O Planeta Orgânico esteve em Curitiba para conhecer um dos lançamentos que acontecerão na BioFach América Latina em novembro: a barra de cereais orgânica da Nutrimental, produto pelo qual há grande demanda no mercado interno e externo. João Brenner, presidente da Nutrimental e Luiz Valle, Diretor, falam da trajetória desta empresa com foco na saudabilidade e na sustentabilidade.

 

PO – Como e quando começou o envolvimento da Nutrimental com alimentação saudável?

João  –  O envolvimento começou em 92 por ocasião da ECO 92 no Rio de Janeiro. Na ocasião quem estava a frente do mercado era o Rodrigo Filho. Nessa época estávamos numa fase de transição na empresa, buscando reduzir a nossa dependência do mercado institucional público de onde se originou a Nutrimental. Fomos líder de mercado por mais de 15 anos desenvolvendo programas de nutrição para escolas. A Nutrimental surgiu com esta preocupação de nutrir melhor as pessoas, daí vem o nome Nutrimental. A nossa história foi de sucesso. Nós começamos a colocar ingredientes nas dietas das crianças que até então não eram utilizados,  como por exemplo a proteína texturizada de soja  e macarrão de milho. Trouxemos soluções para a merenda escolar que na época não existia.

PO – Vocês foram pioneiros no fornecimento diferenciado da merenda escolar?

Valle – Sim, trouxemos para a merenda escolar um alto valor nutritivo a custo baixo. Por isso fomos buscar a proteína texturizada de soja, de alto valor biológico e a acrescentamos na merenda escolar. Também na época, fazer um programa de merenda escolar que fosse distribuído no Brasil inteiro, país de dimensões continentais, era muito complexo. Tinha que ser um produto que fosse fácil para transportar,  no caso, desidratado. Assim , você não está transportando água, o que é uma economia. Tinha  também a preocupação com a  durabilidade e com a estocagem. Nossos produtos são de fácil preparo, em geral só é preciso adicionar água; às vezes até pode ser servido frio. Quando não, o máximo que você precisa é um fogão ou algo que aqueça. Esta é a origem da nossa relação com a questão da nutrição.

João – Tivemos conexões com merendeiras de todo o Brasil; eram mais de 3.000 merendeiras de escolas e de municípios , que compartilharam conosco  este novo conceito de nutrição. Foi muito bom, naquela época (1968 até 1990). Em 1990, quando houve a descentralização da merenda escolar,  infelizmente aconteceu o que nós temíamos. Desmantelou-se todo o programa de merenda como ele existia na época. Nós já estávamos procurando fazer investimentos no mercado de consumo e foi quando tivemos a idéia de lançar uma barra de cereais que era um produto inédito aqui no Brasil, inspirado por produtos norte americanos. Nos Estados Unidos também era um produto novo, mas com mercado bem maior do que aqui.

Porém fizemos com uma inovaçao tropical; introduzimos a castanha do Pará. Foi Mari Alegretti quem nos ajudou a desenvolver todo o processo da captação da castanha do Pará para usar no Nutri e parte da receita  do produto era convertida para as comunidades e foi um negócio bem sustentável.

PO – Vocês sempre tiveram preocupação com a sustentabilidade?

João – Na realidade entendemos que o ser sustentável começa dentro de casa com os nossos valores, nossos princípios, a forma como nós conduzimos nossos negócios. Temos preocupação com nossos funcionários, a abertura, a comunicação fazem parte do nosso dia a dia. Isto permite que nós obtenhamos melhores resultados por um lado e, por outro, passamos para as pessoas um nível melhor de informação e de responsabilidade. Temos um programa de planejamento que chamamos de Investigação Apreciativa que é uma visão no positivo, no futuro.  Nós temos espaços bimensais para trazer pessoas da comunidade, que aprendem esta técnica. Desta forma, nós, que não temos recursos para investir em projetos muito grandes de sustentabilidade ambiental como algumas empresas fazem, investimos em responsabilidade social.

