Planeta Orgânico visita o Sítio do Moinho

Dick e Angela Thompson, proprietários do Sítio do Moinho, receberam o Planeta Orgânico em Itaipava, de onde saem diariamente os produtos para serem entregues em domicílio, em supermercados e também em restaurantes.

Nesta entrevista são abordados diversos temas, desde produção e ética até perspectivas para o setor orgânico no Brasil.

Conheça os planos do Sítio do Moinho de ampliar seu leque de serviços, apoiado na infra-estrutura que vem construindo nos últimos anos.

Como surgiu a idéia de produzir orgânicos?

Dick – Ao adquirir uma área na região de Itaipava, em 1987, decidimos iniciar o plantio de hortaliças orgânicas de uma forma experimental. Foi um inicio despretensioso. Durante 4 anos procuramos uma área onde pudéssemos nos instalar. Quando descobrimos este terreno, nos encantamos e compramos de imediato.

Esta área tem 500.000m2, 50 hectares, dos quais 350.000 m2 são de Mata Atlântica; estamos em um vale, mata de um lado e pedra do outro. Temos uma área plana de 5 hectares e aproximadamente 2 hectares de morro onde também conseguimos plantar sem irrigação, o que torna o problema um pouco mais difícil. Não sabíamos o que fazer com este terreno. Começamos a buscar uma atividade para a área. Não sabíamos se a terra era apta para criação de rãs, cavalos, cogumelos, não tínhamos a menor idéia do que fazer. Chamamos então a “Agrosuisse” para fazer um estudo de viabilidade econômica.

Por que a Agrosuisse?

Dick – Porque eu conhecia o Werner Eisler, um dos donos, ainda no tempo que eu trabalhava no mercado financeiro. Alguns amigos me sugeriram que o procurasse. O Werner veio aqui com o Fábio Ramos. No estudo de viabilidade econômica que fizeram, sugeriram então o cultivo de hortaliças devido à área plana. Registre-se que eu não tinha a menor idéia do que era  olericultura, não sabia o que era transplante, não sabia o que era muda, não sabia nada disso. A idéia era que o plantio de folhas, tubérculos, hortaliças  poderia ser um negócio interessante e que poderíamos fazer entregas em domicílio pois  tínhamos uma área pequena e  um mercado consumidor próximo. Tudo isso fazia sentido mas não estava nos interessando. Só quando eles começaram a falar de agricultura orgânica, que a idéia começou a despertar nosso interesse.

O terreno que nós compramos já tinha sido cultivado por um francês, que usara muita pesticida, mas a terra estava parada há uns 7 anos; disseram que já havia saído muito produto daqui. Naquela época nós nem sabíamos o que era recuperar a terra,  mas ficamos animados com a perspectiva de produzir hortaliças de uma forma mais  saudável.
Angela – Esses foram os primórdios; houve muita experimentação, muita perda, muito laboratório até que em junho de 91 a gente decidiu fazer nossa primeira entrega. Como é que poderíamos tocar o projeto para frente? Nenhum de nós tinha experiência em agricultura. Foi então que pedimos ao Fábio Ramos, da Agrosuisse, que nos encontrasse uma pessoa que pudesse ficar encarregada da parte técnica. Foi quando encontramos a Maria Claudia Arueira, que está conosco até hoje e é o alicerce técnico de nossa produção.

Quando foi tomada esta decisão? Como foi o início desta caminhada orgânica?

Angela – Deve ter sido em meados de 90.  Estávamos muito no começo, era tudo muito difícil ainda, e nós dissemos “ou vai ou racha”. E fomos em frente. Começamos a plantar feijão, oferecendo para os amigos, ainda de uma maneira muito amadora, algumas hortaliças, até que fizemos nossa primeira entrega domiciliar em junho de 91. Naquela ocasião era tudo muito rústico e muito simples. Tínhamos que gerar alguma receita para poder pagar as despesas do Sítio, e quem fazia a entrega das nossas cestas em domicilio era o nosso caseiro.  
No lugar dos caminhões de hoje usávamos uma pick-up pequena coberta por uma lona branca e eu descia com ele. Eu estava diretamente envolvida na montagem das cestas. Cuidava da colheita e das operações de limpar, lavar, amarrar, pesar e naquela época não tinha nem  balança direito, era o começo do começo. Muitos anos desci a serra de madrugada, ia tomar café lá no Brazão, subia na boléia do carro, para ensinar ao nosso caseiro os endereços de nossos clientes no Rio.

