Luiz Hafers é presidente da Sociedade Rural Brasileira e tem provocado polêmicas com suas declarações que provocam tanto a esquerda com a direita. Mas Hafers gosta do bom combate e recebeu o Planeta Orgânico no seu escritório, onde respondeu às perguntas que seguem.


PO – Qual a sua visão a respeito da agricultura orgânica?

Hafers – Eu tenho uma visão do orgânico moderada. Porque eu acho que o movimento ambientalista, que é pai do movimento orgânico, serviu de escapatória para todas as frustrações e ressentimentos que vagavam por aí e precisavam de um porto. Eu acho que a questão do meio ambiente e do movimento orgânico é por demais séria para que seja bandeira de ressentimentos. Por outro lado, nós da agricultura e da indústria, não entendemos no primeiro momento a importância do movimento e numa decisão imediatista caímos na defensiva. Quando nós, agricultores, somos de longe os maiores ambientalistas, sem o título. Salvo exceções que existem em todas as classes, o sujeito que mora na fazenda,  tem um amor pelo negócio maior do que pelo dinheiro, pois tem sido um mal negócio nos últimos 50 anos. Mas ele tem outras compensações. A vida no campo que hoje é mais valorizada, não tem uma visão de conservação, Não é muito claro, nem muito escrito, nem muito dito, mas há uma necessidade de todos que mexem com agricultura, de deixar a propriedade melhor do que recebeu. Deixar melhor para as futuras gerações, principalmente, para o mundo. Tenho várias fazendas e tenho certeza de que todas estão melhores do que encontrei. As pessoas que trabalham para mim ficaram melhores de vida, esta é a primeira grande questão. O grande problema que nós temos é a educação. A cidade é suja porque seus cidadãos a sujam; não é por culpa da prefeitura. Os cidadãos são sujos e reclamam da sujeira. A nossa origem luso católica nos faz sentir culpados de nossas opções. O que volta à questão de buscar culpados e não soluções. Então vamos à questão ambiental, que esta nos dá muita preocupação.

PO – O Sr. participou de um protesto em frente ao Consulado do Canadá…

Hafers – É verdade. Fui a uma demonstração com o Paulinho da Força Sindical e nós  ficamos comendo churrasco em frente ao consulado Canadense. Quando eu poderia imaginar que a Força Sindical iria apoiar a pecuária, até então num viés urbanóide esquerdista, confundida com latifúndio, exploração, atraso e calote! Muitas mudanças estão acontecendo e quem imaginaria que aconteceria este “terremoto” na Europa que é a vaca louca mais aftose. A vaca louca acabou sendo positiva em certo sentido, porque catapultou ao público a necessidade de se rever os tratados comerciais.

PO – Falando em tratados comerciais como sr. vê a postura dos Estados Unidos e a Alca?

Hafers – Temos exageros de parte a parte e existe uma grande hipocrisia dos países desenvolvidos. O Bush acaba de declarar com muita clareza que estava na Casa Branca para defender os interesses dos EEUU. Como é então que os americanos vão nos acusar de cortar árvore no Brasil? Existe uma atitude urgente que nós precisamos adotar que é restaurar nossa auto-estima! Tanto a esquerda quanto a direita demonstram uma tendência a uma subserviência com quem tem olho azul e fala inglês ou francês. Eu tenho uma confiança ilimitada no Brasil e me irrita esta baderna que os alguns ambientalistas fazem. Nada mais deplorável do que José Bové aqui fazendo campanha aqui, na nossa casa, aplaudido por nós. Bové é o maior inimigo da agricultura brasileira. Ele tem todo o interesse em segurar o desenvolvimento da agricultura no Brasil. Ele quer é proteger o produto dele!…

PO – Como o sr. vê o crescimento do mercado orgânico?

