O Planeta Orgânico foi conversar com RONALD CAVALIERI, um verdadeiro pioneiro do conceito orgânico. Atualmente dirigindo o restaurante Garcia&Rodrigues no Rio de Janeiro, em 1993, este arquiteto / gourmet já buscava promover os orgânicos no Empório Santa Maria, em São Paulo. Foi também editor da Revista Gula, e afirma que participa de todas as etapas da boa mesa; desde a escolha dos legumes na feira até a maneira como eles chegam à mesa. Foi um prazer para nós conhecer Ronald e temos certeza que será para vocês também!
PO: Quando você começou a se interessar por orgânicos? |
RC: Primeiro, sempre gostei de gastronomia, prestando sempre atenção ao sabor. Você começa a perceber que há diferença de sabor entre um alimento orgânico e um convencional. Por exemplo, um tomate orgânico tem o cheiro e o sabor adocicado da fruta. Um tomate convencional tem gosto de um produto fabricado com gosto de remédio. Quando você vê de perto uma plantação orgânica, ou uma criação de galinha ou gado que segue os princípios básicos do processo orgânico, você percebe a diferença entre os diversos modos de produção. Além do sabor, a preocupação com a saúde é fundamental. Há 30 anos que eu me preocupo com a qualidade do alimento.
PO: A sua descoberta dos orgânicos aconteceu muito antes desta explosão que está ocorrendo agora, não foi? |
RC: Certamente. Nos anos 70, (há 30 anos!) no Rio de Janeiro, havia poucos locais onde se encontravam produtos naturais. Alguns poucos restaurantes, e sempre muito simples, sem nenhuma preocupação gastronômica. Era uma geração xiita, oriunda do movimento hippie, que curtia ir para Mauá e que tinha uma filosofia muito natural em relação à alimentação. Eu gostava, e ainda gosto, de ir à feira, procurar as novidades, sentir o perfume das verduras, escolher os produtos e ter contato com os produtores. Fiz algumas amizades na feira do Ibirapuera quando morava em São Paulo. Daí então ligava diretamente para os produtores e fazia a encomenda para o Empório Santa Maria, onde trabalhava. Eram pequenos produtores na época, mas hoje sei que cresceram muito.
PO: Conte mais sobre sua fase no Empório Santa Maria. |
RC: Quando comecei a trabalhar com gastronomia sentia necessidade de um produto de boa qualidade e com boa apresentação. O meu lado de arquiteto me ajudou a desenvolver o visual, a apresentação do produto para o consumidor. Desenvolvi uma horta própria para o Santa Maria, de quem me tornei sócio. Fiz uma horta séria seguindo todos os critérios necessários para uma horta orgânica.
PO: Com esta atitude dentro do Santa Maria, você iniciou um movimento de conscientização da importância da alimentação saudável-saborosa na classe media e alta, até então desligada desta questão de saúde e agrotóxicos. Você queria agregar profissionalismo num assunto que parecia ser um movimento alternativo? |
RC: Com certeza. Inicialmente fui criticado por tomar uma iniciativa burguesa e não era nada disso. O alimento tem um glamour, um apelo visual. E este apelo visual deve ser ressaltado. A minha formação de arquiteto exige uma preocupação com a estética. Sempre fui uma pessoa envolvida com arte e sempre me preocupei com a beleza. Não se pode encarar a gastronomia como uma atividade burguesa, é uma atividade cultural, com todas as suas implicações.
PO: Qual a resposta obtida deste seu trabalho no Empório Santa Maria? |
RC: Devido às mudanças no visual da loja, mas principalmente pela novidade dos legumes (abobrinha amarela, mini legumes, tomatinhos que hoje são comuns, mas na época praticamente não existiam) a resposta foi excelente. Deu matéria na Gazeta Mercantil e até o Fantástico fez uma reportagem. Isto foi em 1993. Falei sobre verduras, legumes e até sobre flores. As flores tem princípios ativos. A calêndula e a violeta, por ex., além de serem decorativas, fazem bem não só ao espírito como também ao corpo; são usadas com fins medicinais, uma medicina natural que respeita todos os princípios ecológicos. As flores usadas na gastronomia fazem bem para a saúde, ajudam as pessoa a recuperarem a beleza e a delicadeza. Temos que trabalhar neste sentido para que não digam que” o Brasil é o país da delicadeza perdida”. Sou adepto da antroposofia de Rudolf Steiner
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PO: O orgânico veio para ficar, ou é um modismo? |
RC: O orgânico veio para ficar e só tende a crescer. O problema do orgânico era o manejo. Você tinha muito trabalho e não conseguia um resultado tão bonito quanto o da agricultura convencional. Hoje este problema foi superado e o produto orgânico não perde mais em beleza para o produto que leva agrotóxico. Continua sendo muito mais trabalhoso cultivar organicamente., embora o conhecimento da técnica já esteja bem mais difundido. Os produtores começaram a se associar, a trocar informações e consequentemente a venderem mais. As feiras serviram para criarem as associações. As certificadoras são muito importantes, pois servem para dar aos consumidores a certeza de estarem consumindo um produto verdadeiramente orgânico, sem química.
PO: Você acha um bom negócio investir em orgânico? Temos recebido muitos e-mails no Planeta Orgânico de pessoas que querem cultivar produtos orgânicos. É compensador? |
RC: Tenho receio desta idéia de ver o orgânico como um “negócio para ficar rico depressa”. Não é assim. Como qualquer negócio é preciso muito trabalho. Se a pessoa quiser um lucro rápido, certamente não será com agricultura orgânica. Um ótimo exemplo é o produtor Renato Hauptmann, da Fazenda Santo Onofre. Pergunte a ele o quanto ele trabalhou para chegar onde chegou. Ele, a mulher dele, Paula, e todos da equipe trabalharam muito, com dedicação e seriedade, sem perder a alegria. Um outro exemplo de produção séria e robusta é a Korin, que é atrelada a uma igreja; é um trabalho com sentido religioso. Assim como esses, há muitos outros produtores que se dedicaram com afinco. Não é fácil. Você tem lucro, mas tem muito investimento e um trabalho árduo.
PO: É árduo, mas é um trabalho compensador… |
RC: Sem dúvida! Claro que é compensador, pois você está em busca da excelência, você vê a qualidade. Você sabe que está contribuindo para a saúde do planeta. Uma plantação de soja convencional por ex., é absolutamente desastrosa para a terra onde foi cultivada. Sabemos que a agricultura convencional polue mais do que as indústrias, porque atinge a água, arrasa a terra, sem contar no prejuízo da saúde de quem consome agrotóxicos.
PO: O Planeta Orgânico tem um projeto de montar eventos difundindo o conceito orgânico e sua importância para o meio ambiente. Podemos contar com você? |
RC: Claro que sim. É fundamental difundir o conceito. Estamos aí!
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