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A edição de setembro do “”American Journal of Clinical Nutrition”, da Inglaterra, apresentou estudo sobre a qualidade nutricional dos alimentos orgânicos, uma revisão da literatura publicada sobre a matéria. A equipe que escreveu o estudo, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, foi financiada pela Agência de Normas de Alimentos do Reino Unido (FSA)

Um grupo de cientistas reunidos pelo The Organic Center (TOC) e pela Associação de Comércio Orgânico (OTA), fez uma revisão mais rigorosa da literatura publicada. Os resultados diferem significativamente do estudo mais limitado da FSA. O novo estudo do TOC foi publicado sob o título de “Novas Evidências Confirmam a Superioridade Nutricional de Alimentos Orgânicos Vegetais”.

O estudo completo do TOC pode ser visto no site http://www.organic-center.org . Eis aqui os principais pontos do trabalho:

O estudo da FSA minimizou as descobertas positivas sobre os alimentos orgânicos. Em várias passagens, o relatório da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres mostrou que alimentos orgânicos tendem a apresentar mais nutrientes que os convencionais. O estudo da FSA omitiu medidas de importantes nutrientes, inclusive a capacidade total anti oxidante. A FSA usou dados de estudos muito antigos, com níveis de nutrientes de variedades de plantas que não estão mais no mercado.

O estudo de Londres encontrou diferenças estatisticamente significantes em favor dos orgânicos. Encontrou mais nitrogênio nos convencionais, quando se sabe que isso pode significar ameaça à saúde, por causa do potencial carcinogênico de compostos nitrogenados, como a nitrosamina.

As descobertas do TOC mostram diferenças significativas em favor dos orgânicos, em duas casses críticas de nutrientes: polifenóis e conteúdo total de antioxidantes.

Diferentemente do estudo de Londres, a revisão do The Organic Center comparou diferenças nutricionais em cultivos orgânicos e convencionais praticados em fazendas vizinhas, no mesmo tipo de solo e clima, com os mesmos sistemas de irrigação e época de colheita, e das mesmas variedades de plantas. O TOC examinou rigorosamente a qualidade dos métodos de análise e eliminou uma maior porcentagem da literatura publicada do que a FSA.

Com isso, foram encontrados níveis de 11 nutrientes em alimentos orgânicos superiores, em média, em 25% em relação aos convencionais.

A FSA não analisou as diferenças em importantes antioxidantes, nem na atividade total antioxidante, o que tem sido medido em vários estudos mais recentes.

Em resumo, as diferenças encontradas pela FSA se devem, principalmente:

    • À inclusão de estudos antigos (esta Agência reuniu estudos de 1958 a 2008, enquanto o TOC se baseou em trabalhos publicados a partir de 1980. Novos estudos atestam grande quantidade de nutrientes em alimentos orgânicos)
    • À aplicação, pelo TOC, de critérios muito mais rígidos de validade científica

É interessante verificar os resultados de anos de pesquisa, com rotações de quatro culturas em vários países da Europa, numa pesquisa coordenada pelo IBdF – Instituto de Pesquisas Biológico-Dinâmicas, assim como a revisão imparcial (que aponta inclusive a porcentagem, ainda que inferior, de resultados de qualidade favorável a produtos de cultivo agroquímico) de 1230 trabalhos feita pela pesquisadora norte-americana Virginia Worthington, (2000) “Nutrition and Biodynamics: Evidence for the Nutritional Superiority of Organic Crops”. In Biodynamics n. 224, (July/August, 1999), http://www.biodynamics.com/biodynamicsarticles/worth.html (20/08/2003)

É importante ler os relatórios finais do IAASTD ( International Assessment of Agricultural Knowledge, Science and Technology for Development, FAO; http://www.agassessment.org/) em Inglês e Espanhol que recomendam os sistemas orgânicos, destacando a Multi-funcionalidade dos Agroecossistemas e o livro do Dr. Jack Heinemann (Junho de 2009) Hope not Hype: The Future of Agriculture Guided by the International Assessment of Agricultural Knowledge, Science and Technology for Development; Publisher: TWN (ISBN: 978-983-2729-81-5), 176 p.

