARE que é uma das mais antigas empresas de Orgânicos da Alemanha. O Carsten, explicou o que era orgânico e naquele mesmo ano começamos um processo de conversão de uma área para cultivo orgânico.
Na época (1994) não se levava os 3 anos que se leva hoje para fazer a conversão; era uma coisa mais rápida e em 1995 fizemos a 1ª exportação de óleo de palma bruto orgânico para a Alemanha. A diretoria fez um acordo de exclusividade com a CARE e até setembro do ano passado (2003) todo o nosso óleo era vendido através dessa empresa alemã. Hoje este mercado é dominado pelos colombianos e africanos que invadiram a Europa e nós fomos quase a zero. Vendemos 4.000 toneladas de óleo em 99 e no ano passado 700 toneladas.
PO: Mesmo tendo sido vocês os pioneiros, como e porque aconteceu esta “invasão”? |
Marcello – Um dos grandes problemas é a tarifação. Eles também têm um excelente produto só que o óleo colombiano paga menos imposto de importação do que o óleo brasileiro, e o óleo africano paga nenhum imposto por serem ex-colônia. O resultado foi que inevitavelmente perdemos mercado.
Em 2001 tomamos uma decisão drástica de não vender mais óleo bruto, só produtos refinados. Iniciamos então um trabalho de desenvolvimento técnico. Foi um trabalho lento e no ano passado começaram a surtir os primeiros resultados, quando vedemos 700 toneladas, mas de produtos refinados, produto acabado com um valor agregado bem maior do que com o óleo bruto. Para vocês terem uma idéia de como o óleo orgânico virou uma commodity, o preço do produto já chegou a ter ganho de 40 a 45%; hoje está na faixa de 10% a mais do que o convencional. Quer dizer, não está valendo a pena. Não paga os custos que você tem.
PO: Que estratégias que vocês estão usando para recuperar mercado? |
Marcello – Resolvemos então partir para outros mercados, principalmente o mercado dos Estados Unidos. Destas 700 toneladas que me referi do ano passado, 250 foram para os Estados Unidos, o restante foi para a Alemanha e para a Holanda. Este ano, 2004, a nossa perspectiva é vender mais para os Estados Unidos do que para a Europa principalmente por causa das restrições de tarifação.
PO: E as tarifas americanas, não são pesadas também? |
Marcello – Para este tipo de produto é zero. A outra vantagem é que o Estados Unidos não querem saber de óleo bruto. Eles querem produto acabado. Eles querem ganhar dinheiro e por isso querem o produto acabado. Fizemos um bom acordo com uma empresa especializada em orgânicos de lá. Neste mês de março nós já mandamos 4 containers para eles de gordura em caixa. Temos um outro projeto também em andamento que é bastante interessante.
PO: E tudo isso só orgânico? |
Marcello – Tudo orgânico. Já embarcamos também para o sul dos Estados Unidos oleínas (parte líquida da palma) orgânicas, que é um mercado novo.
PO: E para o Mercado Interno? |
Marcello – Para o Mercado Interno infelizmente é zero. Porque para você utilizar uma gordura orgânica você automaticamente precisa ter os outros ingredientes orgânicos. Por exemplo: para se fabricar um biscoito orgânico além da gordura e do açúcar precisamos de outros ingredientes orgânicos como a farinha de trigo orgânica, o fermento orgânico, o corante orgânico, o estabilizante orgânico e daí por diante. Certa vez um cidadão queria o óleo para fazer batata frita orgânica, mas quando perguntamos qual a quantidade que ele precisava, disse-nos que 1 balde por mês. O problema é quando paramos para refinar um lote só justifica economicamente se fizermos um container. Ou fazemos 20 toneladas ou não fazemos nada. Não se esqueça que este produto tem uma validade limitada. O produto convencional possui validade de 6 meses e este utiliza alguns anti-oxidantes. O produto orgânico com no máximo com 4 meses já está vencido ; não dá para esperar mais do que isso. Então se fizermos só um container de 20 toneladas, vamos perder o produto.
PO: No Brasil vocês tem algum cliente ? |
Marcello – Para o produto orgânico temos a Cascajú e a Nutrimental. Mesmo assim eles tem que nos avisar com antecedência para que quando estivermos produzindo para exportar, separemos um tanto para eles.
PO: O que você acha que precisa para aumentar a demanda no mercado interno? |
Marcello – Acho que falta renda. A grande barreira do produto orgânico é a renda. Na Europa os produtos orgânicos cresceram, cresceram e chegaram a um ponto onde dominaram a classe A e B. Só que nos últimos 2 anos, não tem crescido mais. Na Europa, hoje, você também tem um problema de renda. A economia não está indo bem e ha uma grande diferença entre a vontade de comprar e o poder real de compra.
