Domingos S. C. Paciullo* e Luiz J. M. Aroeira*

Para tornar-se mais competitiva a pecuária brasileira terá que investir em novas tecnologias e processos de produção ambientalmente viáveis. Uma das alternativas consiste no estabelecimento de sistemas silvipastoris (árvores, pastagem e animais numa mesma área).

Os sistemas silvipastoris podem contribuir, parcialmente, para reduzir os problemas decorrentes do desmatamento e da degradação de diferentes ecossistemas. Além do mais, apresentam vantagens em relação às monoculturas no que diz respeito ao seqüestro de carbono para a redução do efeito estufa, tema tão discutido, atualmente.

Dentre os benefícios atribuídos aos sistemas silvipastoris podem ser listados:

1) Para o solo – As espécies arbóreas, principalmente, as leguminosas, influenciam na quantidade e na disponibilidade de nitrogênio a partir da fixação biológica do elemento. Aumentos nos teores de cálcio, magnésio, fósforo e potássio podem ser observados no solo sob a copa de árvores. A modificação do micro-clima contribui para a elevação da umidade sob as copas. As árvores podem ainda atuar no controle da erosão. 

2) Para a produção de forragens – O crescimento das forrageiras pode ser prejudicado ou favorecido, dependendo da tolerância à sombra, ao grau de sombreamento e a competição entre as plantas por água e nutrientes. O P. maximum foi uma das gramíneas consideradas tolerantes à sombra atingindo, a 30% de sombreamento, 120% da produção obtida a pleno sol. A B. decumbens, menos tolerante, teve sua produção diminuída com 65% de sombreamento. Entretanto, mostrou aumentos de 65% da produção de forragem, com 35% de sombra.
Esses resultados sugerem que o uso de árvores, de modo a promover apenas sombreamento moderado das forrageiras, poderia contribuir significativamente para a sustentabilidade dessas pastagens. Além do mais, existe um certo consenso de que sistemas silvipastoris podem reduzir a sazonalidade da produção de forragens. O sistema pode permitir ao animal a seleção de mais de uma espécie forrageira e a maior retenção de umidade pode prolongar o período de crescimento das gramíneas.

3) Para o valor nutritivo da forragem – Em pastagens de B. decumbens sombreadas, os teores de proteína bruta foram influenciados pela luminosidade, sendo 29% maiores na sombra do que no sol. Resultados de pesquisa indicam uma tendência de redução dos teores de fibra (FDN) e aumento da digestibilidade. Os teores de FDN foram de 76% e 73% a pleno sol e sob as copas das árvores, respectivamente. O efeito do sombreamento na digestibilidade é variável conforme a espécie, o grau de sombreamento e as condições climáticas (temperatura e umidade). Em uma pastagem de Brachiaria decumbens, foi observado que durante a estação seca, o capim apresentava valores de digestibilidade mais elevados na sombra do que os obtidos a pleno sol (53% e 48%, respectivamente).

4) Para o consumo da forragem – Este efeito é discutível. Não foram observadas diferenças no consumo das novilhas leiteiras mantidas em sistema silvipastoril ou em pastagem exclusiva de B. decumbens na estação chuvosa. O consumo e a composição da dieta de vacas mestiças Holandês x Zebu, em sistema silvipastoril foi avaliado. O estudo foi realizado em pastagem sombreadas de B. decumbens consorciada com Stylosanthes guianensis. O maior consumo da gramínea foi observado em novembro, período em que a B. decumbens participou de 91% da dieta total. Entretanto, o maior consumo de matéria seca (gramínea mais leguminosas) ocorreu em maio: 1,9% do peso vivo. Neste mês, observou-se também o maior consumo de estilosantes, quando o percentual deste na dieta foi de 24%.

5) Para o conforto animal – O sistema silvipastoril constitui eficiente método para criação de animais especializados na produção de leite, fornecendo um ambiente de conforto térmico. A procura dos animais por ambientes sombreados, durante o verão, mostra a necessidade da provisão de sombra. No inverno, vacas mestiças, em lactação, permaneceram 43% do tempo da pastagem à sombra das árvores. No verão este percentual subiu para 69%.

6) Para a produção animal – Ainda são escassos os resultados sobre desempenho de bovinos em sistemas silvipastoris, especialmente sobre a produção de leite. Em novilhas leiteiras observou-se que, na época das chuvas, o ganho de peso no sistema silvipastoril e na monocultura de gramíneas foi semelhante (486 g/dia). Entretanto, durante o período seco, o ganho de peso variou com o tipo de pastagem, sendo maior no sistema silvipastoril com estilosantes (326 g/dia), em relação ao observado na braquiária sem sobreamento (226 g/dia).

Concluindo, pode-se sugerir que o uso de sistemas silvipastoris baseado em pastagens consorciadas de gramíneas e leguminosas, surge como opção interessante para a produção de leite. A sombra e a biomassa das árvores têm potencial para aumentar a disponibilidade de nitrogênio para as forrageiras, promovendo reflexos positivos não só para a produção como também para o valor nutritivo da forragem. A temperatura ambiente reduzida pelo sombreamento, contribui para melhorar o conforto dos animais na pastagem.

Entretanto, as evidencias indicam que a boa produtividade do sistema depende do cultivo de forrageiras que apresentem tolerância ao sombreamento. A densidade de árvores deve permitir apenas sombreamento moderado da pastagem. A presença de leguminosas herbáceas pode contribuir para a fixação de nitrogênio e melhoria do valor nutritivo da dieta dos animais, principalmente durante o período seco do ano.

*Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, Rua Eugênio do Nascimento, 610, Juiz de Fora, 36038-330, Minas Gerais, Brasil. 
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