Dick – Durante anos nós iniciávamos a montagem no domingo. Era feita segunda-feira o dia todo, até 10, 11 horas da noite, levantávamos às 3 horas da manhã para terminar a montagem, colocando os molhos de folhosas que tinham ficado em baldes com água  nas caixas, para que chegassem bem viçosas na casa do cliente. Foi muito trabalho acompanhar esse processo todo e chegarmos até aqui.

Angela – Claudia e eu descíamos de madrugada para terminarmos a montagem das cestas. Porque como todo começo, a equipe era pequena, dificuldades novas todos os dias, novas descobertas também, busca de como é que se faz, encontrar a solução para os problemas que iam surgindo. Eram notas fiscais preenchidas até de madrugada, tudo a mão assim como todos os controles; tudo que é hoje automatizado era feito a mão. Foi uma trabalheira imensa, mas eu acho que tudo isso fazia parte do começo e fez com que nós vivêssemos cada parte do nosso negócio. Quando você vai colocando as coisas em pé, você vai aumentando devagarzinho o seu projeto. Nunca houve propaganda direta. A nossa propaganda era de boca a boca É um trabalho que sempre foi feito com muito cuidado, porque achamos que para fazer um trabalho temos que fazer direito. O controle de qualidade colocado na prática é difícil. Vemos como sendo de muita responsabilidade a escolha de produtos para o nosso cliente. Ele confia e entrega para nós a escolha do que ele está comprando sem ver. Por isso, sempre fomos muito exigentes com a qualidade de nosso serviço. Os produtos são, por exemplo, selecionados um a um, separados por tamanho.

Quando vocês entraram no Supermercado?

Dick – Um dia aparece a Jovelina Fonseca na nossa vida. Não tínhamos estufa nessa época, não tínhamos câmara refrigerada, não tínhamos equipe e o galpão era muito simples. Em 91, a nossa casa ficou pronta. Demos uma melhorada no galpão, embora continuasse muito simples. Reformamos também a casa da Maria Cláudia. Esta volta toda é para chegar em 97, quando apareceu no Sitio a Jovelina Fonseca que, junto com a Cristina Ribeiro, bateram na porta do Jaime Xavier, diretor dos Supermercados Zona Sul. Em 97, a Jovelina teve o grande mérito de ser a primeira fornecedora de produtos orgânicos no Zona Sul. Foi com o Jaime Xavier com quem ela falou inicialmente. Ele apostou nela e apostou nos orgânicos. Achava que orgânico não era só modismo, mas um produto que vinha para ficar. A Jovelina e a Cristina tinham iniciado o trabalho, que era muito parecido com a nossa entrega em domicílio, muito rústico, com estrutura pequena. E estavam começando a sentir que não dava para continuar a entrega nas lojas. A Jovelina queria que o Sítio do Moinho continuasse aquele trabalho.

Angela – Esse momento foi um divisor de águas para o Sítio. Até então fazíamos uma coisa muito artesanal. Para você entregar para lojas, é necessário ter volume de produção, rapidez, eficiência, e para isso você teria que ter um galpão apropriado.

Dick – Naquele momento, agosto de 97, começamos a fazer a entrega como teste, numa filial do Zona Sul, filial 8, uma filial grande de Ipanema. Nós entregávamos 200 unidades de produtos por dia, três vezes por semana, segunda, quarta e sexta. Não sei precisar exatamente, mas alguns meses depois nós estávamos já em todas as filiais entregando 6 vezes por dia.