O IBD acrescenta que as vantagens dos orgânicos não se resumem em quantidades de nutrientes, quesito em que muitas vezes são superiores, mas também que: 

  • Criações orgânicas não usam remédios alopáticos, alguns violentos – como certos produtos para combater ectoparasitas (bernes, carrapatos e outros) e endoparasitas (vermes intestinais, principalmente), que podem deixar resíduos na carne e no leite. O pasto orgânico e todos os produtos orgânicos são cultivados sem agrotóxicos, sobre muitos dos quais pesa a suspeita de serem cancerígenos. Na década de 80, o leite consumido no estado de S. Paulo, quando foram realizados testes de resíduos pelo ITAL, em Campinas, SP, apresentou grande taxa de resíduos de agrotóxicos organoclorados. 
  • Os agrotóxicos têm efeito perverso também sobre o organismo Terra – sobre todas as formas de vida do solo e do ambiente geral. Agrotóxicos contaminam quase tudo o que encontram, destruindo a biodiversidade, contaminando a água dos rios e dos lençóis freáticos, promovendo a longo prazo o aumento das pragas, já que os agrotóxicos acabam com os inimigos naturais das pragas. Em 1962, Rachel Carlson publicou a famosa obra Silent Spring (Primavera Silenciosa), falando sobre a diminuição dos pássaros na América do Norte, como consequência da poluição causada pelos agrotóxicos na agricultura. O agrotóxico se concentra, progressivamente, nos alimentos. Por exemplo, o veneno é arrastado para o rio, contamina o peixe, que contamina a ave que o come, que contamina o homem que come a ave; no final da cadeia alimentar, em relação ao início dessa cadeia, concentração do agrotóxico pode ter aumentado milhões de vezes! 
  • São freqüentes os envenenamentos agudos e crônicos de trabalhadores no campo. Quem, no calor brasileiro, quer usar os caros e desconfortáveis equipamentos de proteção? Além disso, o homem rural brasileiro não tem idéia dos efeitos, no longo prazo, dos agrotóxicos no seu organismo. 
  • Finalmente, alguns alimentos orgânicos são melhores para a saúde do que os convencionais, é o que mostram os resultados preliminares de uma pesquisa realizada pela Universidade de Newcastle, no Reino Unido, com financiamento da União Européia. A pesquisa indica que frutas e vegetais orgânicos possuem, em relação aos seus similares não-orgânicos, até 40% mais antioxidantes, substâncias relacionadas à diminuição dos riscos de câncer e de doenças cardiovasculares. O leite orgânico, por exemplo, pode conter até 80% mais antioxidantes do que o comum. Os orgânicos também teriam maior teor de sais minerais como ferro e zinco. Os resultados sugerem ainda que eles contêm menos ácidos graxos trans, considerada a gordura mais prejudicial à saúde. O estudo, que começou há três anos, está em andamento. Foram analisadas frutas, legumes e rebanhos orgânicos e não-orgânicos cultivados ou criados lado a lado em vários locais da Europa.  
  • Mara Lucia de Azevedo Santos, bióloga pela Unesp, realizou pesquisa (2005) do pólen coletado por Apis mellifera no Brasil. Detectou presença de inseticidas organofosforados, organoclorados e piretróides sintéticos nas amostras de pólen apícola de todas as regiões do Brasil. Foram detectados os inseticidas Zolone, Aldrin, Dieldrin, Endrin, Heptacloro, além de outros organoclorados, de uso proibido no Brasil. Isso pode ser devido à persistência desses inseticidas no ambiente
    As nascentes e cursos d’água no Brasil têm sofrido um processo de destruição da mata que os envolve, chamada mata ciliar. Para realizar a certificação orgânica, o IBD exige que essas matas sejam recompostas. Isso tem recuperado muitas fontes d’água. A agricultura orgânica proíbe as queimadas, especialmente dos pastos, exige a manutenção ou a recuperação de matas ciliares e reservas arbóreas nas unidades de produção, recomenda o plantio de árvores nos cafezais e em outros cultivos, exige, muitas vezes, barreiras vegetais formadas por árvores, recomenda o sombreamento dos pastos com árvores, a própria agro-floresta é uma prática incentivada na agricultura orgânica – há muitas produções orgânicas agro-florestais. Tudo isso recupera e protege nascentes e rios. 
  • Até na questão do aquecimento da Terra os orgânicos apresentam vantagens. Uma das causas do aquecimento da Terra, é a emissão de gás carbônico, que forma uma manta isolante e aquecedora sobre o nosso planeta. A agricultura orgânica proíbe as queimadas, que são grandes emissoras desse gás, exige a manutenção ou a recuperação de matas ciliares e reservas arbóreas nas unidades de produção, exige, muitas vezes, barreiras vegetais formadas por árvores, recomenda o sombreamento dos pastos com árvores, a própria agro-floresta é uma prática incentivada na agricultura orgânica – há muitas produções orgânicas agro-florestais. As árvores capturam o gás carbônico, no processo da fotossíntese, e liberam oxigênio, contribuindo para o retorno do carbono à biomassa. O plantio de árvores também protege e aumenta a biodiversidade. Outra forma de emissão de carbono para a atmosfera é a queima de derivados de petróleo. A agricultura orgânica incentiva a tecnologia branda, menos dependente do petróleo, a diminuição das operações mecanizadas, substitui os adubos nitrogenados fabricados a partir do petróleo por formas naturais de adubação, economiza o petróleo empregado na fabricação de outros insumos proibidos nesse sistema de produção, incentiva o uso de formas alternativas de energia, como a solar e a eólica