Hafers – O movimento orgânico tem que ter um cuidado de criar falsas expectativas. Tem que ser economicamente rentável. Eu quero saber quem está disposto a pagar mais caro para eu que eu queira cultivá-la. Os produtores orgânicos dizem é o correto é primeiro arrumar um comprador e depois fazer o plantio. Isto eu acho perfeito. Não podemos é chegar ao exagero, do ponto de vista orgânico, de achar que nós vamos produzir em quantidades, com benzedura. Nós temos que chegar a um meio termo, com uma agricultura mais natural, mas sem o exagero das exigências dos orgânicos.

PO – O que está faltando no movimento orgânico?

Hafers – Informação e pesquisa. Como nunca houve tanto interesse pela agricultura orgânica, não houve pesquisa suficiente. É preciso muito mais estudo. Nos últimos anos 40, toda a pesquisa foi para produzir para que as pessoas não morressem de fome. De repente há um mundo crescente que gostaria de ter um outro tipo de produto. Nós não temos pesquisa  de como seria uma nova genética compatível com os não tratamentos tradicionais. Por exemplo, na briga com os transgênicos. Você não vai conseguir segurar os trangênicos. Você precisa é con-tro-lar. Eu sou a favor dos transgênicos e sou a favor do controle. Quem vai decidir é o consumidor.

PO – O sr. está dizendo que acha possível o transgênico e orgânico conviverem?

Hafers – Ninguém está dizendo que o transgênico tomará o lugar do orgânico. O correto é existir além de produtos orgânicos, existir também produtos geneticamente modificados.

Em todos estes movimentos contrários existem interesses comerciais. Interesses políticos, ressentimentos, frustrações, enfim, todo tipo de reações. E uma das reações – ainda mais no Brasil luso-católico, é a reação ao sucesso. O sucesso para algumas pessoas é insuportável. Ultimamente nós fomos chamados para analisar um negócio que se dizia bom e tivemos tratamento muito pior do que o industriais que iam lá dizendo que estavam quebrados. Nos transgênicos volta a questão que eu digo moderno versus o anacrônico. Mas temos que admitir que é um avanço fenomenal. Por exemplo, os ambientalistas não falam que com os transgênicos se usa 3 vezes menos defensivos. Não falam que o sol aqui é em excesso. Os ingleses medem o sol porque não têm. O transgênico é novo, e o novo assusta. Voltemos para trás e lembremo-nos do impacto que criou a vacina do Oswaldo Cruz. Em última análise, todas as lutas que nós temos se restringem ao anacrônico versus o moderno.

PO – No seu ponto de vista ser contra o transgênico é ser anacrônico?

Hafers – Você ser contra o transgênico é absolutamente anacrônico. porque o transgênico nada mais faz do que produzir o que a natureza fez – e depressa. Se nós todos somos dependentes de “Lúcia” lá da Etiópia, é uma evolução genética de anos. Outro problema também nessas pessoas contra os transgênicos é o medo. Viver é perigoso. Acho que o transgênico vai acontecer. Acho também que a Monsanto fez um erro de arrogância brutal. A arrogância tecnológica queimou a imagem deles. As discussões são sempre técnicas e as decisões são sempre políticas. Na mitologia grega o único pecado que não tinha perdão era o Húbris – que é um misto de arrogância com soberba. Se você caísse nela, você tinha que enfrentar o Nêmesis e aí não tinha solução. Ainda hoje é assim. Toda a decadência das pessoas dos países, das companhias, das companhias, das instituições começa com a arrogância.

PO – Qual o seu prognóstico para a agricultura orgânica?

Hafers – A minha grande preocupação com o orgânico é pela dificuldade do plantio e não me atrevo a fazer qualquer prognóstico. É muito mais difícil cultivar o orgânico em escala. Quando eu vejo as pequenas plantações de orgânicos, eu vejo que é um núcleo, um outro tipo de universo.No final, quem vai dar as diretrizes é o consumidor. Consumidor é o rei: nós temos que produzir o que o consumidor quer.

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