Juarez de Paula, gerente da Unidade de Desenvolvimento Local do Sebrae, fala ao Planeta Orgânico sobre a importância do conceito de Comércio Justo
Segundo Juarez de Paula, “no primeiro momento é importante que as pessoas conheçam o conceito de comércio justo, que é um novo tipo de relação entre o consumidor e produtores, onde você tem um consumidor disposto a pagar mais por um determinado produto desde que eles preservem determinadas características.”
Confira a entrevista de Juarez de Paula e saiba mais sobre Comércio Justo.
PO – Quais as características do Comércio Justo?
Juarez – Em geral, a certificação do comércio justo diz respeito a algum produto que é resultado do trabalho de uma comunidade tradicional em que este trabalho não envolve trabalho infantil, nem exploração do trabalho feminino, ou agressão ao meio ambiente. Portanto é uma caracterização que está muito próxima da maior parte de nossos produtos da agropecuária da agricultura familiar e dos nossos produtos artesanais.
PO – Por que o SEBRAE abraçou esta causa?
Juarez – Porque a demanda por produtos neste mercado é compatível com a capacidade produtiva dos pequenos produtores. Ou seja, se compararmos com um supermercado, a demanda de uma rede supermercadista é muito grande e eles são muito exigentes em termos de regularidade e padronização do produto.
Enquanto que a demanda do fair-trade é de menor quantidade, você pode ter um lote de produto para uma determinada compra, um outro lote para outra compra sem a exigênica da mesma garantia de padronização.
Teremos melhores condições de atender com regularidade porque os pedidos serão em quantidades menores.
PO – Há ainda outras vantagens para o produtor?
Juarez: Sim, tem outras vantagens adicionais. Além de você ter um preço maior pelo produto, um “prêmio” como é chamado, em muitos casos o comprador concorda em adiantar a compra. Ou seja, ele paga antes de receber o produto, e assim o comprador estará co-financiando o próprio processo produtivo. Na verdade é o que seria um crédito de capital de giro. Ele está financiando o capital para o pequeno produtor. Por todas essas vantagens nós achamos que o fair-trade é bastante vantajoso para o pequeno produtor. Sobretudo na área de agronegócio e artesanato.
PO – Você acha que o brasileiro já se da conta do valor agregado de um produto proveniente do fair trade?
Juarez: A prática do fair-trade ainda está limitada à Europa, onde é muito forte. Temos informação que há uma rede de mais de 3.000 lojas européias de fair-trade. Várias destas lojas compram no Brasil. Mas nós não temos no Brasil o que eles chamam do iniciativo nacional, ou seja, uma organização nacional que organize todo esse mercado.
Assim sendo o SEBRAE também se preocupa em fomentar o surgimento dessa organização, desse mercado. Promovendo que surjam organizações no Brasil capazes de fazer a certificação de produtos para que não se fique dependendo de certificação externa e que seja capaz também de organizar esta relação entre fornecedores e compradores internacionais.
Um outro elemento que temos que discutir é a criação de um mercado brasileiro de comércio justo, que é a idéia de formar o consumidor brasileiro dentro desse conceito para que também no Brasil nós tenhamos pessoas dispostas a fazer parte desta rede, como compradores que diferenciam e valorizam este produto e com isto estimulam a sobrevivência digna de comunidades locais.