Perto da minha casa tem uma loja de hortifrutis orgânicos que é espetacular. Ambiente refrigerado e uma variedade enorme de frutas e legumes orgânicos. Só que por exemplo, a alface orgânica custa R$ 1,50 e a convencional que está do lado custa R$ 0,50, um pacote de açúcar orgânico custa R$ 5,00 e o convencional R$ 1,00. Mas uma vez, a barreira é renda.
PO: Preço é a queixa que mais ouvimos dos consumidores. Você vê uma solução para este problema? |
Marcello – Os produtores de orgânicos tem que encontrar uma maneira de equacionar o problema da produção. É isto que nós estamos buscando; trazer nossa produtividade o mais próximo possível do convencional. Em algumas culturas é possível e muito mais fácil. No nosso caso é complicado porque o solo na Amazônia é muito ruim. O 2º custo que temos é de fertilizantes. Nós gastamos milhões e milhões por ano em adubação. No orgânico é mais complicado ainda. Nós já conseguimos melhorar bastante a produtividade mas ainda tem muito chão pela frente. Você precisa de muito mais mão de obra.
Os adubos orgânicos são todos aplicados manualmente enquanto os adubos convencionais são todos com equipamentos. Usamos “big bags” de 1 tonelada que são acoplados a equipamentos que fazem a aplicação. É difícil você equalizar isto para tentar reduzir preço. Mas se não fizermos alguma coisa vai ser difícil continuar com a plantação orgânica.
PO: Você vê uma possibilidade de colocar no varejo um óleo orgânico da Agropalma? |
Marcello – Hoje é praticamente impossível. Nós já pensamos nesta possibilidade. Há alguns anos uma rede de supermercados estrangeiro nos procurou, pois eles tem este tipo de produto na Europa. Hoje para você vender em Supermercado é impossível. Estou falando das grandes empresas. Por exemplo se vender qualquer produto em grandes redes, na maioria das vezes se paga um preço altíssimo. Um enxoval caríssimo. Para colocarmos nosso produto dentro de uma rede dessas, para pagar o “enxoval” teríamos que ficar “vendendo” nosso produto de graça pelo menos por vários meses e até anos devido a ainda baixa demanda por orgânicos. Não teríamos margem de retorno. Tem que pensar que supermercado hoje não faz estoque; você tem que ter entrega pontual, nas datas e horários estipulados por eles. Por exemplo, quantas pessoas iriam comprar um óleo orgânico para fritura num supermercado? Muito poucas…
PO: Marcello, na Biofach América Latina você vai falar sobre a responsabilidade social, da Agropalma e isto é um dos conceitos da filosofia do orgânico. Como é o trabalho de vocês neste setor ? |
Marcello – O nosso trabalho é muito simples. Não existe nenhum tipo de benemerência da empresa., não estamos fazendo isso porque somos bons. Como não podemos influenciar nos preços finais pois isto é o mercado que cria, o que podemos fazer é repensar a nossa estrutura, o nosso custo. Para que possamos melhorar, incrementar isto, nós temos que qualificar esta mão de obra. Tem duas maneiras de fazer isto. Uma maneira é vir para o sudeste contratar um monte de gente, levar para lá, dando casa, carro, escola, algumas passagens de avião para que essas pessoas visitem suas famílias e isto é muito dispendioso.
A 2ª forma é você preparar sua mão de obra local. É mais custoso inicialmente, é um projeto de longo prazo, mas os resultados são permanentes. Hoje temos lá no Pará, 38.000 hectares incluindo os parceiros. A nossa meta é chegar a 50.000 hectares. Com 50.000 hectares nós sabemos qual a mão de obra que nós vamos precisar. Nós já temos a estimativa hoje da mão de obra que vamos precisar na região em 2010. Hoje não existe esta mão de obra e a que tem é muito ruim. Para 2010 estamos falando em 6 anos. O trabalho já começou ha algum tempo. Nós já estamos investindo na educação, e nossa meta é ter a primeira escola do 2º grau da região, no ano que vem, 2005.
Em 2010 nós teremos uma formação destes alunos o que será bom para eles e para nós também.. Hoje eles têm aula de responsabilidade com o meio ambiente, responsabilidade social, sobre a importância dos manejos culturais dentro da região amazônica, e outros temas afins. É difícil mudar a maneira de pensar dos pais destes alunos de hoje. Por isso investimos nos homens de amanhã.
