A paisagem agrícola

aguaNa Agroecologia toda a produção de alimentos é realizada de modo a contribuir para a conservação dos recursos naturais e para a manutenção da qualidade ambiental da paisagem de uma determinada região. Nesse sentido, a Agroecologia compartilha com a biologia o interesse no conhecimento das interações entre solo, plantas e animais a fim de combinar harmonicamente a produção agrícola com a conservação dos ecossistemas locais remanescentes.Para possibilitar essa interação harmoniosa é fundamental planejar o sistema de produção a partir da consideração da paisagem agrícola da região, o que significa não se restringir apenas ao local onde serão implantadas as culturas comerciais. Isso porque, assim como um mosaico, a paisagem agrícola é ecologicamente um ambiente fragmentado, com distintos habitats, distribuídos em forma de manchas presentes em uma propriedade, assim como ao longo de toda a região. Embora o nível de influência humana na paisagem seja extremamente variável, existem três tipos predominantes de áreas que compõem uma paisagem agrícola. São elas:

Áreas de produção agrícola:

graorowIntensamente manejadas e com perturbação regular, essas áreas são constituídas, sobretudo, de espécies de plantas domesticadas, não nativas da região. O exemplo mais comum é o das áreas destinadas aos plantios agrícolas em manejo convencional como ocorre com as monoculturas de grãos (soja, arroz, milho, feijão, etc.). 

Áreas de influência humana moderada ou reduzida:

euclipfil11Esta categoria intermediária inclui paisagens naturais, florestas manejadas para a produção de madeira, cercas vivas, sistemas agroflorestais. Estas áreas são constituídas por mesclas de espécies nativas e não nativas, e são capazes de servir de habitat tanto para espécies de animais silvestres da região, como para as criações de animais com finalidade comercial. Como exemplos temos: consorciação de gado em pastagens sombreadas com árvores (sistemas agrosilvopastoril), cercas-vivas com árvores ao redor de culturas agrícolas como o café e o milho, plantios consorciados de duas ou mais espécies de árvores em áreas inadequadas para as culturas agrícolas.

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Áreas naturais: 

Desmatamento pelo fogo

Desmatamento pelo fogo

Estas áreas possuem alguma semelhança com o ecossistema original e com a composição de espécies vegetais e animais presentes naturalmente no local. É o caso típico dos fragmentos florestais, por exemplo, que abrigam as espécies de árvores remanescentes dos desmatamentos das florestas originais e que estão sujeitos a perturbações provenientes de atividades humanas (fogo, caça, derrubada de árvores, extração de flores e frutos, entre outras).

Vale ressaltar que, quando se executa o manejo da produção de alimentos considerando a paisagem agrícola como um todo integrado, um possível antagonismo entre a necessidade dos ecossistemas naturais e a atividade agropecuária é substituído por uma relação de benefício mútuo. As manchas de áreas naturais e semi-naturais oferecem uma diversidade de recursos naturais valiosa para a produção de alimentos de alto valor biológico e estes, por sua vez, contribuem na manutenção da qualidade ambiental da paisagem natural presente na região. Promover essa benéfica interação constitui a finalidade de todo sistema agroecológico de produção, através de um manejo criterioso da paisagem local.

E, para obter essa combinação harmoniosa, é imprescindível abolir da produção agrícola o uso de quaisquer insumos que produzam um efeito negativo no funcionamento ecológico da paisagem agrícola presente na sua propriedade e na região. Isto significa banir do sistema agrotóxicos e fertilizantes altamente solúveis, assim como evitar práticas agressivas à diversidade local, como o plantio de monoculturas em grande escala, a movimentação freqüente do solo ou deixá-lo por longos períodos exposto às chuvas e consequentemente, à erosão. Apenas práticas que respeitem os ciclos dos elementos naturais (da água e da formação de solos) e dos seres vivos (plantas, animais, microorganismos) devem ser utilizadas a fim de contribuir efetivamente para o equilíbrio entre os diversos habitats que compõem a paisagem agrícola.

Nesse sentido, através de seus diversos métodos (rotação e consorciação de culturas, controle biológico de pragas e doenças, integração entre pecuária e agricultura, uso de variedades naturalmente adaptadas às condições locais, entre outras), os sistemas agroecológicos podem contribuir para concretizarem um potencial ainda não explorado das áreas agrícolas: o de serem guardiãs da diversidade de espécies nativas, auxiliando na conservação da biodiversidade global.

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