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Ricardo Rose
Colunista conceituado na área de Meio Ambiente.
É Jornalista, autor de publicações sobre o setor ambiental e
Diretor de Meio Ambiente da Câmara Brasil-Alemanha.
mambiente@ahkbrasil.com  / www.ahkbrasil.com

 

O grande tema ambiental do início do mês de abril – e que provavelmente será o tema deste ano – foi a publicação da segunda parte do relatório sobre mudanças climáticas, preparado pelo IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, formado por cientistas que estudam as alterações do clima da Terra. A primeira parte do relatório, divulgada em novembro de 2006, já havia causado comoção mundial, colocando o tema diariamente na mídia. A segunda parte do estudo, apresentada em data bastante significativa para todos os cristãos – 6 de abril, Paixão de Cristo – traz previsões ainda mais preocupantes.

Com este documento fica definitivamente provado que as mudanças no clima estão sendo provocadas – ou aceleradas segundo os mais cuidadosos – pela ação homem, através de suas atividades econômicas. Os grandes vilões do clima são as empresas geradoras de energia, que nos países do hemisfério norte utilizam o carvão mineral como combustível; o setor de transportes – aviões, navios, carros, caminhões, ônibus, etc. – que queimam imensos volumes de combustíveis fósseis; e parte das indústrias, que em certos processos industriais liberam gases altamente prejudiciais à atmosfera.

Nesta lista, muitas vezes nos esquecemos das emissões causadas pela queima de florestas, no Brasil, na Malásia, na Indonésia e em outros países que ainda dispõem de florestas tropicais. Por conta das queimadas que – apesar da redução – continuam a ocorrer na Amazônia, o Brasil é o 5º maior emissor mundial de gases causadores do efeito estufa. Isto significa que o Brasil é hoje um dos maiores poluidores da atmosfera terrestre. O fato de nossas autoridades, por razões diversas, não terem capacidade de coibir o desmatamento de vastas regiões florestais, não nos absolve da responsabilidade pelo fato. É como se diz: explica, mas não justifica. Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a Amazônia deverá perder até 2,1 milhões de quilômetros quadrados de sua cobertura vegetal, em vista do ininterrupto desmatamento, caso o governo não tome sérias medidas.

A segunda parte do relatório do IPCC ainda joga mais lenha nesta fogueira. Prevê-se – agora apoiado em um número maior de evidências – de que a floresta amazônica deverá sofrer profundas alterações ainda ao longo deste século. As previsões mais otimistas estimam que cerca de 10% a 25% da floresta deverá desaparecer até 2080. Este fato mudará todo o regime de chuvas da região e do restante da América do Sul, afetando diretamente a disponibilidade hídrica, a agricultura e a geração de energia. Isto sem mencionar as conseqüências para o sistema fluvial da Amazônia. As previsões pessimistas (infelizmente sempre as há e segundo a lei de Murphy podem se concretizar) informam que até 2080 a floresta amazônica terá desaparecido quase completamente, transformando-se em um imenso cerrado, de acordo com estudos do Hardley Center. Mas, caso a imensa floresta desapareça, o que deverá acontecer com as espécies animais e vegetais, únicos no mundo, que vivem na região? A resposta do IPCC é que quanto à fauna e à flora, prevê-se que um terço delas, em todo o mundo, estará extinta ou em processo de extinção até o ano 2100.

Ante tais informações, nossa primeira reação é perguntar o que está sendo feito para diminuir ou enfrentar os efeitos de tal catástrofe. A resposta é que cada país está fazendo o que pode, de acordo com seus recursos econômicos e da maneira como o assunto é priorizado por cada nação. Em artigo anterior falamos dos progressos que alguns países europeus estão fazendo e mencionamos o fato de que o governo federal dos Estados Unidos finalmente parece ter se dado conta do problema e de seu papel fundamental na questão (os Estados Unidos ainda são o maior poluidor – logo serão ultrapassados pela China).

O Brasil, por seu lado, já preparou alguns estudos sobre os prováveis impactos do aquecimento global, mas, como sempre, esbarra na questão da falta de recursos. Sinal disso é a reportagem intitulada “Amazônia não atingirá metas da ONU”, publicada no jornal O Estado de São Paulo em 1 de abril de 2007. A síntese da reportagem é que os nove Estados que compõem a Amazônia Legal (Amazona, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Roraima, Amapá, Maranhão e Tocantins) – apesar de avanços em uma ou outra área – não deverão atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pelas Nações Unidas e aceitas pelo governo brasileiro. Dois exemplos são esclarecedores: no item “reduzir a população com renda inferior a US$ 1,00 por dia”, somente o Estado de Mato Grosso consta como capaz de atingir a meta. No quesito “reduzir à metade a população sem acesso à água potável e ao saneamento”, Roraima foi o único Estado mencionado onde esta meta “pode ser atingida”. Dado este quadro de abandono e falta de investimentos públicos, não é de admirar que continue, entre outros problemas, a avançar o desmatamento. Fica difícil pensar na preservação da floresta Amazônica, sem ao mesmo tempo pensar no desenvolvimento da população local.