PO: A idéia é a qualidade de vida no emprego seja um diferencial para quem trabalha na Agropalma? |
Marcello – Temos que transformar a empresa e o nosso trabalho numa vitrine tal, que atraia estas pessoas para que elas vejam na Agropalma um crescimento de vida para elas. Os nossos funcionários devem reconhecer que, trabalhando nesta empresa, eles terão não apenas salário, mas também uma melhor qualidade de vida, um desenvolvimento social e que queiram continuar na Agropalma. Hoje nós ainda temos uma série de empreiteiros, pois existem alguns trabalhos que não são permanentes. Então você tem acordos com cooperativas e empreiteiros. O pessoal vem trabalhar 2 ou 3 meses e depois vai embora. Nós sabemos que tem pessoas que estão querendo muito ficar, para serem efetivados. A cada ano estamos diminuindo estes empreiteiros e os absorvendo como mão de obra própria. Em algumas ocasiões, tivemos 2.000 empreiteiros e 1.000 de mão de obra própria. Hoje já estamos com mais ou menos 2.200 de mão de obra própria e 800 de temporária.
A nossa meta até o final do ano que vem é de absorver todo o pessoal de colheita também como mão de obra própria. Devemos chegar de 2.600 a 2.700 de mão de obra própria e cair este temporário para 400 pessoas. A medida que for entrando novos palmares em produção vai aumentando a mão de obra também.
PO: E a responsabilidade ambiental? |
Marcello – O trabalho de meio ambiente também implica na recuperação de áreas que foram degradadas em algum momento do desenvolvimento da Agropalma. Estamos fazendo um trabalho sério, um trabalho enorme e contamos com a experiência de consultorias especializadas para fazê-lo.
PO: – Quais certificações sócio- ambientais vocês têm? |
Marcello – Conseguimos os ISOs. Em dezembro do ano passado nós recebemos as 3 certificações, ISOS 14001 e 9001 e o OSHAS 18.001. Nós temos a 1ª plantação de palma do mundo a receber estas 3 certificações. Agora estamos com este plano de recuperação ambiental e responsabilidade social, que deve ser concluído até o final do ano. De 10 a 14 de maio vamos estar sob auditoria do “ProForest” da Inglaterra. E uma auditoria de cultivo sustentável.
PO: Me parece pelas fotos que é uma monocultura de palma. Como pode ser isso na agricultura orgânica? |
Marcello – A plantação de palma não permite concorrência com outras plantas. Já foi testado no mundo inteiro mas a palma não permite. O que temos consorciado aqui são leguminosas que tem algumas funções. Primeiro ela fixa nitrogênio ao solo, depois protege o solo contra a lixiviação, pois chove quase todo dia e protege o solo do sol amazônico. Quando você corta um cacho de uma palmeira, automaticamente você também corta de 2 a 3 folhas da palmeira. Estas folhas são deitadas nos corredores para virar adubo orgânico. Quando você tira os frutos dos cachos sobram umas buchas que voltam também para o solo como adubo orgânico.Nas usinas de extração você tem seu “efluente” e este efluente é tratado e bombeado para plantação ou pulverizado como adubo orgânico.
PO: Existe alguma associação só de óleo de palma? |
Marcello – O conceito de sustentabilidade que tem no mundo hoje para que uma plantação seja considerada sustentável obedece aos mais diversos parâmetros. São observados o método de agricultura empregada (o cultivo pode ser sustentável sem ser orgânico). Outro setor observado é o nível salarial, as condições de vida e moradia. Isto foi criado numa reunião mundial chamada “RoundTable on sustainable Palm Oil” onde se reuniram desde plantadores de palma até o setor supermercadista como o Marks & Spencer e Sainsbury (supermercados ingleses) e Migros da Suiça. .
PO: Quando foi esta reunião? |
Marcello – Isto foi há 2 anos. A maior reunião foi em agosto do ano passado na Malásia. Estiveram lá desde plantadores, donos de refinarias , indústrias que utilizam óleo de palma como insumo etc.. Tinham mais de 1.000 pessoas de 16 países do mundo. Aí fez-se um critério de sustentabilidade. 26 empresas assinaram a carta de intenção de plantio sustentável e a Agropalma foi uma delas.
Uma série de critérios serão adotados, que envolvem : responsabilidade social, salário, educação, cultivo, moradia, treinamento, e a oportunidade de crescimento que a pessoa tem dentro da empresa. Uma vez cumprindo todos estes ítens a empresa é considerada sustentável.
Nós não podemos vender nada na Suíça pois ainda não temos o certificado de sustentabilidade. Nós temos óleo orgânico mas não temos ainda o aval da ProForest ou outras entidades ambientalistas envolvidas neste processo. Mas isto também está sendo resolvido, pois a ProForest estará fazendo auditoria na Agropalma agora no mês de maio e acreditamos que vamos receber o certificado, pois buscamos cumprir todas outras as exigências.