Dois anos depois vocês estavam em três cadeias de supermercados?

Angela – Nós entramos em outubro de 97 para o  Zona Sul.   Entramos no Extra em 1999, logo depois entramos para outras lojas: Pão de Açúcar, Carrefour, Sendas. Recebemos a proposta de fornecimento para diversas lojas. Naquela época a achávamos que a produção poderia aumentar de acordo com a demanda. Nos esforçamos muito, mas esse crescimento de produção não é imediato e não é tão simples. Hoje estamos em 30 lojas e não pretendemos entrar em outras para que possamos continuar executando um bom serviço.

Dick – Como eu estava dizendo, em dois anos, passamos a entrega de 600 unidades por semana para 25.000 unidades semanais.

Quando aconteceu esta passagem?

Dick – Entre 97 e 99.  Diante desta demanda, tivemos que reconhecer a necessidade de nos estruturarmos melhor. Fizemos um investimento no Sítio do Moinho. Melhoramos o galpão, o fornecimento de eletricidade, trocando o transformador de 15 para 75kva.  Tivemos que colocar um gerador porque aqui tinha muita falta de eletricidade; passamos a ter duas câmaras frias, uma câmara fria de despacho, uma câmara fria de recebimento de mercadoria, modernizamos todos os equipamentos de empacotamento. O produto que entra no Sítio do Moinho vai para uma câmara fria umidificada para dar uma proteção maior ao produto, dando-lhe assim uma vida mais longa  na prateleira, graças à  forma com o qual foi tratado. Por isso compramos caminhões refrigerados; nós chegamos a ter até cinco caminhões para fazer a entrega no Rio de Janeiro. Hoje, nós trabalhamos com três caminhões refrigerados e duas kombis no Rio.

Angela – Tão importante quanto a estruturação de logística, foi criar um logotipo e uma embalagem que pudesse preservar a integridade do produto orgânico nas lojas e evitasse a mistura com os produtos convencionais. Foi também a experiência nas lojas que nos fez providenciar códigos de barra na embalagem assim com a necessidade de supervisão dos produtos nas lojas.

É importante ressaltar que, nesse momento, sentimos a necessidade de legitimar o nosso trabalho, buscando a certificação. Por praticarmos agricultura orgânica já há 8 anos, o Selo do IBD (RJ 004) nos foi dado 6 meses depois, após alguns ajustes. Tornamo-nos também associados da Abio. Alguns anos depois, fomos os primeiros a implantar um processo de rastreabilidade de nossos produtos.

Dick – Hoje eu acho que a nossa marca já tem uma identificação, uma associação com o nome Sítio do Moinho, o colorido da embalagem amarela, que dá um destaque muito forte na prateleira. Quando o consumidor procura um produto Sítio do Moinho, ele busca aquela embalagem, procura a “marca da cestinha”, e a cor amarela.

E o conhecimento, o estudo?

Dick – A Angela, a Maria Claudia, assim como os nossos técnicos estão sempre se atualizando fazendo cursos como o de Agricultura Orgânica e Biodinâmica em Botucatu, como vários outros.

Angela – A essa altura nós já tínhamos lido muito, estudado muito, e fomos ganhando conhecimento através da prática e principalmente através do intercâmbio com pessoas que dominam essa parte técnica, já que nenhum de nós dois vinha dessa área. Tivemos também no inicio do projeto, a assessoria do Nasser, consultor do mercado orgânico, sediado em Itapemirim, no Espírito Santo.

O Sítio do Moinho  investe  com especial carinho na entrega em domicílio. Como vocês fazem isto?