Assim, a agricultura e a pecuária orgânicas, além de todas as outras vantagens, colabora para a diminuição do aquecimento global.

 Alexandre Harkaly e José Pedro Santiago
www.ibd.com.br

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orgcenterlogo1 Resposta do Organic Center ao Estudo da FSA




No dia 29 de julho, a Food Standards Agency (FSA) (Agência de Padrões Alimentares) divulgou um estudo que examinou artigos publicados nos últimos 50 anos sobre o conteúdo nutricional e diferenças na saúde na comparação entre alimentos orgânicos e convencionais. Gill Fine, diretora da FSA para assuntos relativos à escolha do consumidor e saúde alimentar, insistiu que a agência “apóia a escolha do consumidor e não é nem a favor nem contra a alimentação orgânica”.

“Este estudo não quer dizer que as pessoas não devam comer alimentos orgânicos. O que o estudo mostra é que existe pouca ou nenhuma diferença nutricional entre alimentos produzidos de forma orgânica ou convencional, e que não há evidência de benefícios adicionais à saúde oriundos do fato de se comer alimentos orgânicos,” Fine disse. Os comentários da FSA provocaram uma resposta previsivelmente feroz da Soil Association (Associação do Solo), um dos órgãos que certificam alimentos orgânicos no Reino Unido. Peter Melchett, o diretor de políticas da associação, disse que estava “decepcionado” com as conclusões do estudo. “Existem estudos limitados disponíveis sobre os benefícios à saúde dos alimentos orgânicos contra os não orgânicos. Sem pesquisa longitudinal e em grande escala, é difícil chegar a conclusões claras e abrangentes sobre esta questão, o que foi reconhecido pelos autores do exame da FSA.”

 The Organic Center publicou uma resposta rebatendo diversas afirmações que constam do referido artigo da FSA.

Os autores desta resposta do Organic Center afimam que “No seu relatório escrito, a equipe londrina diminuiu a importância de conclusões positivas a favor dos alimentos orgânicos”

Confira abaixo a tradução da resposta do Organic Center que o Planeta Orgânico traz para você.

Julho de 2009

Autor(es): Charles Benbrook, Ph.D.
Cientista Chefe – The Organic Center   

Donald R. Davis, PhD.
Cientista de Pesquisa Aposentado da Universidade do Texas em Austin 

Preston K. Andrews
Departamento de Horticultura e Arquitetura Paisagística da Universidade Estadual de Washington.  

Apareceu hoje uma cópia prévia de um estudo que será publicado na edição de setembro do American Journal of Clinical Research (Revista Americana de Pesquisas Clínicas). O artigo publicado, “Nutritional quality of organic food: a systematic review” (Qualidade nutricional dos alimentos orgânicos: um exame sistemático), foi escrito por uma equipe coordenada por Alan Dangour, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, e financiado pela Agência de Padrões Alimentares do Reino Unido (Food Standards Agency – FSA). 