PO: Porque não fizeram isto antes? |
Marcello – A primeira vez que nos solicitaram este certificado na Europa nós fizemos um plano de tarefas domésticas a serem executadas. Se nós tivessemos trazido na naquela época, a ProForest, ou qualquer ONG desta área para nos auditar e dar um parecer sobre nossa empresa , sabíamos que a nossa tarefa não estava totalmente pronta; provavelmente eles iriam nos impor métodos administrativos. E nós não queríamos interferência em nosso negócio. Então resolvemos cumprir nossas tarefas domésticas antes da visita deles. Mas como íamos fazer tudo isto? Não sabíamos quem no Brasil poderia assumir esta tarefa.
Até que no começo do ano passado houve um Congresso Internacional de Óleos Vegetais no Rio de Janeiro (OIASC). Tinham 2.000 pessoas no Congresso. Houve um debate sobre transgênicos com representantes dos USA, da Comunidade Européia e um representante da América do Sul. Quem representou a América do Sul foi o Dr. Eduardo Martins que é o dono da Elabore, que é a empresa que nós contratamos para nos dar consultoria.
Este senhor foi duas vezes presidente do Ibama, foi um dos fundadores e presidente da WWF no Brasil; foi pesquisador do Emílio Goeldi em Belém para a Região Amazônica, morou na Região Amazônica, conhece a região.
Este nosso projeto envolve advogados especializados em meio ambiente, leis trabalhistas, engenheiros ambientais, engenheiros florestais, pessoas especializadas em comunicação ambiental, comunicação social, assistentes sociais, enfim, uma série de profissionais envolvidos e todos andando em conjunto ao nosso pessoal de lá. Efetivamente, o trabalho começou em janeiro deste ano e deve terminar até o final do ano.
PO: Mas sabemos que vocês também estão fazendo um levantamento de fauna e flora… |
Marcello – Paralelo a este trabalho, também há um outro que é o levantamento da flora e fauna das reservas florestais dentro da área da companhia. São 55.000 hectares de florestas. Inicialmente estamos fazendo o levantamento de pássaros e primatas. Contamos com o trabalho do Dr. Luiz Silveira, ornitólogo, PHD no assunto, respeitado no mundo inteiro, inclusive com trabalhos para o Banco Mundial. Serão duas visitas com sua equipe para recolher espécies no período de chuvas e no período de secas. Ele vai com uma equipe de especialistas e um fotógrafo. Nas reservas da Agropalma ,eles estão identificando os pássaros, fotografando e gravando o som, quando possível . Nesta primeira visita foram identificadas 285 espécies, sendo 6 consideradas em extinção o que transforma a nossa floresta num ponto importante. Foram também identificadas 6 espécies de macaco sendo 1 considerada também em extinção.
Ao término deste trabalho, que esperamos esteja todo pronto em 2 anos, nós poderemos oferecer a todos os nossos clientes o seguinte: não estamos vendendo uma gordura vegetal. Estamos vendendo algo que agrega valor a sua marca. Estamos vendendo uma gordura vegetal mais uma preservação ambiental, mais uma responsabilidade social, mais proteção aos animais e assim por diante…
PO: Como você vê a Biofach América Latina no Brasil? |
Marcello – Como movimento para o setor orgânico é super interessante. Até porque nós brasileiros merecemos ter aqui as coisas boas que tem lá fora. Acho que o caminho é este para que nós comecemos pelo menos a mostrar a todos o que podemos oferecer. Temos que gerar curiosidade. Temos que começar com o que é mais acessível a população, como frutas e hortaliças que é o mais fácil de ser produzido por pequenos agricultores de todas as regiões e chegar até ao produto de maior valor agregado como existe na Europa. Nós não temos pretensão de vender nossos produtos aqui ainda porque é preciso de muito mais empresas investindo num negócio que é caro.
Acho que vocês deveriam fazer um trabalho muito forte para trazer para a Biofach América Latina, empresas como a Danone, Nestlé, Elma Chips, ou seja, grandes empresas de alimentos para que elas vejam o potencial deste mercado a médio e longo prazo.
PO: O que você acha que é preciso ser feito para que o mercado orgânico dê um avanço considerável? |
Marcello – Se as grandes empresas no Brasil não entrarem nisso o mercado não se desenvolverá. Não só as internacionais mas as nacionais também, como por exemplo a Sadia, a Perdigão, a Marilan. Enquanto as grandes empresas não entrarem no mercado como fazem lá fora, vai ser impossível você criar massa crítica. Na Alemanha fui visitar uma indústria de margarina orgânica. Uma fábrica enorme, toda computadorizada, produzindo margarina orgânica. Precisamos de grandes empresas produzindo para vender no mercado, se não vamos ficar sempre sendo um pequeno nicho.
http://www.agropalma.com.br/
________________________________________________________________________________________________