Dick – Nós temos um diferencial na forma com a qual  tratamos as nossas entregas em domicílio. Hoje nós temos competição de fornecedores de São Paulo aqui no Rio, vendendo nos supermercados, mas o nosso serviço e a forma com a qual nós o fazemos na entrega do produto é o que faz a diferença. A mesma coisa acontece em relação ao cliente domiciliar.  A qualidade do produto que chega na residência das pessoas é o que mais nos preocupa. Tem que ser cada vez melhor. Além de uma estrutura de pessoal e de processos que seja eficiente e correta, nós queremos melhorar mais, tanto que estamos pensando em importar produtos orgânicos. O diferencial que damos ao cliente é o envolvimento que nós temos com ele. São pessoas com quem nós dialogamos e que mantemos um bom relacionamento. Existe um denominador comum entre a horta e a residência das pessoas.  A Angela é que deve falar sobre isso, pois é ela que tem um contato permanente com essas pessoas.

Ângela – Temos uma preocupação muito grande com a qualidade dos produtos e na seleção do que chega na casa do cliente. Para isso, você precisa ter uma boa equipe, que partilhe esse cuidado e essa preocupação. Mas não é apenas isso. Os outros setores envolvidos como a captação de pedidos, a montagem propriamente dita, a cobrança, a entrega, e todos os funcionários envolvidos nesse processo, todos esses setores  têm que trabalhar integrados. O que adiantaria um bom produto entregue por um funcionário mal educado, ou que leve tanto tempo para ser entregue que chega murcho, ou se a fatura está incorreta? Como nossas cestas são personalizadas, o volume de trabalho é grande e muito minucioso.
Os erros, às vezes acontecem, mas o importante é identificá-lo, saber porque aconteceu, corrigi-lo e aprender com ele para que não ocorra novamente. O cuidado tem que ser permanente.

Você acha importante ter seu produto no supermercado porque ele fixa a marca para o consumidor?

Angela – Sim, ele fixa a marca. O supermercado é o segmento de venda que atinge um maior número de pessoas e hoje tem uma clientela específica de orgânicos dentro das lojas.

Dick – Se não fosse o supermercado a produção orgânica jamais teria tido a cobertura de mídia de televisão, de revistas e de jornais. O supermercado dá uma visibilidade enorme ao orgânico.

Angela – Hoje, quando já aprendemos a trabalhar com a entrega em  domicílio, nós temos a oportunidade de ter um cliente mais consciente, pois quem opta  por orgânico está acreditando em saúde. O cliente domiciliar é mais fácil de ser trabalhado. O Sítio do Moinho continua presente no supermercado porque tem também um trabalho muito cuidadoso com este cliente em termos de qualidade de produto, que é a premissa básica. Todo produto tem que ser da melhor qualidade.  Hortaliças estão sujeitas a problemas de clima, umidade, etc. As vezes, temos problemas com os produtos entregues nas lojas, mas o importante é estar sempre atento para corrigi-los. Não é por acaso que temos uma equipe de supervisores que corre as lojas todos os dias, além de promotores fixos em algumas delas.

É por isso que vocês conseguem fidelizar os clientes…

Angela – É verdade, nós temos uma clientela domiciliar muito fiel; alguns deles estão conosco  há 12 anos. Quando falamos com um cliente por telefone temos muito mais oportunidade de mostrar a ele o que o produto orgânico significa e ele vai atrás de um produto que seja saudável,  bem escolhido, bonito  e que seja entregue em casa com conforto.Com o crescimento do mercado, com uma variedade muito maior de produtos disponíveis para entrega, nós procuramos sempre selecionar os produtos que entram para a nossa lista semanal, com muito critério, pois eles precisam ser certificados. Os poucos produtos que nós temos que não são orgânicos, como molhos de saladas artesanais, são citados na nossa lista domiciliar como produtos não orgânicos. Estamos com a possibilidade de trazer produtos de fora, e chegamos agora naquele momento que temos que nos reestruturar novamente para podermos crescer.

O Sítio do Moinho tem  planos de aumentar seu leque de oferta porque percebeu o interesse do consumidor?

