Produtos Agrícolas Orgânicos: Brasil sobe para a quinta posição em extensão de área

Autor: Richard Domingues Dulley (dulley@iea.sp.gov.br)
Data de publicação: 08/09/2005 

A produção agrícola orgânica no mundo, em termos de área, teria passado de cerca de 15,8 milhões de hectares, no ano 2000, para cerca de 26,5 milhões de hectares em 2004, abrangendo cerca de 558 mil estabelecimentos agrícolas, segundo o último relatório de Willer, H. e Yussef, M. (The World of Organic Agriculture Statistics and Emerging Trends da Fundação alemã Ökologie&Landbau – Foundation Ecology & Agriculture) (tabela 1). Esse mesmo relatório (2005) informa que, para 2003, se estimou a expansão das vendas em torno de 7% a 9%, a partir do relatório para o ano de 2002 elaborado pela UNCTAD (Organic food and beverages: world supply and major. European Market. Geneva: ITC, UNCTAD/WTO 2003). 1

Este texto procurou apresentar para o público uma síntese das informações contidas nos dois primeiros capítulos do mais recente relatório (fevereiro de 2005), disponíveis gratuitamente na Internet em http://www.soel.de/oekolandbau/weltweit.html. Foram consultadas também informações constantes de relatórios anteriores dessa instituição, disponíveis integralmente também nesse site e outros trabalhos relevantes sobre a temática.

Também de acordo com a companhia de consultores Organic Monitor, as vendas mundiais de orgânicos estariam crescendo cerca de 5 % a 7 % em 2004. Assumem que em 2003 as vendas alcançaram cerca de 25 milhões de dólares e cerca de 26,5 milhões de dólares em 2004. Portanto, as duas diferentes e principais fontes de dados indicam números aproximados para a variação de áreas entre os relatórios dos anos 2000 a 2005.

O crescimento da produção orgânica e desse mercado ocorre em todo o mundo. Os maiores mercados estão situados na Europa e nos Estados Unidos da América, que representam mais de 90% das receitas auferidas nesse setor. O mercado europeu, em torno de 3,1 milhões de euros, seria o maior depois do norte-americano. Daí a importância desses dois mercados para o desenvolvimento da agricultura orgânica.

Tabela 1 – Visão geral do mercado mundial de bebidas e alimentos orgânicos

* Finlândia, Grécia, Irlanda, Noruega, Portugal e Espanha
Fonte: UNCTAD (2004)2 – ITC compilado em janeiro de 2003

A tabela 1 mostra a percentagem das vendas de orgânicos agrícolas por país em relação às vendas totais de alimentos em cada país. Grosso modo, poderia se afirmar que as vendas de orgânicos agrícolas correspondem a cerca de 2 % do total.As áreas com produção agrícola orgânica no mundo estariam assim distribuídas nos anos 2000, 2003 e 2004 (tabela 2):

Continente	% de área ocupada com produção agrícola orgânica
Ano	2000	2003	2004
Oceania	48.51	41.80	42.90
Europa	23.58	23.10	23.80
América latina	20.02	24.20	23.50
América do norte	7.42	5.90	5.50
Ásia	0.33	3.70	2.80
África	0.14	1.30	1.60

Fonte: elaborado a partir dos relatórios anuais de Willer, H e Yussef , M. (2001), (2004) e (2005)

A Oceania ocupa o primeiro lugar na distribuição das áreas por continente devido em grande parte à participação da Austrália, país com a maior área orgânica. Esse continente tinha em 2000 cerca 48,51% da área orgânica plantada no mundo, contabilizando os 7,655 milhões de hectares da Austrália, em relação aos 15,814 milhões estimados para o mundo. Em 2004, o percentual desse continente caiu para 42,90 %, mesmo contendo os 11,300 milhões de hectares da Austrália para um total no mundo de 26,458 milhões de hectares de agricultura orgânica.

A Argentina, que apresentava em 2000 cerca de 3 milhões de hectares, teve as estimativas reduzidas no relatório de 2004 para 2,8 milhões de hectares. O acréscimo verificado no percentual da América Latina deve-se em grande parte à inclusão na área de orgânicos do Brasil das pastagens que até 2000 não tinham sido consideradas. As dificuldades para se obter estatísticas sobre produção agrícola orgânica ficam evidentes pelo tipo de variações ocorridas nas informações entre os relatórios referentes aos anos 2000, 2003 e 2004 de Willer e Yussef.

O quadro geral da situação dos continentes, em relação ao número de estabelecimentos agrícolas conduzidos organicamente, à quantidade de hectares orgânicos e à área total agricultada apresentados por essas pesquisas, pode ser visto na tabela 3.

