Neste ano de 2014 em que se comemora o Ano Internacional da Agricultura Familiar, tem se multiplicado iniciativas de apoio a agricultura familiar no mundo inteiro. A coordenação do AIAF-2014 pela sociedade civil acaba de redigir um balanço do primeiro semestre informando a constituição e funcionamento de 60 Comitês Nacionais nos 5 continentes, responsáveis pelas programações em seus respectivos países e regiões. Tais programações incluem desde atividades de sensibilização da população como conferências, feiras, exposições, festivais, marchas populares e outras atividades de divulgação massiva na imprensa, assim como atos de promoção e incidência política que resultaram em compromissos de governos, criação de novas políticas públicas e de novas institucionalidades, a exemplo da constituição de uma Secretaria de Estado da Agricultura Familiar na Argentina no último mês de junho.

Não é para menos que as celebrações do Ano Internacional da Agricultura Familiar tem sido uma das comemorações promovidas pela ONU com maior mobilização da sociedade civil em todas as partes do mundo. Estima-se que existam em torno de 2,3 bilhões de pessoas em estabelecimentos de agricultura familiar em todo o planeta, responsáveis pela produção de alimentos e garantia da soberania alimentar de várias nações. São homens e mulheres, agricultores familiares de diversos tipos, que vai do camponês típico da América Latina aos pastores do continente asiático, passando por indígenas, comunidades tribais da África aos modernos agricultores da Europa e da América do Norte. Gente que habita diferentes partes do planeta, produz em distintos biomas e nas mais variadas condições, em comunidades espalhadas pelo mundo rural.

É uma felicidade que a agricultura familiar venha tomar seu lugar na sociedade urbana e moderna da atualidade com o reconhecimento da sua imensa contribuição tanto para a alimentação da humanidade como pela capacidade de proporcionar ocupação de mão de obra e geração de renda no campo, dinamização de economias locais, conservação da biodiversidade, proteção de bacias hidrográficas, guarda da paisagem, promoção de agroturismo, além da produção de fibras, couros, medicamentos, cosméticos, plantas ornamentais, têxteis e madeiras.

Mais do que isso é avançar para o reconhecimento da importância da articulação entre agricultura familiar, ruralidade e territórios rurais. A agricultura familiar, que por natureza é territorial, assim como o rural e seus territórios, ainda precisam de um reconhecimento nas políticas públicas que corresponda a essa contribuição para o desenvolvimento de países e continentes. O reconhecimento dessa indissociável vinculação precisa ainda ser traduzida numa ação multisetorial e integrada dos governos que ultrapasse a fronteira da atuação de secretarias e ministérios de agricultura, agrária ou agropecuária, para galgar os programas e orçamentos das diversas instituições públicas e conquistar um lugar especial nas peças do planejamento dos países, com um recorte especial de ruralidade que promova equidade, facilidade e ampliação de acesso ao conjunto das políticas públicas – uma espécie de tratamento de “o melhor para o meio rural”.

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