John Reganold é professor da Faculdade de Ciência e Cultivo do Solo da Washington State University. Quando lhe telefonamos solicitando uma entrevista, dissemos que a comunidade orgânica no Brasil cresce em qualidade e quantidade. John Reganold, que já conhece o Brasil, disse que ficaria feliz em poder comunicar-se com esta comunidade através do Planeta Orgânico.
PO – Este foi o seu primeiro trabalho de pesquisa com produtos orgânicos? |
JR – Não, eu já fiz 2 trabalhos anteriores em 1987 e 1993. O de 1993 foi uma comparação entre Biodinâmica com produtos convencionais.
PO – Porque vocês escolheram 3 tipos de desenvolvimento de agricultura para as maçãs? |
JR – Seria muito óbvio comparar apenas agricultura convencional e orgânico. Convencional é o principal sistema de produção de agricultura nos Estados Unidos. Quanto aos orgânicos podemos dizer que correspondem de 1 a 1,5% das fazendas americanas. No que se refere ao cultivo das maçãs, está crescendo muito um tipo de prática de cultivo, chamada ‘integrada”. Eles não a denominam necessariamente de “integrada”, mas é um tipo de mistura entre sistema orgânico e sistema convencional. Atualmente na Europa os governos estão dando subsídios a esta prática chamada “integrada” – por isso nós achamos que deveríamos incluí-la na nossa pesquisa.
PO – Cada vez mais o meio ambiente tem sido um fator decisivo na escolha dos projetos. Como o senhor vê esta questão tão delicada, de “avaliar” monetariamente o meio ambiente? |
JR – Bem uma das coisas que os economistas e os ecologistas estão fazendo atualmente, é tentar “amarrar” custos ambientais e colocá-los em dólar. Em fazendo isso, eles colocam sobre estes custos um valor monetário a procedimentos ecológicos e penalidades por danos ao meio ambiente. Existe inclusive uma área nas faculdades e no jornalismo chamada “economia ecológica”.
Há uma grande controvérsia sobre isto porque deveríamos estar preocupados em proteger o meio ambiente simplesmente porque é importante para os organismos vivos, para a agricultura como um todo. Mas, parece que as pessoas só compreendem o valor do meio ambiente se você colocar sobre ele um valor monetário. E isto é muito triste.
PO – De fato isto é triste, mas já está acontecendo. |
JR – Sim, mas se nós aceitamos que é inevitável colocar o valor monetário para as pessoas compreenderem sua importância, então teremos que fazê-lo. Nós estamos tentando incluir nos nossos custos econômicos o que chamamos de “externalidades”, em outras palavras, custos ambientais; coisas como “potencial de poluição das águas”, “erosão”, todos aqueles itens que os contribuintes pagam, e que os fazendeiros não deveriam ter necessariamente que pagar. Estes itens deveriam ser contabilizados; e quando você contabiliza estes itens você pode tornar sistemas de cultivo como o integrado e o orgânico lucrativos, porque eles são melhores para o meio ambiente e melhores para o solo.
PO – Fale um pouco sobre suas atividades na Washington State University |
JR – Sou professor da Ciência do Solo. Entrei no Departamento de “Crop and Soil Science”. Estou por aqui há quase 18 anos. Ensino e faço pesquisas. Dou aulas sobre Introdução à Ciência do solo e gerenciamento do solo. Isto é metade do meu trabalho. A outra metade é pesquisa e as minhas pesquisas são sobre sistemas alternativos de agricultura e agricultura sustentável. Portanto gosto de acompanhar sistemas de plantações. Meu departamento pode ser chamado de grande. Temos de 30 a 35 cadeiras ligadas a solo e cultivo. Você deve levar em conta que a Washington State é uma das universidades líderes em Agricultura e Engenharia. Assim como outras universidades estaduais como a Idaho State University, University of California (UCLA) e outras. Mas a Washington State também oferece cursos de química, física, línguas etc. Mas seus pontos fortes são Agricultura e Engenharia.
PO – Como está o crescimento do mercado orgânico nos Estados Unidos? |
JR – Orgânicos definitivamente não são um modismo, mas uma alternativa de fato. Como já disse, 1% dos fazendeiros dos Estados Unidos já são orgânicos, e o crescimento é de 12% ao ano. Portanto, em 5 ou 6 anos, este número deverá dobrar. Provavelmente em 6 anos nós teremos 2% dos fazendeiros cultivando organicamente. Ainda será uma minoria, mas este é um crescimento bastante significativo. A indústria ligada a orgânicos está crescendo 26% ao ano e vem vindo assim pelos últimos anos. Há uma grande demanda para os orgânicos, mas eu acho que por um longo tempo os orgânicos serão o que chamamos de “nichmarket” (mercado de nicho). Cada vez mais, mais pessoas estejam buscando produtos orgânicos. Acredito que em 10 ou 20 anos nós possamos ter 10 ou 20% dos produtores americanos cultivando orgânicos e esta é uma taxa bastante alta. Resumindo, há um grande espaço para o crescimento do orgânico.
PO – Esta perspectiva corresponde às suas expectativas? |
JR – Eu espero que cada vez mais produtores busquem o cultivo orgânico, assim como espero que cada vez mais e mais produtores busquem o cultivo integrado.
PO – Por que este apoio ao cultivo integrado? |
JR – Porque para muitos produtores tornar-se totalmente orgânico é uma passagem difícil e custosa. Eles têm enorme dificuldade de preencher todos os requisitos, não dispõem da informação necessária. Portanto, o cultivo integrado é uma aproximação em direção ao cultivo orgânico, permitindo que estes produtores ainda possam utilizar algumas de suas ferramentas tradicionais. De qualquer modo, vejo um futuro brilhante para o Brasil, que apresenta um enorme potencial.
__________________________________________________________________________________________________________________
Trabalhos publicados por John Reganold |
Reganold, J. P., L. F. Elliott and Y. L. Unger. 1987. Long-term effects of organic and conventional farming on soil erosion. Nature. 330:370-372.
Reganold, J. P., R. I. Papendick and J. F. Parr. 1990. Sustainable agriculture. Scientific American. 262:112-120.
Reganold, J. P., A. S. Palmer, J. C. Lockhart, and A. N. Macgregor. 1993. Soil quality and financial performance of biodynamic and conventional farms in New Zealand. Science. 260:344-349.
Glover, J. D., J. P. Reganold, and P. K. Andrews. 2000. Systematic method for rating soil quality of conventional, organic, and integrated apple orchards in Washington State. Agriculture, Ecosystems and Environment. 80:29-45.
Reganold, J. P., J. D. Glover, P. K. Andrews, and H. R. Hinman. 2001. Sustainability of three apple production systems. Nature. 410:926-930.
__________________________________________________________________________________________________________________