Veja, a seguir, a entrevista com o empresário NELSON MAMEDE, ex-diretor da Sadia, atual vice-presidente da Associação Brasileira de Agribusiness e futuro presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Produtos Orgânicos. Nelson Mamede será um dos conferencistas do 3o Congresso de AgriBusiness que acontecerá em dezembro de 2000, no Rio de Janeiro.
PO: Fale sobre a sua história profissional e como iniciou no mercado de orgânicos. |
NM: Iniciei minha carreira no mercado financeiro, ao mudar para o mercado de commodities nos anos 70s tive a felicidade de ter como tutor o Ney Bittencourt, que foi um dos criadores da Associação Brasileira de Agribusiness e um dos lideres da implantação do Agribusiness no Brasil. Trabalhei muitos anos na Sadia e hoje me dedico ao mercado de orgânicos. Percebi a importância dessa área quando o “consumidor final” claramente passou a demonstrar ansiedade e preocupação com a sua alimentação diária. Orgânico e qualidade de vida, o que propicia longevidade ao ser humano.
PO: E como você vê o conceito de orgânico no contexto mundial? |
NM: O orgânico é um mercado novo para o mundo inteiro. É um conceito que não está totalmente claro no mundo. A produção, quer seja grãos (café, soja, milho, etc…) ou carnes (boi, porco, frango,…) e seus derivados, ainda é muito pequena se comparada com a “não-orgânica”. Mas é um mercado que terá um crescimento acelerado e definitivo nos próximos anos – “não e um modismo”. E não será simplesmente um nicho de mercado: sua venda vai se realizar em todas as camadas sociais. Hoje com negócios estimados em torno de U$23.5 bilhões no mundo: sendo U$10 bilhões nos EUA, U$10.5 bilhões na Europa, U$2 bilhões no Japão e cerca de U$1 bilhão no resto do Mundo.
PO: Como você analisa a produção de orgânicos do Brasil no mercado global? |
NM: O Brasil tem a oportunidade sair na frente neste novo mercado mundial. Nosso país tem as melhores vantagens comparativas (solo, clima, água, relevo adequado, tecnologia, etc…) que afirmo ser um dos poucos países que passariam num rigoroso teste que atenda a complexidade de demanda para a verdadeira produção orgânica. Entretanto, precisamos transformar as vantagens comparativas em competitivas.
PO: Qual a sua posição quanto a questão dos transgênicos? |
NM: Acho que e cedo para aderir sem restrições na falta de resposta a duas perguntas básicas:
a) Quais os reais benefícios para a saúde humana?
b) Quais os reais efeitos no meio ambiente?
O transgênico é a promessa de mudar o mundo. Com as afirmações de melhorar a variedade e qualidade de nossos alimentos solucionando a fome no mundo, melhora de nossa saúde, e ainda por cima criando uma nova era de industrias não poluentes (verdes). Caso realmente isso aconteça, sem duvida, será um enorme avanço para a raça humana. Sendo hoje já realidade a revolução biológica na medicina, com melhoras no diagnóstico e tratamento de doenças.
PO: Você está participando do processo de criação de um associação de exportadores de orgânicos. Qual o objetivo desta associação? |
NM: É uma associação sem fins lucrativos que tem como objetivo agregar valor ao produto do associado, oferecendo direcionamento quanto as diversas oportunidades de mercado, barateamento de custos, cuidado com a imagem (embalagem, certificação, …) e legislação pertinentes a nível mundial. Será um trabalho em que a associação terá a iniciativa de procurar o produtor, e não, simplesmente, aguardar que o associado a procure.
PO: Outro trabalho desenvolvido por você são os “clusters” no estado do Rio de Janeiro. Explique como eles funcionam. |
NM: O “cluster” é realidade em países como Espanha e Estados Unidos. Trata-se de um programa de integração de uma produção regional de acordo com seu potencial mais forte de mercado (melhor retorno sobre capital investido). Os produtores ganharão força em seu poder de negociação, pois quem produz isoladamente reduz a sua venda, podendo virar simplesmente um vendedor “de beira de estrada”. Queremos que o “cluster” trabalhe desde o início do processo produtivo, sempre orientado por uma unidade central (gestor do condomínio) integrando desde a colheita até a entrega do produto. O primeiro “cluster” esta sendo implantado no estado do Rio de Janeiro.
PO: Você também está no projeto de implantação de uma fábrica de embalagem de amido. Isso pode ser uma revolução na produção de embalagens? |
NM: É uma revolução! A embalagem de amido, que pode ser de fécula de certas “raízes”, como mandioca e batata, será extremamente importante do ponto de vista ecológico e econômico. Ela surgiu de uma pesquisa realizada no Brasil. É cem por cento biodegradável. A própria embalagem torna-se nutriente de solo ao voltar as suas origens. Tem custo competitivo: a tonelagem da mandioca está em torno de U$300 e a do plástico, U$900. Do ponto de vista ecológico, é incomparável com artigos como o isopor, que tem elementos cancerígenos. No estagio atual ela suporta exposição a pouca quantidade de água e tem previsão de impermeabilização de noventa dias. A idéia inicial é montar a primeira fábrica em Resende até o início do ano que vem.
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