O Instituto Terra é uma associação civil, sem fins lucrativos fundado em 1998 por Sebastião Ribeiro Salgado e Lélia Deluiz Wanick Salgado. Os principais objetivos do Instituto Terra são os de promover, executar e apoiar programas e ações concretas de conservação, recuperação, gestão e educação ambiental na Mata Atlântica da Bacia do Vale do Rio Doce, através de quatro componentes: recuperação ambiental, pesquisa, educação e manejo de microbacias. Para implementação dos componentes de educação e pesquisa foi construído o Centro de Educação e de Recuperação Ambiental (CERA) com sede na RPPN Fazenda Bulcão.
O Planeta Orgânico fez uma visita ao Instituto Terra em 10 de setembro, ocasião em que promoveu no local um Seminário BioFach-Brasil sobre Produção Orgânica.
Difícil dizer o que mais nos impressionou nesta visita: se foi a visão do auditório do Instituto Terra ocupado por pessoas interessadas na produção orgânica, se foi o entusiasmo da equipe do Instituto Terra representada por Aline Tristão e Mauro Teixeira, ou se foram as 130 diferentes espécies de mudas de árvores nativas que aguardam sua vez de participar deste belo projeto. O que ficou plantado definitivamente em todos nós foi uma semente de esperança de que projetos como este frutifiquem pelo Brasil.
Quando começou a construção do Instituto Terra e o que vem realizando desde sua fundação? |
A construção começou há 1 ano e meio. Só tinha o curral. Hoje temos salas de aulas, refeitório, auditório e alojamento para estudantes e professores. (Obsv. do Planeta Orgânico: excelentes alojamentos).
O Instituto Terra realiza em parceria com a Prefeitura Municipal de Aimorés, um projeto visando o desenvolvimento sustentável da zona rural do município. Para tanto, foi adotado o modelo de planejamento por microbacia, nas quais os trabalhos vêm sendo desenvolvidos em conjunto com os produtores rurais e comunidades locais.
O auditório é muito bonito! Qual a sua capacidade? |
A princípio pensamos em fazer um simples auditório, mas nos demos conta que a vida cultural em Aimorés tinha acabado. Tinham dois cinemas que fecharam, havia um teatro que também acabou. As pessoas foram embora para Belo Horizonte ou para Vitória.
Há crianças aqui em Aimorés, e mesmo adultos, que jamais foram ao cinema. Então resolvemos fazer do auditório um cinema e um teatro também. Fizemos então o auditório-cinema-teatro. É semelhante ao que existe na cidade de Parma, Itália.
O auditório é todo de eucalipto, o palco tem uma moldura de pedra e os bancos em madeira feitos pelos marceneiros da região. O auditório com esses bancos tem a capacidade para 180 até 200 pessoas sentadas. Temos a intenção de passar filmes sensíveis para eles como “Cinema Paradiso” por ex., pois eles aqui só conhecem filmes de violência e o que vem na televisão.
PO – Esta visão de fazer uma RPPM não é uma visão comum. O mais frequente são fazendeiros cujas terras estão exauridas, continuarem resistindo à ideia de tombar as terras para serem recuperadas. |
Aqui tinha 70% de Mata Atlântica em 1931. Hoje sobraram 0.3%. 97% do território de Aimorés hoje em dia é ocupado por gado. Principalmente de corte. 1 hectare hoje não dá nem para 1 cabeça, nem ½ cabeça de gado. O que nós queremos é alternativa para isto. Na produção, na comercialização, na certificação, no marketing.
A RPPN Fazenda Bulcão possui 676 hectares, localiza-se no município de Aimorés e insere-se no domínio de Mata Atlântica. A propriedade é administrada pelo Instituto Terra e trata-se da primeira RPPN criada em uma área degradada de Mata Atlântica, com o intuito de promover um processo de recuperação ambiental associado a atividades educacionais, tendo como meta criar um modelo de manejo para recuperação ambiental a ser replicado em propriedades no Vale do Rio Doce e outras regiões da Mata Atlântica.
