por Sylvia Wachsner, Sociedade Nacional de Agricultura /OrganicsNet
O Censo realizado pelo IBGE em 2006 divulgou que os estabelecimentos orgânicos brasileiros representavam 1,8% dos produtores agrícolas entrevistados. Desse total, a produção de lavouras temporárias representa 33%, a criação de pequenos animais chega a 42% e as lavouras permanentes ficam com 10%. Uma boa parte dos produtores orgânicos brasileiros é composta por centenas de agricultores familiares e pequenos produtores rurais, dos quais 43% possuem uma área inferior a 10 hectares.
No Brasil, a cadeia da produção orgânica está sendo construída gradualmente. Diversos obstáculos, como os baixos investimentos realizados nas agroindústrias e na produção, que têm dificuldade de gerar escala devem ser enfrentados. Desta forma, a demanda dos consumidores atraídos pelo conceito de alimentos orgânicos ainda é bem maior do que a oferta desses produtos. Também é necessário um avanço quantitativo em termos de pesquisa, assistência técnica especializada e produção de insumos e sementes. Embora a expressão “agricultura orgânica” aparente uma atividade simples, requisitos como a adubação natural, conservação da área e proibição de fertilizantes químicos, dentre outros, requerem cuidados específicos – e bem distantes da agricultura convencional, que dispõe de ferramentas próprias.
Os supermercados estão percebendo o potencial do setor orgânico e a importância na conquista de maior espaço nas gôndolas dos supermercados, mas a dependência dos pequenos produtores em somente comercializar seus produtos no grande varejo tem seus riscos. Uma estratégia mundial dos grandes varejistas e, para alimentos convencionais e orgânicos, o investimento em marcas próprias como forma de crescimento, terceirizando a produção e investindo no marketing dos produtos. Para os pequenos produtores orgânicos a industrialização de um elevado percentagem da sua produção para um cliente e a vinculação da receita mensal de só uma fonte deve ser bem pensada. Os pequenos produtores requerem integração e organização– seja em cooperativas ou grupos – melhorando sua atratividade e favorecendo negociações. OrganicsNet considera que o mercado interno continua sendo muito importante para os produtores brasileiros, sobretudo para as pequenas agroindústrias e produtores familiares, cuja produção é limitada. A implantação, a partir de janeiro de 2011, do selo único de certificação brasileiro “Orgânicos Brasil” ajudará a organizar os produtos ofertados, deverá trazer transparência ao sistema, construir estatísticas e levar ao público informações sobre os alimentos e produtos consumidos. Pelo outro lado enquadrar a produção orgânica num conjunto de instruções normativas e regulamentos resultará num enorme desafio para os produtores.
A exportação é um empreendimento muito mais pesado, requer grande escala, rastreabilidade, logística eficiente, estabilidade e padronização na oferta de produtos. A conseqüência é que poucas são as empresas equipadas para atender as exigências dos mercados internacionais e no caso dos alimentos orgânicos brasileiros – não as commodities – os preços ainda são superiores quando comparados com similares nos mercados de Europa e Estados Unidos.
OrganicsNet é da opinião que, com a implantação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, os investimentos na agricultura orgânica aumentem a oferta de insumos, sementes e pesquisa que contribuam para o incremento da produtividade de nosso pais. Consideramos que o mercado interno é muito importante para os produtores brasileiros, sobretudo para as pequenas agroindústrias e produtores familiares, cuja produção é limitada e que na comercialização dos produtos o agregar valor e todas as formas de comercialização devem ser consideradas, sem para isso desprezar o grande varejo.
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