No seu relatório escrito, a equipe londrina diminuiu a importância de conclusões positivas a favor dos alimentos orgânicos. Em vários casos, a análise da equipe mostrou que os alimentos orgânicos tendem a ter maior densidade de nutrientes do que os alimentos convencionais. Ademais, o estudo omitiu as medições de alguns nutrientes importantes, inclusive a capacidade total de antioxidantes. Também faltavam os controles de qualidade contidos num estudo concorrente divulgado em 2008 por The Organic Center (TOC – Centro Orgânico). Por último, a equipe financiada pela FSA também usou dados de estudos muito antigos que avaliavam os níveis de nutrientes em variedades de plantas que não mais se encontram no mercado.

A equipe londrina informou ter encontrado diferenças estatisticamente significativas entre culturas de plantio orgânico e convencional em três dentre treze categorias de nutrientes. As diferenças significativas citadas pela equipe incluem o nitrogênio, que era mais alto em culturas convencionais, e o fósforo e os ácidos tituláveis – ambos eram mais altos nas culturas orgânicas. Níveis elevados de nitrogênio nos alimentos são considerados, pela maioria dos cientistas, como sendo um perigo para a saúde pública devido ao potencial dos compostos cancerígenos de nitrosamina de se formarem no trato gastrointestinal dos seres humanos. Por este motivo, esta descoberta de níveis mais altos de nitrogênio em alimentos convencionais vai a favor das culturas orgânicas, como também as duas outras diferenças.   

Apesar do fato que estas três categorias de nutrientes favoreceram os alimentos orgânicos, e nenhuma favoreceu os alimentos cultivados convencionalmente, a equipe londrina concluiu que não existem diferenças nutricionais entre cultivos orgânicos e convencionais. 

Uma equipe de cientistas convocada por The Organic Center (TOC) realizou um exame semelhante, mas mais rigoroso, da mesma literatura. A equipe do TOC analisou pesquisas publicadas que tratavam exclusivamente de alimentos oriundos de plantas. Os resultados diferem significativamente do exame mais restrito da FSA e estão relatados no estudo New Evidence Confirms the Nutritional Superiority of Plant-Based Organic Foods.” (Novas Evidências Confirmam a Superioridade Nutricional de Alimentos Orgânicos Oriundos de Plantas).

As conclusões do TOC são semelhantes no caso de alguns nutrientes analisados pela equipe da FSA, mas diferem significativamente em duas classes essenciais de nutrientes, de grande importância na promoção da saúde humana – polifenóis totais e conteúdo total de antioxidantes. A equipe da FSA não incluiu a capacidade total de antioxidantes entre os nutrientes estudados, e não encontrou nenhuma diferença no conteúdo fenólico em 80 comparações realizadas em 13 estudos.

Ao contrário do estudo londrino, o exame do Organic Center se concentrou em diferenças nutricionais entre “pares combinados” de culturas desenvolvidas em fazendas próximas, no mesmo tipo de solo, com os mesmos sistemas de irrigação e períodos de colheita, e cultivados a partir da mesma variedade de planta. Também fez uma triagem rigorosa dos estudos em relação à qualidade dos métodos analíticos usados na medição de níveis de nutrientes, e excluiu de maiores considerações um percentual muito maior da literatura publicada do que aquele desconsiderado pela equipe da FSA. 

Enquanto a equipe da FSA encontrou 80 comparações de compostos fenólicos, a equipe do TOC se concentrou na medição mais precisa de ácidos fenólicos totais, ou polifenóis totais, e encontrou apenas 25 “pares combinados” que eram válidos cientificamente. Ao colocar juntos, em sua análise estatística, os resultados de vários ácidos fenólicos específicos, a equipe da FSA provavelmente se afastou da precisão estatística. 

Ao invés disto, a equipe do TOC se focou em estudos que informavam valores para ácidos fenólicos totais, e também aplicou critérios de seleção mais rigorosos a fim de excluir estudos de qualidade inferior.   

