Luís Alexandre Louzada

A produção ainda é tímida, mas sinaliza com grandes perspectivas de crescimento, apesar de poucas e boas iniciativas.

Os frangos são criados em liberdade e se alimentam de ração orgânica e balanceada

Carne com proteína em seu estado mais puro, com vitaminas e sais minerais, livre de medicamentos e substâncias químicas; animais criados em liberdade, que se comportam de maneira natural, recebendo ração orgânica e balanceada e cuidados especiais. Essas são algumas características que contribuem para que o frango orgânico seja considerado um produto sustentável, saudável e de maior qualidade.

“Os frangos produzidos em sistemas orgânicos são manejados para a máxima sustentabilidade do sistema produtivo, da propriedade rural, do bem-estar animal, da preservação ambiental e para agregar valor aos ingredientes para ração produzidos na propriedade” explica o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves,  Elsio Figueiredo.

Já no sistema convencional, o objetivo é que os animais cresçam e engordem em pouco tempo. Para isso, as aves são criadas na densidade de 30 kg por metro quadrado, recebem luz artificial, e têm sua genética melhorada para alta conversão de ração em carne de qualidade e crescimento rápido. Os frangos são ainda submetidos a antibióticos e outros remédios, inclusive estimulantes, e alcançam idade de abate aos 44 dias para o mercado brasileiro – ao contrário dos orgânicos, que tem crescimento lento e são abatidos com um mínimo de 81 dias de idade.

“Os dois sistemas apresentam os mesmos benefícios se forem produzidos conforme as recomendações técnicas. Ambos são alimentos saudáveis e nutritivos. A qualidade dos dois produtos, quando certificada, é mais do que suficiente para a alimentação humana” – acrescenta Elsio Figueiredo.

Ofertas

O diretor da Domaine, no Espírito Santo, Joaquim Silva, foi o primeiro produtor de frango orgânico certificado no Brasil. Sua propriedade, na região serrana de Pedra Azul, em Domingos Martins, cobre mais de um milhão de metros quadrados preservados. Ele produz alimentos orgânicos e biodinâmicos desde 1999, e atualmente sua criação de frangos caipiras alcança algo em torno de 40 toneladas por mês, vendidas para todo o Brasil, com a marca Coq, em pequenas quantidades.

O trabalho desenvolvido por Joaquim Silva mereceu até mesmo a atenção do setor turístico. Sua estação agroecológica foi incluída no Circuito de Agroecoturismo, voltado para a prática do turismo rural em propriedades ecológicas que respeitam a natureza.  Os visitantes ficam hospedados em uma pousada local, aproveitam o passeio para conhecer a região, e experimentam as delícias gastronômicas da serra, em dois restaurantes e uma loja de produtos orgânicos e gourmets, devidamente certificados.

Apesar de acreditar na expansão do mercado orgânico, Joaquim Silva alerta que há alguns obstáculos a serem superados. “Depois de janeiro de 2011, com a vigência da Lei dos Orgânicos, o cenário começou a mudar. Mas ainda há gargalos como a logística, o preço final, as margens de comercialização e a seriedade na distribuição”.

Em outro pólo, a paulista Korin investe cada vez mais em sua produção de frangos, iniciada em 2008. A média de  vendas em 2010 ultrapassou os R$ 360 mil, e somente de janeiro a agosto de 2011 atingiu quase R$ 320 mil.

Atualmente, a empresa mantém alojadas 72 mil aves no sistema orgânico, ocupando 18 hectares da propriedade localizada em Itirapina (SP), a cerca de 25 km do abatedouro, situado em Ipeúna (SP). As aves seguem para as grandes redes de distribuição e lojas especializadas na venda de orgânicos, em todo o território nacional. Entre os produtos comercializados, frango inteiro congelado, cortes congelados (filé de peito, filezinho), e sopa instantânea são algumas das opções.

Consumidor atento

O consumidor deve estar atento para as orientações de uso do produto na embalagem

Para o consumidor, as ofertas crescem, mas nem sempre no mesmo ritmo da boa informação. Preocupado com a conscientização do público, Luiz Carlos Demattê, gerente industrial da Korin Agropecuária, opta pela transparência. “Precisamos compreender que um dos maiores benefícios da produção orgânica reflete-se nas questões ambientais da propriedade rural, assim como nas relações de trabalho nos ambientes produtivos. Quero dizer com isso que as propriedades orgânicas cumprem a legislação ambiental do país e, por isso, quando uma pessoa compra um produto orgânico é importante que ela saiba que está, na realidade, investindo em sustentabilidade sócio-ambiental e, portanto, está investindo num futuro melhor para as próximas gerações”.

Com relação à segurança alimentar, o consumidor, segundo Demattê, deve observar e seguir as orientações contidas na embalagem, sobre o manuseio e conservação do produto – no caso, o frango orgânico:

“Este alimento, se manuseado incorretamente e/ou consumido cru, pode causar danos à saúde. Para a sua segurança, siga as instruções: mantenha resfriado ou congelado. Descongele somente no refrigerador ou microondas. Mantenha o produto cru, separado de outros alimentos. Lave com água e sabão as superfícies de trabalho (incluindo as tábuas de corte), utensílios e mãos depois de manusear o produto cru. Consuma somente após cozido, frito ou assado completamente.”

Elsio Figueiredo, pesquisador da Embrapa, também dá algumas dicas: “Os frangos orgânicos têm uma embalagem apropriada e um selo com o nome da certificadora, e todos os detalhes que comprovam que o processo e o produto foram certificados. É preciso observar as condições da embalagem, o prazo de validade do produto, se existe uma tabela nutricional no rótulo e se existe um responsável técnico a quem se dirigir em caso de dúvidas. Além disso, o consumidor deve observar as condições de conservação do produto. Se for fresco, deve ter a aparência normal de carne fresca. Se for congelado, não se deve aceitar produto que está descongelado”.

Pesquisas

Ultimamente, pesquisas têm sido desenvolvidas para melhorar a qualidade e a produção do frango orgânico. E a Embrapa é uma das instituições à frente dessa linha, apesar de alguns obstáculos.

“A Embrapa desenvolveu parte da pesquisa para suporte à cadeia do frango orgânico. Elaborou práticas e processos para uma produção de frangos de qualidade, que permita o sistema de produção ser competitivo, utilizando genética, rações e controle de doenças apropriados. No entanto, as pesquisas encontram dificuldades porque não existem muitos produtores nesse sistema, e o tipo de pesquisa necessário deve ser efetuado mais na propriedade do produtor que nas estações experimentais” – ressaltou Elsio Figueiredo.

Serviço
Para saber mais: Domaine – www.domaine.com.br
Korin – www.korin.com.br
Embrapa Suínos e Aves – www.cnpsa.embrapa.br

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