Dia 20 de junho de 2012, durante o evento Green Rio, foi realizado o painel “Economia Verde e Sociobiodiversidade”.
Uma platéia de 142 pessoas de diferentes segmentos, desde empresários a pesquisadores, ouviu atentamente as falas da Ministra do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Tereza Campello e do Sr. Hans Joher, Diretor de Nestlé Internacional como key note speakers, seguidas dos comentários de:
José Renato Cagnon – Gerente da Unidade Industrial de Benevides-PA, Natura Ind. e Comércio de Cosméticos S.A.
Daniel Sabará – Corporate Director Health and Personal Care, Beraca S.A.
Jedielcio Oliveira – Coordenador do Programa de Produção Orgânica, FVPP
Manoel Monteiro – Superintendente da COOPERACRE
O Secretário da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Laudemir Müller , e da Diretora de Extrativismo do Ministério do Meio Ambiente, Claudia Calorio, participaram como debatedores, enriquecendo o painel.
A Ministra Tereza Campello abriu o painel comentando que o fato da erradicação da pobreza ser reconhecida como destaque no texto da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20 pode ser considerado uma vitória. “A agenda social está ocupando o espaço que merece, temos que trabalhar alinhando ações nas áreas social, ambiental e econômica. A grande novidade da Rio+20 é a possibilidade de discutir conjuntamente inclusão social e meio ambiente” disse a Ministra.
A ministra destacou o Piso de Proteção Socioambiental, proposta brasileira inspirada no Bolsa Verde, incluída no documento final da Rio+20. O programa Bolsa Verde condiciona o pagamento do beneficio a atividade sustentáveis desenvolvidas por moradores extremamente pobres de reservas e assentamentos. “A ideia de adicionar uma condicionante ambiental foi para que os beneficiados nos ajudem a proteger o meio ambiente. Componente ambiental é possível porque acreditamos que um novo mundo seja possível.”
A Ministra Tereza Campello lembrou que o Bolsa Família é uma plataforma para inclusão em uma grande rede de proteção social. Segundo ela, desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva 18 milhões de pessoas passaram a ter trabalho formal.
A Ministra criticou empresários que fazem “doações pontuais e transitórias” e que não se comprometem no longo prazo, incluindo a agenda socioambiental em suas estratégias de sustentabilidade. “Não queremos favor e sim oportunidades. Precisamos de parcerias e geração de negócios”, disse a Ministra.
A Ministra Tereza Campello falou também sobre Rede Brasil Rural, uma plataforma virtual que integra soluções inovadoras para a organização dos arranjos produtivos da AgriculturaFamiliar com o objetivo de organizar a cadeia de produtos da AgriculturaFamiliar desde o processo produtivo (pré- e dentro da porteira) até o mercadoconsumidor (pós-porteira).
Muitas das iniciativas mencionadas pela Ministra não são do conhecimento da comunidade internacional, assim como dos próprios brasileiros. Seria importante uma maior divulgação destas ações que promovem a inclusão social de milhões de brasileiros, resultando em impacto positivo na economia do país.
Em seguida à fala da Ministra, o Sr.Hans Joher, Diretor Executivo da Nestlé Internacional, abriu sua apresentação provocando a platéia ao perguntar quantos banqueiros estavam presentes. Certamente havia representantes do mercado financeiro no público, mas preferiram não se manifestar. Hans Joehr comentou que, se pelo padrão de consumo do países desenvolvidos precisaríamos de um planeta e meio a mais, pelo padrão do mercado financeiro precisaríamos de cinco planetas.
O Sr.Joher enfatizou que enquanto não houver um mudança de paradigma no padrão de consumo e também na modo de produção, em toda a cadeia de suprimentos, não podemos pensar em sustentabilidade.
Joher disse que a Nestlé tem um programa voltado para 700 mil pequenos produtores rurais, incentivando substituição de práticas predatórias por práticas sustentáveis.
Joher parabenizou a Ministra pelas ações que estão sendo realizadas no Brasil, dizendo que Bolsa Verde e Bolsa Família são modelos que poderiam servir de exemplos a outro países, conjugando crescimento econômico e inclusão social.
Após as falas da Ministra Tereza Campello e do Sr.Hans Joher, os demais presentes no painel fizeram seus comentários no contexto Sociobiodiversidade e Economia Verde.
José Renato Cagnon – Gerente da Unidade Industrial da Natura – Benevides-PA,
José Renato falou sobre o desafio de trabalhar na Amazonia, com enorme dificuldades de logística, o que a Natura faz há quase um década, considerando o fator humano “a quarta perna da sustentabilidade”. Segundo José Renato Gagnon, as cadeias de produtos no Pará com as quais a Natura trabalha beneficiam 1,5 mil famílias, organizadas em 13 cooperativas de produção. Desde 2007 a Natura faz parceria com seis cooperativas de produtores de cacau da região amazônica.
Como exemplo de parceria bem sucedida, José Renato lembrou que o cacau produzido às margens da Transamazônica era de má qualidade e atualmente vem de seis cooperativas que oferecem cacau orgânico certificado. Cagnon anunciou a renovação, por mais dois anos, da parceria com a GIZ e investimentos de R$ 150 milhões na construção de uma nova unidade na região, com tecnologias totalmente sustentáveis, pesquisadas em Dubai, com inauguração prevista para maio de 2013.
Jedielcio Oliveira – Coordenador do Programa de Produção Orgânica da Fundação Viver Produzir e Preservar, da Amazônia
Jodielcio Oliveira iniciou seu depoimento citando a música “A estrada”, do grupo Cidade Negra, como metáfora do seu trabalho: “Vocês não sabem o quanto eu caminhei para chegar até aqui”.
Jedielcio reconhece que parcerias com empresas de grande porte valorizam o produto local, e lembrou que o cacau é uma cultura que não tem conflito com a floresta amazônica.
Jedielcio falou sobre a dificuldade de integração entre os extrativistas e a indústria. “O preço do cacau é baseado na bolsa de valores nos Estados Unidos, mas o produtor não tem a menor ideia do que isso significa. Ele quer discutir o que é justo para ele e para o comprador.” disse Jedielcio, destacando a importância da empresa investidora / parceira conhecer de perto a realidade do produtor.
Daniel Sabará – Corporate Director Health and Personal Care, Beraca S.A.
A Beraca procura trabalhar com comunidades que oferecem com diferentes produtos para que as diferentes safras permitam geração de renda ao longo do ano. A Beraca tem tradição em parcerias com extrativistas na área de cosméticos.
Neste painel, Daniel Sabará manifestou sua preocupação com programas assistencialistas como Bolsa Familia, que podem prejudicar parcerias com empresas, uma vez que pequenos produtores consideram que perderão seus benefícios sociais ao se profissionalizarem.
A Beraca é especializada no desenvolvimento de tecnologias, soluções e matérias-primas de alta performance para tratamento de água, cosméticos, nutrição animal, indústria de alimentos e bebidas.
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