Filipe Sabará, Diretor de Negócios, Beraca
O termo inovação deriva do latim, “innovare”, que significa “renovar ou mudar”: “in” (para) + “novus” (novo) e se traduz por ideias, criações, renovações ou aperfeiçoamentos, que efetivados agregarão valores para os consumidores e promoverão retorno comercial para seus idealizadores.
“Ser novo” deve ser um caminho trilhado por todos os colaboradores de uma empresa, independente de níveis hierárquicos. Para obter um melhor resultado, toda a cadeia produtiva deve estar extremamente engajada em promover melhorias focadas na obtenção de diferentes resultados. Inovação, é um sistema de gestão que requer ferramentas específicas, regras e disciplina.
A principal diferença entre uma inovação e uma invenção é que “Invenção é a conversão de dinheiro em ideias. Inovação é a conversão de ideias em dinheiro”.
Necessitando de esforços cruciais rumo ao desenvolvimento e sucesso, inovação é um dos maiores paradigmas de nosso tempo. No mundo atual tudo precisa ser mais rápido, mais eficiente, mais produtivo, mais fácil e de preferência, mais barato. Melhorias tecnológicas possibilidadearam à indústria alcançar resultados impressionantes através de conceitos novos e melhores. Por outro lado, a tecnologia e a velocidade trouxeram consequências ambientais devastadoras. Logo, a primeira questão a ser levantada é: como inovar de uma forma ética e sustentável?
Desde o Eco 92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) discute sobre a iniciativa do BioComércio – um conceito inédito. BioComércio se refere à coleção, produção, transformação e comercialização de bens e serviços a partir da biodiversidade, sob o critério de sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Apesar de um número crescente de empresas alegarem que são “verdes”, e adotarem práticas ecologicamente corretas, não é suficiente. É necessário ser sustentável – o que significa fornecer produtos de cadeias transparentes e rastreáveis, em conformidade com padrões internacionais sócio-ambientais. Assim, a sustentabilidade é o resultado de três fatores independentes: meio-ambiente, vitalidade econômica e comunidades inseridas no mercado.
O primeiro passo para estabelecer uma produção sustentável é a exploração responsável por recursos naturais. Pesquisadores da Universidade de Maryland estimam que a renda gerada por recursos florestais são, aproximadamente, US$ 1,1 trilhão/ano. Neste ínterim, de acordo com um estudo do Dr. Philip M. Fearnside no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA), seria necessário gastar US$ 3 trilhões/ano para controlar os efeitos negativos do aquecimento global, consequentes do desmatamento.
Porém, a conservação de recursos naturais deve ser aliada às melhorias na qualidade de vida das populações locais. O melhor modo de alcançá-las é através de atividades neo-extrativistas, que utilizam tecnologias novas, que respeitam a identidade e estilo de vida das comunidades, com preços justos e política de compensação para os usos ambientais como água limpa e solo, créditos de carbono e reflorestamento.
O primeiro desafio relacionado ao fornecimento ético envolve a identificação de atividades sustentáveis que podem ser desempenhadas por comunidades locais em escala industrial dentro da capacidade ambiental. Além disso, cada produto proveniente do extrativismo possui características ecológicas, sócias e etno-botânicas distintas e requerem atenção especial com relação à absorção de trabalho, conhecimento da produção, manutenção de estoque, desenvolvimento de mercado, estabelecimento de validade e organização sócio-econômica.
O Programa de Valorização da Biodiversidade criado pela Beraca há 10 anos tem como objetivo garantir a rastreabilidade no fornecimento de matérias-primas da biomassa brasileira, particularmente da região Amazônica. Focado em comunidades locais, o nosso projeto contribui para melhorar o desenvolvimento regional e preservar a maior floresta tropical do mundo.
Acreditamos que a única forma de construir relações duradouras com comunidades locais é trazer o conhecimento tradicional e científico à escala industrial através de um processo sustentável. Transparência deve ser priorizada à colheita e contratos devem ser baseados na repartição de benefícios, considerando o uso de recursos biogenéticos e direitos de conhecimento intelectuais e tradicionalis. A empresa deve também investir em desenvolvimento local, o que inclui melhorias em infraestrutura, treinamentos, manejo e certificação das matérias-primas.
Enquanto o conceito de fornecimento sustentável é geralmente ligado ao relacionamento com os fornecedores, é crucial para as empresas que comuniquem seu trabalho junto aos seus públicos de interesse. Como informações referentes aos impactos envolvidos no produto final também deve ser disponibilizado para os consumidores.
Concluindo, a inovação deve estar sempre ligada à conservação ambiental e valorização social através de parcerias estabelecidas entre empresas, comunidades locais e consumidores. Antes de agir, a indústria deve analisar cautelosamente a realidade de nosso planeta e vulnerabilidades potenciais ao respeito da demanda crescente por produtos e serviços. Acima de tudo, uma inovação só é legítima se contribuir para um desenvolvimento sustentável em escala global.
Fonte: Revista Orgânicos&Cia