Durante a BioFach 2007, o Planeta Orgânico entrevistou a Sra. Sylvia Wachsner, diretora da SNA – Sociedade Nacional de Agricultura, sobre a participação brasileira no Evento. Confira a entrevista abaixo.
PO – O que mais a impressionou na BioFach 2007 em Nuremberg?
Sylvia Wachsner – A feira continua crescendo e solidificando-se. A participação dos países-chave como consumidores de produtos orgânicos e produtores de alimentos como Alemanha, Espanha, França, etc. Até países que há um ou dois anos tinham uma presença tímida como Bolívia, Chile, Equador, neste ano apresentaram stands maiores, muito bem montados e produtores com conhecimento de seus produtos. A China, que há dois anos tinha pouquíssimos produtores, neste ano já ocupou um espaço muito maior e trouxe vários produtores. Ou seja: estão entrando no mercado de orgânicos produtores de países que oferecem produtos concorrentes com os brasileiros. A China, por exemplo oferece soja e outros grãos orgânicos.
PO – Como você viu a presença do Brasil neste evento e particularmente a presença do Estado do Rio de Janeiro?
Sylvia Wachsner – Na Biofach de 2005 o Brasil foi o país homenageado e a nossa presença foi massiva, com muitos produtores. Já no ano passado e neste o Brasil infelizmente ocupou um espaço menor, muito menos produtores, talvez porque os produtores que foram em 2005 ainda não estivessem preparados para atuar no mercado internacional.
Apesar dos stands de cada expositor terem sido individuais e os espaços foram mais bem divididos, se comparados com 2005, ainda considero que falta criatividade na apresentação do espaço onde se encontra o “conjunto Brasil.” Gostaria de sugerir a contratação de cenografistas de teatro, ou designers para criar um espaço atrativo e chamativo que venda a marca Brasil. A loja da Natura em Paris, por exemplo, utiliza cipó e grandes fotos da Amazônia na decoração, o que a diferencia das outras lojas, chamando atenção para a diversidade Brasileira.
A presença dos empresários orgânicos do Rio de Janeiro no stand da SNA só foi possível graças ao esforço econômico de cada um que pagou a hospedagem e alimentação de seus representantes, assim como o transporte dos produtos; ao apoio do Sebrae/RJ que ajudou na locação do stand, folders e nas passagens e da SNA quem teve a seu cargo a logística, mobilização dos produtores e a coordenação do evento. Lamentavelmente não existiu nenhum apoio das autoridades estaduais.
PO – Quais os maiores desafios para o crescimento do setor orgânico brasileiro?
Sylvia Wachsner – O crescimento do mercado de produtos orgânicos é um fato indiscutível assim como a presença de grandes corporações entrando no mercado orgânico. A enorme variedade de novos alimentos que contêm diversos produtos orgânicos continua crescendo. Nesta feira fique impressionada pela quantidade de bolachas feitas de arroz orgânico com diversas coberturas como por exemplo, chocolate. Nosso stand foi visitado por várias pessoas interessadas em adquirir ingredientes orgânicos utilizados na fabricação de alimentos. Os alimentos na feira eram servidos em pratos feitos de bagaço de cana ou de folha de palmeira. São embalagens que se degradam rapidamente e não afetam o meio ambiente. O produtor brasileiro deve conhecer profundamente seu produto, dominar a tecnologia de produção e sobretudo produzir alimentos que são exigidos pelos consumidores.
PO – Como o Sebrae-RJ tem contribuído para alavancar os orgânicos do Rio de Janeiro?
Sylvia Wachsner – O Sebrae/RJ tem sido há alguns anos a entidade do Estado que investe na capacitação dos produtores orgânicos e o apoio para participar de eventos e feiras que congreguem o setor. No ano passado foi organizado pela SNA, com o apoio do Sebrae/RJ e da CpOrg/RJ (Superintência de Agricultura – MAPA), um stand que chamamos ” Orgânicos do Rio”, durante a Biofach Latinoamérica realizada em São Paulo. Vários pequenos produtores do estado tiveram, pela primeira vez, a oportunidade de participar de um evento desse tipo e negociar seus produtos nas rodadas de negócios organizadas pelo Sebrae. Esperamos em 2007 novamente levar um grupo de produtores a participar da Biofach LatinoAmerica.
PO – Que iniciativas o SNA vem promovento junto a este setor?
Sylvia Wachsner – Há uns 15 anos a SNA mantém em seu campus no bairro da Penha, RJ, uma horta orgânica que serve de apoio às aulas sobre produção orgânica oferecidas através da Escola Wencesláo Bello, sempre aos sábados. Estos cursos também são oferecidos dentro do Estado do Rio de Janeiro. Há 3 anos começaram os trabalhos da nossa Incubadora de Agronegócios, e decidimos diferenciá-la focando em produtos orgânicos como uma maneira de adquirir conhecimento e agregar valor a nossos empreendedores. Atualmente temos duas empresas incubadas: Ecobras, que produz alimentos à base de soja orgânica, e Organic Life, uma trading especializada em produtos orgânicos que trabalha na logística internacional. Ela já tem parceria com o Mundo Verde e está abrindo os mercados internacionais para o xarope de guaraná da Iu-Mirim produzido no Rio de Janeiro. É importante observar que o Estado, por sua estrutura geográfica, pode não ter a capacidade agrícola de um Mato Grosso, mas nosso interesse está em ajudar a desenvolver alimentos orgânicos, com alto valor agregado e diferenciados. Assim, por exemplo, durante a Biofach em Alemanha, levamos a Betamix que produz sucos orgânicos e a Reserva Folio, que fabrica sabonetes e cosméticos orgânicos em Friburgo.