Angela – Sem dúvida. E uma vez que você está recebendo em sua residência, quanto maior a variedade, melhor. Podendo receber também um arroz integral de boa qualidade, um açúcar mascavo, um suco, um laticínio, esta oferta variada ficará muito mais interessante para o cliente. Pela mesma taxa de entrega ele recebe muito mais produtos em casa.  Diante disto estamos pensando em oferecer também uma linha de produtos importados. O Sítio do Moinho está se tornando um importador. A entrega em domicílio vai acoplada à entrega aos outros  clientes, ou seja,  restaurantes e supermercados. Estamos fortalecendo esta estrutura em domicílio, para que possamos dar uma expressão maior a este segmento de clientes com os quais trabalhamos. O Sítio do Moinho hoje virou um ponto de referência da agricultura orgânica no estado. A Universidade Rural  do Rio de Janeiro tem mandado vários estudantes da disciplina Agricultura Orgânica. Universidades, escolas, estudantes, agrônomos, estagiários, normalmente procuram o Sítio como um ponto de referência por causa da expressão que o Sítio alcançou em termos de produção orgânica.

Dick – A Universidade Rural do Rio de Janeiro acabou de mandar dois estagiários que passaram uma semana aqui e esta já é a 4ª ou 5ª vez que eles mandam estudantes para fazerem estágio no  Sítio do Moinho.

Angela – É importante também dizer que o que vocês viram aqui hoje é apenas uma parte da produção pois nós temos mais outras 3 áreas arrendadas. Nestas áreas existe uma variedade muito grande de culturas sendo cultivadas.

Dick – Quero ressaltar este trabalho que fazemos com as escolas. O conceito orgânico se insere nas disciplinas de educação ambiental, ciências, alimento limpo, ensinados nas escolas.

Angela – Temos recebido aqui grupos de alunos, para aulas práticas sobre meio ambiente, reciclagem, produto limpo, agricultura saudável.  É um trabalho que gostaríamos de estar incrementando, pois nós acreditamos que se você consegue educar uma criança, você está educando um consumidor de amanhã, com uma percepção mais clara sobre os danos que os agrotóxicos fazem à saúde, ao meio ambiente e ao agricultor. Da mesma forma que a gente percebe hoje um interesse muito grande de jovens mães que procuram produtos orgânicos para a sopa de seus bebês. São consumidoras muito diferentes de 5 anos atrás quando senhoras eram as consumidoras. Hoje mudou muito pois os jovens estão muito ligados. O leque de consumidoras é maior.

Dick – Nós já recebemos escolas públicas, a Universidade de Viçosa, uma escola de Jacarepaguá, escola de Itaipava, escolas de ensino médio do Rio, grupos de 3ª idade, famílias trazendo crianças para conhecerem uma horta orgânica. Isto tudo faz parte da nossa responsabilidade.

Angela – Essa responsabilidade nós sentimos também em relação aos nossos funcionários. Estamos desenvolvendo a implantação de um projeto onde os reuniremos para aulas sobre agricultura orgânica, reciclagem, separação de lixo, aproveitamento de cascas e talos de vegetais, ou outros assuntos que possam ser de interesse deles, acreditando que eles possam levar um pouco disso para suas próprias vidas. Os rios de nossa região são altamente poluídos, com a triste  tradição de inundações na época das águas, pelo fato de serem depósitos de lixo e de esgoto. A coleta de plástico gera renda para muita gente e evita tantas latinhas e Pets jogados no lixo, por falta de consciência. Gostaríamos também de achar uma solução para alguns de nossos funcionários que não sabem ler ou escrever, através da contratação de uma professora. Hoje, o conceito  orgânico vai muito além da produção. Nós o levamos para nossa vida, através de práticas que envolvem escolhas mais conscientes, e que implicam em menos desperdício e mais aproveitamento.

PO – A Ana Maria Primavesi esteve no Sítio do Moinho, escolhido como local para uma aula prática. Conte-nos sobre esta experiência.

