Planeta Orgânico entrevista Roberto Pinton, secretário geral da AssoBio, Itália

Roberto Pinton é Secretário Geral da AssoBio  (www.assobio.it) , Associação Italiana de Processadores e Distribuidores de Alimentos Orgânicos. AssoBio é a associação das principais empresas italianas envolvidas no processamento e venda no atacado de produtos orgânicos.

robertopinton252 “Entre nossos associados, posso citar a NaturaSì, que mantém uma cadeia de 64 supermercados inteiramente orgânicos por toda a Itália, 2 restaurantes orgânicos e um centro de bem-estar (além de dois supermercados em Madrid, na Espanha); a Ecor, principal atacadista de alimentos orgânicos no mercado italiano (com faturamento de cerca de US$ 115 milhões”



PO – O Sr. poderia explicar, na qualidade de Secretário Geral da AssoBio, qual o papel desta organização e a importância dos associados da AssoBio no mercado orgânico italiano?

Roberto Pinton – AssoBio é a associação das principais empresas italianas envolvidas no processamento e venda no atacado de produtos orgânicos.Entre nossos associados, posso citar a NaturaSì, que mantém uma cadeia de 64 supermercados inteiramente orgânicos por toda a Itália, 2 restaurantes orgânicos e um centro de bem-estar (além de dois supermercados em Madrid, na Espanha);

a Ecor, principal atacadista de alimentos orgânicos no mercado italiano (com faturamento de cerca de US$ 115 milhões) e que vende somente para lojas especializadas (mais de 1.000 na Itália);

a Brio, uma companhia limitada de direito privado, de propriedade de fazendeiros orgânicos, com um faturamento acima de US$ 70 milhões (metade em exportação, metade em supermercados convencionais, suprimento à indústria de processamento e ao setor de serviços de refeições – na Itália, o uso de alimentos orgânicos é compulsório na merenda escolar);

além da Rigoni di Asiago, que processa somente geléias e mel orgânicos, mas é a empresa líder em vendas em toda a categoria de geléias e marmalade (geléia de laranja) no mercado italiano, ou empresas como a Baule Volante, Finestra sul Cielo, Probios, Ki Group e a fabricante de iogurte com o selo Demeter, Fattoria Scaldasole – todas estabelecidas há 20 ou 30 anos, realmente os pioneiros da indústria orgânica na Itália. Muitas outras marcas importantes estão associadas à AssoBio, tal como a Alce Nero, cujos produtos estão no menu oficial diário do Bologna, um clube de futebol da primeira divisão; ou a Gabro Oil Mill, líder na categoria de azeite de oliva extra virgem, que exporta ao mundo inteiro. 

Os associados da AssoBio cobrem cerca de 40% das vendas de produtos orgânicos no mercado italiano.

A AssoBio não tem padrões próprios, nem logotipos ou sistemas de certificação: nosso trabalho é advocacia e promoção de políticas, lobbying, ação social e relações públicas. Obviamente, mesmo que não trabalhemos como uma agência comercial para nossos associados, estamos interessados em desenvolver oportunidades de negócio para eles.

PO – O mercado orgânico italiano está entre os maiores da Europa, depois da Alemanha e do Reino Unido. Em que proporção a indústria orgânica italiana precisa de matérias primas de países da América Latina? Quais são os produtos considerados importantes?

Roberto Pinton – Infelizmente, não posso quantificar as importações da Costa Rica e da Argentina: estes países estão na lista de países terceiros equivalentes, determinada pela Comissão Européia, e suas estatísticas não estão disponíveis em separado.  

Em 2006, empresas italianas que lidam com produtos orgânicos importaram cerca de 4.000 toneladas de produtos orgânicos da América Central, excluindo a Costa Rica (1.900 toneladas de cacau, 1.340 toneladas de açúcar, 650 toneladas de bananas e 180 toneladas de café) e 5.000 da América do Sul, excluindo a Argentina.  Estas importações foram na maior parte de bananas (2.350 toneladas) e açúcar (2.250 toneladas), mas também frutas (95 toneladas), óleos (170 toneladas), produtos agrícolas para uso industrial (58 toneladas) e um pouco de cereais (20 toneladas); mas outras importações são feitas através de outros países europeus. 

Numa reunião realizada em Modena, alguns meses atrás, durante o 16º Congresso Orgânico Mundial da Ifoam, uma empresa italiana assinou um acordo com o Sr. Walter Bianchini, Secretário de Agricultura do Estado do Paraná, para o fornecimento direto de soja orgânica, que é importante para a nossa indústria de criação animal. 

PO – Os produtos alimentícios italianos têm em geral uma boa imagem por todo o mundo, o que facilita também a venda de alimentos orgânicos especiais provenientes da Itália para países estrangeiros.  Os maiores mercados de exportação estão na Europa. Como o Sr.  vê a possibilidade de exportar alimentos orgânicos finos especiais em particular (inclusive vinho orgânico) para um país como o Brasil com um grande setor de gastronomia em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro? 

Roberto Pinton – A minha expectativa é de que as relações comerciais entre empresas italianas e latino-americanas irão se desenvolver, já que, apesar das dificuldades econômica globais, as vendas de produtos orgânicos estão crescendo na Itália (+10,2% em 2007, +6% nos primeiros seis meses de 2008 nos supermercados, e muito mais nos canais especializados); e precisamos de matérias primas para alimentos e para ração animal.

Os produtos interessantes continuam os mesmos: bananas, açúcar, cacau e café, frutas tropicais, algumas frutas na entressafra (mas não tanto, porque na Europa, a importância de “milhas alimentares” – a preocupação com a distância de transporte dos alimentos – está crescendo). Não subestimo os alimentos de conveniência, mas temos que nos aprofundar na qualidade e na relação entre preço e qualidade depois dos custos de entrega. Pelo contrário, não há espaço de relevância para derivados de carne, vinhos ou bebidas alcoólicas e nem para grandes quantidades de produtos “étnicos”: infelizmente, os latino-americanos na Itália são, na maioria, estudantes universitários sem dinheiro ou trabalhadores de baixa renda (ou simplesmente encantados com a cozinha italiana).

Por outro lado, as empresas italianas do ramo orgânico certamente estão interessadas em ampliar seus mercados na América Latina e em encontrar parceiros de confiança lá.   

Vinhos, queijos, azeite de oliva extra virgem, massas, vinagre balsâmico, molhos, temperos e frutas e legumes processados são os principais produtos na nossa carteira, mas nela você pode encontrar muitas outras especialidades alimentícias e alimentos para usos nutricionais particulares, como alimentos para bebês, alimentos para desportistas, alimentos livres de alérgenos etc.

E, já que existem alguns recursos através da Comissão Européia e dos governos italiano ou de certas regiões, podemos organizar alguma atividade promocional útil em cooperação com vocês.