A equipe do TOC descobriu –

  • Vinte e cinco pares combinados de culturas orgânicas e convencionais para os quais foram relatados dados de ácidos fenólicos totais. Os níveis eram mais altos nas culturas orgânicas em 18 destes 25 casos; as culturas convencionais eram mais altas em 6. Em cinco dos pares combinados, os níveis de acido fenólico eram 20% mais altos, ou mais, nas culturas orgânicas. Em média, nos 25 pares combinados, os fenólicos totais estavam 10% mais altos nas amostras orgânicas, em comparação com as culturas convencionais.
  • Em sete dentre oito pares combinados onde havia dados de capacidade total de antioxidantes, os níveis eram mais altos na cultura orgânica. De 15 pares combinados para análise do antioxidante chave quercetina, 13 mostraram valores mais altos nos alimentos orgânicos. No caso do kaempferol, outro antioxidante importante, as amostras orgânicas eram mais altas em seis casos, ao passo que cinco eram mais altas nas culturas convencionais.  

No estudo do TOC, havia um número bastante grande de pares combinados para comparação dos níveis de 11 nutrientes, inclusive cinco dos nutrientes no exame da FSA. Para os cinco nutrientes abordados em cada exame, a equipe do TOC estava, de modo geral, de acordo com as conclusões da FSA em relação a dois (nitrogênio e fósforo).

 A equipe londrina não avaliou diferenças em antioxidantes chave individuais, nem na atividade antioxidante total – nutrientes importantes que foram medidos em vários estudos mais recentes.

Considerando todos os pares combinados válidos e os 11 nutrientes incluídos no estudo do TOC, os níveis de nutrientes nos alimentos orgânicos ficaram 25% mais altos, em média, do que nos alimentos convencionais. Dado que algumas das diferenças mais significativas que favorecem os alimentos orgânicos se referiam a nutrientes antioxidantes chave dos quais a maior parte dos americanos não ingerem o suficiente na maioria dos dias, a equipe concluiu que o consumo de frutas e vegetais orgânicos, em particular, oferecia benefícios significativos à saúde, aproximadamente o equivalente a uma porção adicional de uma fruta ou legume de conteúdo moderado de nutrientes num dia de consumo médio.

Porque os Resultados Diferentes?

Um exame da metodologia e do projeto do estudo da equipe londrina indica claramente porque os estudos da FSA e do Organic Center chegaram a algumas conclusões diferentes.

Inclusão de Estudos Mais Antigos

O exame realizado pela FSA incluiu estudos que cobriam um período de mais de 50 anos: de janeiro de 1958 até fevereiro de 2008. A equipe do TOC incluiu estudos publicados desde 1980. A maior parte dos estudos publicados antes de 1980 foram julgados falhos para efeitos de comparação do conteúdo de nutrientes das culturas convencionais e orgânicas atuais. 

A maioria dos estudos mais antigos usavam variedades de plantas que não são mais usadas, e não mediram, ou não relataram, fenólicos totais ou capacidade de antioxidantes (já que estes nutrientes estavam apenas sendo descobertos). Os estudos mais antigos usavam métodos analíticos que hoje são considerados inferiores, em comparação com os métodos modernos.

Além disso, desde os anos cinqüenta, os profissionais que lidam com melhoramento e cultivo de plantas têm aumentado constantemente o rendimento das culturas alimentares, levando, em alguns casos, à diluição de nutrientes. Em 2004, um de nós (Donald R. Davis) relatou evidências de uma queda geral em alguns níveis de nutrientes em 43 culturas de horta, entre os anos de 1950 e 1999 (Davis et al., “Changes in USDA Food Composition Data for 43 Garden Crops, 1950 to 1999” (Mudanças nos Dados de Composição Alimentar do USDA em 43 Culturas de Horta, de 1950 e 1999) – Journal of the American College of Nutrition, Vol. 23(6): 669-682; clique em summary of the Davis paper para ver um resumo desta matéria). 

Da mesma forma, um relatório do Organic Center elaborado por Brian Halweil descreve detalhadamente as evidências ligando rendimentos mais altos à queda de nutrientes (“Still No Free Lunch: Nutrient levels in the U.S. food supply eroded by pursuit of high yields.”) (Nada é de Graça: Níveis de nutrientes na oferta de alimentos nos EUA são corroídos pela busca por altos rendimentos.)