Tabela 3 – Distribuição do número de estabelecimentos agrícolas com produção orgânica por continentes, em 2003 e 2004

Continente	% de número de fazendas com produção agrícola orgânica
Ano		2003	2004
Oceania	%	0.50	0.40
Europa	%	37.70	29.90
América latina	%	30.90	34.00
América do norte	%	2.30	2.70
Ásia	%	13.30	11.80
África	%	15.30	21.20
Total	%	100.00	100.00

Fonte : Willer, H e Yussef, M (2004) e (2005)

 

A pesquisa do relatório de 2005 relaciona na tabela 4, por ordem decrescente de extensão de área, os principais países e o percentual da área agricultada de cada um, ocupada com agricultura orgânica. Nessa tabela, são destacados apenas aqueles países que possuem mais de 24 mil hectares com atividades orgânicas, tomando como base o relatório de 2005 (áreas referentes a 2004). No sentido de mostrar a evolução das áreas desses países em relação aos anos anteriores, incluíram-se na tabela 4 os dados referentes aos anos de 2000 e 2002.

O Brasil ocupava a décima quinta posição em extensão de área, no relatório de 2001 referente ao ano 2000, dispondo de cerca de 100 mil hectares. No último relatório, subiu para a quinta posição em virtude da agregação das áreas de pastagens orgânicas que não tinham sido incluídas anteriormente.

Já em relação ao percentual de área com agricultura orgânica frente à área total agricultada do país, a posição do Brasil sofreu pequena alteração para menos. O País caiu para o qüinquagésimo sétimo lugar, como decorrência de sua imensa área, que se localizava em quadragésimo nono lugar no ano 2000. A propósito dessas alterações, estima-se que o Brasil dispunha em 2001 de cerca de 203,18 mil hectares com culturas orgânicas e 600 mil hectares com pastagens orgânicas, no total de 803,18 mil hectares.3 Essa informação foi incluída no relatório de 2005, o que colocou o País nas primeiras posições dessa classificação mundial quanto a área.

O número de hectares conduzidos organicamente no Brasil, que correspondia a 0,63% dos 15,814 milhões de hectares da área total agricultada organicamente no mundo em 2000, aumentou para cerca de 3,03% dos 26,456 milhões de hectares identificados em 2004 (tabela 4). Essa situação mostra que a agricultura orgânica brasileira apresenta ainda uma participação reduzidíssima na agricultura orgânica mundial, mas está crescendo de modo exponencial nos últimos anos.

Esse crescimento exponencial ocorre também no âmbito mundial. Considerando que a área total agricultável no mundo seja de 4,131 milhões de hectares, o fato de a área com orgânicos passar de cerca de 0,38 % em 2000 para cerca de 0,64% em 2004 confirma esta tendência.

O relatório de 2005 de Willer e Youssef observa que a maior parte das áreas orgânicas está localizada apenas em dois países: Austrália, com 11,3 milhões de hectares; e Argentina, com 2,8 milhões de hectares. Podem se acrescentar os mais de um milhão de hectares da Itália, mas a maior parte se refere a pastagens. É provável que a área efetivamente cultivada no mundo com agricultura orgânica propriamente dita pode estar reduzida a menos da metade dos 26 milhões de hectares ao se excluírem as pastagens.

Tabela 4 – Área com agricultura orgânica em países e no mundo (fev. 2001 e fev. 2005)

Países	Área com agricultura orgânica (hectares)
Ano	2001	2002	2004
Austrália	7.654.924	10.500.000	11.300.000
Argentina	3.000.000	3.192.000	2.800.000
Itália	958.687	1.230.000	1.052.000
USA	900.000	950.000	930.810
Brasil	100.000	275.576	803.180
Uruguai	1.300	678.481	760.000
Alemanha	452.279	632.165	734.027
Espanha	352.164	485.079	725.254
Reino Unido	380.000	679.631	695.619
Chile	2.700	273.000	646.150
França	316.000	419,750	550.000
Canadá	188.195	430.600	516.111
México	85.676	141.154	400.000
Áustria	287.900	285.500	328.803
República Checa	110.756	218.114	254.995
Grécia	21.280	31.118	244.455
Suécia	174.000	193.611	207.488
Finlândia	147.423	147943	159.987
Dinamarca	146.685	174.600	165.148
Peru	12.000	84.918	150.000
Portugal	47.974	70.857	120.729
Hungria	34.500	105.000	113.816
Suíça	84.271	102.999	110.000
Turquia	18.000	57.001	103.190
Paraguai	19.218	61.556	91.414
Eslováquia	60.000	58.706	54.478
Polônia	11.000	44.886	49.928
Latvia	20.000	20.000	48.000
Holanda	27.820	38.000	41.865
Nova Zelândia	11.500	63.438	40.000
Noruega	18.773	26.673	38.176
Tunísia	8.000	18.255	33.500
Irlanda	32.478	30.070	28.514
Bélgica	18.572	22.410	24.163
Outros	98.412
Total	15.813.817	22.811.267	26.456.270

