Em uma visita realizada recentemente à Bahia, o Planeta Orgânico encontrou-se com Marc Nuscheler, presidente da Cooperativa Cabruca de Produtores Orgânicos do Sul da Bahia, sediada em Ilhéus. Certificados pelo Instituto Biodinâmico (IBD), a cooperativa é composta, atualmente, por 34 produtores de cacau orgânico, distribuídos em 1500 hectares.
“Cabruca” é um sistema agroflorestal tradicional da região, o qual maneja culturas à sombra das árvores nativas da Mata Atlântica. A missão da cooperativa é a preservação desta mata através do incentivo no aumento da área de produção do cacau Cabruca.
A foto à direita mostra uma jovem planta de cacau resistente à doença vassoura-de-bruxa, enxertada a uma planta antiga. Ao fundo, vê-se as árvores nativas da Mata Atlântica. O acúmulo de matéria orgânica neste sistema de produção é bastante elevado.
Fundada em 2001, a Cooperativa está entrando para o terceiro ano de colheita de cacau orgânico. Segundo Marc, a comercialização do produto com um sobre preço, fato que se justificaria devido à forma de produção diferenciada, nos dois primeiros anos, foi relativamente difícil. Isto se deu por causa da escala menor de produção, quando comparada aos grandes produtores de cacau convencional. Aparentemente existe um mercado para o produto orgânico processado, vendido na forma de pasta ou torta, o qual é utilizado na fábrica de cosméticos e chocolates, entre outros. Por isso, a Cooperativa possui como meta prioritária para o ano de 2003 a elaboração de um projeto para a construção de uma unidade processadora do fruto, com capacidade de processar no mínimo 1 tonelada por dia. “Assim que o projeto estiver pronto, sairemos à procura das verbas necessárias para colocá-lo em prática”, diz Marc com um brilho nos olhos de quem vê uma luz no final do túnel.
Enquanto isso, vários produtores estão procurando a Cooperativa para associarem-se a ela pois, principalmente depois dos grandes malefícios causados aos cacaueiros pela doença “vassoura-de-bruxa”, a qual se deu, entre outros, pela intensificação da cultura, reconhecem a importância de se preservar o meio ambiente e de produzir em sistema agroecológico como é o caso da agrofloresta. “Eles produzem por convicção, não pelo dinheiro”, diz Marc Nuscheler. Quanto mais produtores se associarem a cooperativa, maiores serão as chances de produzir em maior escala, viabilizando o empreendimento do ponto de vista financeiro e tornando-o forte para concorrer com os grandes produtores como a Odebrecht, que está se fixando na mesma região e já comprou 1000 hectares para a produção de cacau orgânico.
Recentemente, alguns produtores vêm aproveitando a biodiversidade inerente ao sistema agroflorestal para diversificar a produção. Além de cacau orgânico, a cooperativa passou a oferecer palmito pupunha e açaí e uma miscelânea de frutas secas selecionadas. Uma unidade de secagem elétrica produz uma caixa de 100 pacotes por dia. Ideal seria secar as frutas em instalações que funcionam com energia solar. A Cooperativa de Produtores de Uma (Cooperuna) possui um aparelho do tipo que poderá passar a ser utilizado para a secagem dos frutos da Cooperativa Cabruca.
Até então, estes produtos estão sendo embalados e estocados até existirem em quantidade suficientemente grande para realizar a entrada no mercado. A previsão é de que sejam lançados como parte de uma linha de produtos especiais da rede de supermercados Pão de Açúcar.
O presidente da cooperativa que este ano participou da maior feira de produtos orgânicos, a Biofach em Nüremberg, na Alemanha, acredita que o produto orgânico ainda continuará sendo considerado como um nicho de mercado por muito tempo. Por isso é importante que se crie produtos com valor agregado, como por exemplo um “bombom especial feito de chocolate orgânico, típico da região de Ilhéus”, sonha ele em voz alta.
Do ponto de vista técnico, a cooperativa procura não influenciar demais nas decisões pessoais de cada produtor, pois “um sistema de produção criado por imposição não funciona, e eu não acredito que a agricultura orgânica funcione através de receitas e pacotes prontos para serem aplicados”, diz Marc.
Em sua fazenda em Una, ao sul de Ilhéus, Marc possui uma área de cerca de 40% do total em mata secundária, registrada como Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), ou seja, uma área de preservação absolutamente intocável, que deverá se recuperar ao longo do tempo, voltando ao seu estado inicial, de floresta primária.
As plantações de cacau Cabruca da fazenda estão sendo enriquecidas com a leguminosa gliricidia (Gliricidia sepium), que deverá dar um bom sombreamento aos cacaueiros, além de funcionar como melhoradora do solo através da fixação de nitrogênio do ar e do profundo alcance de suas raízes. Em um passo mais adiante será possível agregar outras espécies trepadeiras ou epifitas como a orquídea Vanila planifolia, mais conhecida pelo seu nome comum, a baunilha.
Marc Nuscheler nos mostra a diversidade de espécies em sua fazenda em Una: mamoeiros, bananeiras, fruta-pão, cupuaçu, palmeiras de açaí e muitas outras árvores frutíferas.
Durante a visita ainda observamos outras iniciativas que estão procurando incentivar o crescimento da produção de frutas e hortaliças orgânicas, na mesma região. Uma delas é a criação de uma Associação de Produtores Orgânicos ligada a Cooperativa de Produtores de Uma (Cooperuna). O interesse pelo assunto está em fase de crescimento, e no dia 30 de abril acontecerá um Seminário BioFach-Brasil, organizado pelo Planeta Orgânico em conjunto com a CABRUCA e o Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB).
Clique aqui para conhecer a programação do Seminário que aconteceu em Ilhéus dia 28 de abril de 2003
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