Ming Liu – Coordenador do projeto de exportação Organics Brasil

Ming Liu

Presencio há pouco mais de seis anos o desenvolvimento do mercado e segmento dos produtos orgânicos no Brasil e no mundo.  Desde então venho vendo a luta de empresas, instituições e pessoas que há mais de 15, 20 anos vêm defendendo a bandeira do segmento de forma que me ensinou a entender o que deve ser mais do que um negócio, mas uma filosofia de vida.   Estas escolhas foram por alguns como uma paixão ao tema, outros por necessidade e consciência de buscar formas alternativas de produtos, alguns por recomendação médica, algumas por estratégias de políticas públicas de desenvolvimento econômico e social, e até por pessoas que por descrédito do que um dia imaginava estar fazendo algo construtivo e produtivo acabou vendo no segmento uma forma de sair da insignificância humana e se redimir a um ser produtivo e orgânico na sua essência.

Pessoas das mais diversas origens, nobres e humildes, intelectuais e aprendizes, de todas as raças, agricultores familiares, pessoas do campo, micro-empresários e empreendedores locais, comerciantes regionais, empresários, artistas, banqueiros e ex-bancários, engenheiros, estudantes, administra-dores, médicos, políticos, membros de igrejas enfim, tantos outros que não foram citados, mas que constituem o que representa a nossa sociedade como um todo mostrando a sua diversidade, tamanho e abrangência do interesse que este segmento vem tomando no país.

Estamos no momento em um marco histórico para o setor onde temos observado que a “carroça vinha andando na frente dos bois”, e nesta metáfora, não há nenhuma crítica a nenhuma das partes e nem a analogia de quem seja a carroça ou os bois, mas mostrar como o mercado, no caso os bois, pode ser o direcionador para a instalação de um segmento, sua política pública e o seu desenvolvimento. Mercados estes formados pelas suas feiras locais, lojistas e armazéns pioneiros em sua região e cidade, que acreditaram que os produtos orgânicos não eram uns simples negócios de momento ou passageiros. Comunidades e grupos de produtores que criaram redes de comercialização, e também as pequenas, médias e grandes redes de supermercado que acreditaram em entender o que o consumidor de hoje busca na sua essência consumista. E, por fim, o mercado externo que há  muito antes já havia descoberto no Brasil suas riquezas para mais uma vez trazer de volta as lembrança de quando do período do Brasil – Colônia, com suas viagens e embarcações levando açúcar, café, borracha e tantos outros produtos para serem vendidos como especiarias no mercado europeu.

Neste processo algumas instituições governamentais e não governamentais nas três esferas municipais, estaduais e federais, cada uma dentro de sua limitação e na sua abrangência de atuação, também engajaram em esforços que em conjunto contribuiu para o que  hoje conhecemos deste segmento. 

O processo da regulamentação nacional (Lei 10.831) que desde janeiro está em vigência foi este resultado de esforços que finalmente permitirão  que o consumidor final e o público em geral possa identificar os produtos de forma oficial (selo do MAPA) e garantir a credibilidade que o setor na sua prática já o faz, mas que ainda carecia de uma formalização por parte de uma legislação formal nacional.   

Como vivemos em uma sociedade democrática, este processo algumas vezes resulta em um tempo maior na medida em que todos temos vozes e todos são ouvidos antes de sua efetivação.  Mérito para quem esperou e glórias para quem se empenhou.   Por outra perspectiva, a demora se justificará na medida em que a regulamentação poderá fomentar um crescimento maior ainda, uma vez que deve permitir agora fortalecer a instalação de políticas públicas mais claras e eficazes.   Este marco deverá proporcionar ao setor no segmento privado, seguindo o que ocorreu na Europa, Estados Unidos e Japão quando de seu processo de regulamentação, o crescimento de investimentos do setor privado de forma crescente e exponencial.   

No atual mercado global que nos inserimos, com as perspectivas da situação privilegiada financeira e econômica que o Brasil está sendo apontado, com o crescimento e mudança do perfil demográfico que o IBGE demonstra e que estaremos experimentando nos próximos trinta anos um perfil onde as faixas etárias de idades da população economicamente ativa estará no seu ápice, e com a preocupação cada vez maior em buscar fontes sustentáveis de energia, alimentos e insumos para nossas vidas, tenho a convicção de que o segmento irá experimentar um desenvolvimento forte e que pode não chegar a números de mercado mainstream, mas será tratado como. Atualmente o mercado global está estimado em cerca de US$56 Bilhões de dólares anuais segundo a Organic Monitor, com os Estados Unidos e a Europa representando praticamente 90% desse total.  Estatísticas nacionais de área e faturamento teremos em breve com o cadastramento nacional em execução pelo MAPA da cadeia produtiva, porem números levantados pelo IPD Organics Brasil apontaram áreas certificadas para o mercado internacional na ordem de pouco mais de 7 milhões de hectares levando-o a condição de quarto maior país em área certificada segundo a IFOAM.

A persistência e as iniciativas de pessoas e instituições que conheci durante este período em suas mais diversas esferas, público, privadas e do terceiro setor e dentro de suas limitações também ensinou que há ainda muito que se fazer e que o Brasil tem o potencial de não ser o maior, mas ser referencia no que pode colocar em prática o que nos outros países só conseguiram ou conseguirão na teoria. Brasil, orgânico por natureza.