 

Em 2000, os países classificados entre os primeiros dez em área foram Austrália, Argentina, Itália, EUA, Alemanha, Espanha, Reino Unido, França, Áustria e Canadá. Já em 2002, os dez primeiros lugares foram ocupados por: Austrália, Argentina, Itália, EUA, Uruguai, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Canadá e França (o Uruguai substituiu a Áustria). E em 2004 a classificação foi a seguinte: Austrália, Argentina, Itália, EUA, Brasil, Uruguai, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Chile (tabela 4). Essas mudanças deveram-se à inclusão das áreas de pastagens do Brasil e, provavelmente, a alguma pesquisa que identificou as áreas com plantio orgânico do Uruguai e do Chile.

Destacam-se também os países que apresentaram mais de um por cento de atividades orgânicas em relação à área total do país (tabela 5).

Tabela 5 – Países com área percentual com produção orgânica em relação à área total agricultada do país maior que 1% e total dos demais, relatórios de 2001, 2003 e 2004

Ano País	% de área com agricultura orgânica (há)
	2000	2002	2004
Liechtenstein	17,97	17,00	26,40
Áustria	8,43	11,30	12,90
Suíça	7,87	9,70	10,27
Finlândia	6,79	6,60	7,22
Itália	6,46	7,94	6,86
Suécia	5,60	6,30	6,80
Grécia	0,61	0,60	6,24
Dinamarca	5,46	6,51	6,20
República Checa	3,15	5,09	5,97
Eslovénia	0,38	0,67	4,60
Estônia	0,28	–	4,59
Reino Unido	2,40	3,96	4,42
Alemanha	2,64	3,70	4,30
Uruguai	0,01	4,00	4,00
Noruega	1,84	2,62	3,68
Portugal	1,26	1,80	3,17
Costa Rica	–	2,00	3,11
Espanha	1,37	1,66	2,84
Austrália	1,62	2,31	2,48
Eslováquia	2,45	2,40	2,43
Holanda	1,39	1,94	2,17
Luxemburgo	0,79	1,71	2,00
Hungria	0,56	1,80	1,94
França	1,12	1,40	1,86
Bélgica	1,34	1,61	1,73
Argentina	1,77	1,89	1,70
Chile	0,02	1,50	1,50
Uganda	0,06	1,39	1,39
Belize	–	1,30	1,30
Canadá	0,25	0,58	1,30
Bolívia	0,02	0,06	1,04
Rep. Coréia	0,04	0,05	1,03

Observações: 1) os demais países possuem menos de um porcento de área orgânica pelo relatório de 2005 de Willer e Yussef; 2) o Brasil no relatório relativo ao ano 2000 ocupava a quadragésima nona posição com 0,04 %; no ano 2002, a sexagésima sexta posição com 0,08%; e em 2004 a qüinquagésima sétima posição, com 0,23 % de área orgânica em relação à estimativa de área total agricultada do país.

Fonte adaptado de Willer e Yussef (2001)

Pode se concluir com as palavras de Urs Niggli, diretor do FiBL (Instituto de Pesquisa em Agricultura Orgânica): “A agricultura orgânica desempenhará um importante papel no direcionamento da agricultura européia e do mundo. Para explorar seu potencial, é necessário o aumento das atividades em pesquisa em agricultura orgânica”.4

1 Estes são os documentos mais completos sobre esse assunto até o presente. As estimativas sobre as dimensões e características do mercado mundial de produtos agrícolas de origem orgânica ainda são bastante precárias. Na maioria dos países, as estruturas oficiais que levantam dados estatísticos não incluem ou incluem marginalmente questões sobre o sistema orgânico de produção.

2 Trading opportunities for organic food products from developing countries: strengthening research and policy making capacity on trade and environment in developing countries United Nations Conference onTrade And Developement (UNCTAD) New York and Geneva, January 2004. Disponível em http://r0.unctad.org/trade_env/test1/publications/organic.pdf?docid=4502%2B%22ItemID=2068. Acessado em 05/09/05.

3 ORMOND, J. G. P. ; De PAULA, S. R.L. : FAVARET FILHO, P. ; ROCHA, L. T. M. “Agricultura orgânica: quando o passado é futuro” pode ser visto em BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 15, p. 3-34, mar. 2002 ou em: http://www.bndes.gov.br/conhecimento/bnset/set1501.pdf acessado em 05/09/05

Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-79/2005

Sites para consulta:
http://www.organicexpo.com/2005_site/stats.shtml
www.ota.com.
http://www.theorganicpages.com/topo/abertura.html
http://www.theorganicreport.org/
http://www.soel.de/inhalte/publikationen/s/s_74_06.pdf
http://www.fao.org/documents/show_cdr.asp?url_file=/DOCREP/005/Y4252E/Y4252E00.HTM
http://www.ifoam.org/