Assim, os resultados do estudo da FSA provavelmente ficaram confusos devido à decisão da equipe de incluir dados de mais de três décadas atrás.

Novos Estudos Indicam Maior Densidade Nutricional em Alimentos Orgânicos

Desde fevereiro de 2008, a data limite do estudo londrino, uns 15 novos estudos foram publicados, a maioria dos quais usa projetos e métodos analíticos de melhor qualidade com base na crítica de estudos mais antigos. O Organic Center está atualizando sua análise anterior com estes estudos adicionais. Estes novos estudos geralmente reforçam as conclusões apresentadas no relatório do TOC de março de 2008, especialmente nos casos do nitrogênio (mais alto nas culturas convencionais, o que é uma desvantagem), e de Vitamina C, fenólicos totais e capacidade total de antioxidantes, que estão normalmente em maior quantidade nos alimentos cultivados organicamente.

O estudo do Organic Center conclui que o conteúdo de proteína e de beta-caroteno, um precursor da Vitamina A, são normalmente mais altos em alimentos cultivados de forma convencional, porém, já que os dois estão presentes em níveis altos ou excessivos nas dietas da maioria dos americanos, a possível vantagem nutricional oferecida por estas diferenças não é nem de longe tão importante quanto os níveis mais altos de fenólicos e antioxidantes nos alimentos orgânicos.  

Exclusão de Estudos que Analisam Resultados de Fazendas “Integradas”

A equipe da FSA excluiu estudos que comparavam alimentos orgânicos aos sistemas de produção “integrados” e biodinâmicos, declarando que os sistemas “integrados” não são convencionais. A maioria dos produtores americanos convencionais de frutas e legumes estão usando agora níveis avançados de Manejo Integrado de Pragas. Portanto, os sistemas “integrados” constituem hoje uma descrição mais precisa da agricultura “convencional” nos EUA do que uma definição fundamentada em monocultura, pulverização agendada de pesticidas, e aplicação em excesso de fertilizantes químicos. A equipe londrina não relatou no artigo publicado quais os estudos “integrados” que foram desconsiderados, mas suspeitamos que alguns estudos americanos importantes possam ter sido eliminados.  

Estudo do TOC Aplicou Crivos Muito Mais Rigorosos para Validade Científica

As duas equipes concordam que muitos estudos publicados têm falhas metodológicas, e desta forma, não deveriam ser incluídos em estudos comparativos. Mas as equipes da FSA e do TOC usaram regras muito diferentes na triagem de estudos pela qualidade cientifica e na seleção de pares combinados para análise.  

A equipe da FSA cita cinco critérios: definição do sistema orgânico; especificação da variedade da planta (isto é, genética da cultura); declaração dos nutrientes analisados; descrição do método laboratorial empregado; e uma declaração dos métodos estatísticos usados na avaliação das diferenças. A equipe londrina declara que exigia simplesmente alguma discussão destas questões em artigos publicados, mas não traçou nem aplicou qualquer parâmetro de qualidade no julgamento da validade cientifica. 

A equipe do Organic Center se concentrou nos mesmos fatores (mais vários outros) e usou critérios declarados e objetivos para avaliar tais fatores. A equipe do TOC examinou o poder estatístico e a confiabilidade dos métodos analíticos, um processo que eliminou dezenas de resultados. Finalmente, a equipe do TOC insistiu em obter uma combinação próxima de solos, genética de plantas (variedade), métodos e períodos de colheita, e sistemas de irrigação, todos sendo fatores que podem criar um viés nos resultados de um estudo comparativo.

Inclusão de Estudos de Cestas de Mercado

A equipe da FSA incluiu alguns estudos de cesta de mercado, para os quais não há como saber as circunstâncias específicas dos locais das fazendas, a genética das plantas, o tipo de solo, ou método e período de colheita. No estudo do Organic Center, os resultados de cestas de mercado foram julgados como “inválidos” com base em vários critérios de triagem do controle de qualidade.

Este exame também está disponível na forma do documento em pdf abaixo:

Review of FSA Sponsored Study on Nutrient Content