Foi o Dr. Rodrigo (que hoje é Presidente da Federação) que trouxe esta metodologia dos EEUU. Ele trouxe da Universidade americana e nós fomos a primeira empresa a aplicar esta metodologia e hoje nós somos um “case”  de sucesso .Somos citados em congressos de “Investigação Apreciativa” nos EEUU, como a 1ª empresa no mundo dos negócios que aplicou esta metodologia. Colocamos 700 funcionários, os principais stake holders, bancos, fornecedores para construírem uma visão de futuro, de como é que faríamos para que a Nutrimental fosse mais voltada para a questão de sua organização. Desta proposta vieram nossos funcionários legitimados por nossos fornecedores e por nossos clientes. Isso foi um processo muito legal e que obviamente, depois de muitos ajustes, como conclusão do trabalho, fizemos a redação de nossos princípios. Hoje somos uma organização baseada em valores. Nas nossas decisões entre o sim e o não, o primeiro filtro são os valores, contratação de pessoas, demissão, tudo isso passa por este conceito, por esta prática. E depois, os planejamentos que fizemos seguiram esta metodologia.

PO – O foco da empresa é o compromisso com estes valores que você mencionou?

Valle – As vezes pequenas coisas  fazem a diferença no todo. Esta questão da responsabilidade social começou em 92 com o Nutri, depois seguiu numa forma intuitiva e a partir de  97 cresceu de uma maneira mais amadurecida por causa deste programa que relatei para você. Nós conseguimos definir valores e princípios, e a nossa missão – Respeito à Vida e aos Seres Humanos – tem tudo a ver com a preocupação da sustentabilidade e da saudabilidade.

João – Nós elegemos estrategicamente como competência essencial nossa a saudabilidade. Seja a saudabilidade dos produtos, seja a saudabilidade do ser humano, das relações na nossa organização.

Quando estive em São Paulo entrevistando alguns candidatos, um deles me colocou muito oportunamente: – “Se soubesse que a Nutrimental é tudo isso que ela é, eu compraria muito mais produtos”. Este é o desafio.. Como é que a Nutrimental pode transmitir o que é a nossa organização ao consumidor.

PO – Isto é importante pois o consumidor quer saber cada vez mais a atitude da empresa por trás do produto.

João – Por isso nosso envolvimento começou com o Nutry e agora com os orgânicos porque em primeiro lugar, nós acreditamos que exista, no ponto de vista de negócio, um mercado grande que está crescendo e você pode participar dele com competência. Em segundo, é a nossa crença na sustentabilidade, embora não sejamos radicais, no sentido que só vale o que é orgânico. Nós temos uma série de outros produtos que ainda não o são. Mas estamos acompanhando esta tendência dentro das nossas possibilidades.

PO – Vocês serão os primeiros a desenvolver uma barra de cereais orgânica?

Valle – Há cinco anos fomos procurados por uma empresa suíça que privilegiava o “Fair Trade”. Eles vieram nos visitar e fizeram uma pesquisa, e foi uma surpresa para eles quando viram o relacionamento da empresa com seus funcionários. Passamos em todos os critérios e realizamos a exportação. Hoje não há nenhuma barra orgânica no mercado brasileiro. É um produto bastante complexo pois leva uma composição de vários cereais, frutas, glicose e diversos outros ingredientes,  todos orgânicos. É uma formulação bastante elaborada e de um processo igualmente elaborado para se desenvolver. Nós esperamos ser os primeiros a lançar a barra de cereais orgânica na BioFach América Latina para mercado interno e para exportação também.

PO – Há algum outro projeto novo a caminho?

João – Temos alguns…. O que eu posso falar para você é que nós temos um projeto ambicioso de crescimento, ou seja, dobrar o tamanho da empresa em cinco anos. Isso nós vamos conseguir com um processo de inovação.  Estamos estudando uma série de projetos,  estruturando os processos internos que nos permitam chegar na idéia, no protótipo até um produto de sucesso. Temos que trabalhar muito em todas as áreas da empresa, marketing, pesquisa, produção e outras atividades que temos de desenvolver para que essa meta seja alcançada. Portanto, inovação é a palavra de ordem, é a nossa estratégia maior. Agora, quanto ao que vem por aí… Vamos aguardar!

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