E como funcionam os cursos que o Instituto Terra promove? |
O programa educacional tem como sua principal ferramenta o CERA (Centro de Educação e de Recuperação Ambiental). Através do Centro tem-se a intenção de difundir as tecnologias desenvolvidas; fomentar um processo educacional com diferentes públicos sobre as questões ambientais prioritárias, promovendo uma reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento e potencializando agentes de transformação rumo ao modelo de desenvolvimento sustentável. A estratégia do projeto é trabalhar o público que tenha importância acentuada para a recuperação e conservação ambiental local e regional tais como: professores de escolas técnicas agrícolas e florestais; professores de escolas de ensino fundamental e médio, englobando a rede pública de ensino e a categoria docente ligada ao MST (Movimento dos Sem Terra); prefeitos, secretários de meio ambiente, lideranças políticas e principalmente os produtores rurais da região. As atividades do CERA foram iniciadas em 19 de fevereiro de 2002. Até o momento já foram realizados 33 cursos ou eventos para 689 alunos de 24 diferentes municípios de Minas Gerais e Espírito Santo. Como parte do programa com o MST, já foram atendidos técnicos agrícolas e produtores de municípios de Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro. |
Gladys Nunes, assessora ambiental do Instituto Estadual de Florestas estava presente durante nossa visita e deu seu depoimento: “O IEF é uma instituição pública que tem convênio com o Instituto Terra desde a criação da RPPM. Foi o IEF que deu o título de RPPM para a fazenda Bulcão. Nós começamos aqui em 2000 com um grande seminário. Este seminário tinham representantes de várias Instituições para programar o que seria feito pelo Instituto, o público, que tipo de atividades. Uma das atividades foi educação ambiental para a rede pública e particular.” disse Gladys. |
Como era Aimorés antes da devastação da Mata Atlântica nesta região? |
A região de Aimorés era originalmente recoberta por exuberantes florestas pertencentes ao bioma da Mata Atlântica. O processo de colonização acarretou a exploração da madeira e o desmatamento generalizado. A construção da ferrovia Vitória-Minas acelerou os distúrbios ambientais, devido à elevada demanda por lenha e aos incêndios provenientes de fagulhas lançadas pelas locomotivas. Além disso, outras atividades agrícolas como a cafeicultura e a pecuária foram realizadas sem a mínima preocupação com a conservação dos recursos naturais, contribuindo para o estado atual de degradação da região. A ausência de oportunidade econômica e a degradação ambiental definiram um quadro de êxodo rural da população local rural e a estagnação das áreas urbanas do município. Entretanto, mesmo diante deste quadro de degradação da mata Atlântica, a região de Aimorés foi considerada como de alta importância biológica dentre as 182 áreas prioritárias para conservação de biodiversidade pelo “Workshop Prioridades para Conservação da Mata Atlântica e Campos Sulinos”.
O Instituto Terra já é um centro de referência para pesquisa da Mata Atlântica. |
Aqui é o grande laboratório que nós desenvolvemos, trazendo as informações e a nossa missão é passar adiante estas informações. Nós queremos ser sim um centro de excelência e de pesquisa, mas em recuperação de Mata Atlântica, produção de sementes e mudas de Mata Atlântica da região. Amanhã à tarde chegará um pessoal que trabalha no projeto do Ministério do Meio Ambiente em Belo Horizonte com a FAO. Eles estarão aqui para divulgar o PRONAF Florestal, que é a nova medida com uma linha de financiamento para a recuperação da Mata Atlântica pelos próximos 4 anos. É uma linha que pode estimular os produtores. E nós estamos dentro da área.
Vocês tem um viveiro de mais de 130 espécies de árvores nativas. Qual a capacidade deste viveiro? |
Quem responde a esta pergunta é Alexandre Bernardino Nicole, Técnico de Agropecuária com especialização na área de produção de sementes e mudas. |
Temos capacidade para 120.000 mudas, vamos chegar a 800.000 mudas este ano e a proposta do Sebastião é de chegar a 2 milhões de mudas, para incentivar o reflorestamento da região.
Aqui nós temos matéria prima que nós usamos no enchimento das sacolinhas que é terra de subsolo, areia lavada de rio para evitar que venha com sementes de erva daninha, e resíduo de reciclagem de lixo da usina de Aimorés, que nós usamos como fonte de matéria orgânica. Ele chega aqui numa granulometria mais grossa, partículas grossas que são passadas em um desintegrador, depois passamos na peneira e chegamos a este material mais fino.
Temos 10 canteiros – 8 canteiros em baixo do telhado Sombrite e 2 canteiros na área externa a pleno sol.a grande maioria das espécies que nós estamos trabalhando aqui, são espécies que no início de sua germinação, até um pequeno desenvolvimento, mais ou menos 5 cm, requer uma condição mais amena de sol, um ambiente um pouco mais favorável. Quando ela atingir mais ou menos 10 cm, e for uma plantinha mais resistente, então ela será colocada num canteiro externo, à pleno sol , que é o que nós chamamos de processo de aclimatação. Ela ficará ali até o momento de ir para o campo.
Um Ipê por exemplo, vai para o campo em quanto tempo? |
Cada espécie se desenvolve de uma maneira diferente, umas mais rápidas, outras mais lentamente. O Ipê, por ser uma madeira considerada madeira de lei, uma madeira de textura mais dura, mais fibrosa, tem um desenvolvimento mais lento. Acredito que uma mudinha pequena leva de 5 a 6 meses para chegar ao porte de 20 cm a 25 que é o ponto de ir para o campo.
A Araxixá por exemplo, é uma árvore de madeira menos lenhosa que tem um desenvolvimento mais acelerado. Mesmo que esteja uma planta desenvolvida, ainda é uma planta muito jovem. Ela só deve ir para o campo com uns 40 cm de altura. Antes ela passará pela aclimatação até ter as folhas mais amadurecidas, para ter condições de aguentar mais o sol.
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