Angela – A Ana Maria Primavesi veio a Itaipava como uma das professoras de um curso de Agricultura Natural promovido pela Fundação Mokiti Okada. Participamos do curso como alunos e uma das aulas práticas foi realizada no Sítio do Moinho. Tivemos muita satisfação em ter a Ana Maria Primavesi aqui, quando ela constatou tudo que havia de bom e, ao mesmo tempo fez algumas observações que para nós foram muito produtivas em termos do que poderia ser melhorado. É importante passarmos para todos os nossos clientes este sentimento que nós trabalhamos com uma preocupação muito grande com a qualidade de produto, e com o bom atendimento a todos eles. Nós damos um atendimento específico a cada cliente.

PO – Principalmente que vocês permitem aos clientes que eles escolham os produtos. É uma cesta “sob medida”.

Angela – Seja o cliente domiciliar, seja um chefe de setor de supermercado a quem visitamos todos os dias para ver se os produtos estão bem apresentados, enfim para que seja um relacionamento estável. Em relação aos restaurantes temos o mesmo cuidado. Nossa funcionária fala diariamente com eles. Esta “amarração” é que dá muita segurança para o cliente. Nosso comparecimento às lojas consegue despertar um sentimento de respeito pelo serviço. Dick e eu entramos tanto em um departamento comercial para negociar como também já entramos  nas lojas  em feriado, para ver nossos produtos na ara de venda. Já  nos viram muitas vezes trabalhando com faca, com perfex, com camiseta do Sítio. Este sentimento é que estamos levando o projeto com seriedade. Nós nos entregamos de corpo e alma ao nosso trabalho.   Nós procuramos trabalhar com a maior transparência, com a melhor correção possível, que é a forma que você tem de obter respeito do seu cliente.

Dick – Temos muito orgulho do que fazemos. Acreditamos na filosofia básica da agricultura orgânica. Foi este o principio que nos levou a nos interessarmos por este projeto e em nenhum momento nos arrependemos de ter tomado essa decisão. Estamos convictos de que o nosso envolvimento nesse projeto, está nos permitindo adicionar um quinhão acentuado na vida mais saudável de todos que compartilham de nosso serviço. É isto mais do qualquer coisa que nos dá uma grande satisfação de estarmos envolvidos nesse universo orgânico.

Esta seriedade, esta honestidade que encaramos o trabalho, a forma operacional que o Sítio do Moinho tem, vem de muita perseverança; esta ética faz parte do conceito orgânico; você trata seu trabalhador de uma forma correta, seu produto de uma forma correta. No cultivo, na colheita e na pós colheita tratamos o produto nobremente para que este produto chegue muito bem tratado a casa do cliente. E o que é incrível é que nós começamos pequeninhos, está crescendo e na realidade o que nós estamos vendo hoje é que o ponto que nos encontramos ainda é o topo de um “iceberg”, porque ainda tem muito por vir pela frente.

PO – A falta de informação do consumidor é um dos principais gargalos para o crescimento da produção orgânica.

Dick – É verdade. Num jornal que nós assinamos “Acres” saiu uma notícia que realmente me horrorizou. Houve um problema com uma criação de galinhas, que por algum motivo pararam de produzir ovos. Eram milhares de galinhas. Tinham que ser sacrificadas.  A forma que eles encontraram foi jogar as galinhas vivas dentro de um triturador. Este processo foi de tal forma criticado que eles estão sendo processados.Dentro do conceito orgânico isto jamais aconteceria. O trato do animal é super cuidadoso.

Angela – O consumidor confunde muito os conceitos e precisa de informação. Cabe a nós ajudar a divulgá-la. Apesar da mídia auxiliar  muito a divulgação, há muito que fazer. O aumento de produção orgânica precisa estar atrelado à um trabalho de conscientização do consumidor.

Dick – Hoje o consumidor exige qualidade, deseja saber como o produto foi feito, e respeita o produtor ou fabricante que tenha preocupações quanto à preservação ambiental ou responsabilidade social. Tudo isto está mudando no mundo.  Por isso eu digo que nós estamos no topo de um iceberg.

Muita coisa vai acontecer no futuro. Daqui a dois anos nós vamos estar sentados aqui e vamos ver que hoje o que temos hoje é muito pouco em relação ao que vamos ter no futuro em matéria de produtos orgânicos.

 

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