Jaime Xavier, gerente de Marketing dos supermercados ZONA SUL, fala ao Planeta Orgânico sobre a tendência dos orgânicos, e como foi a entrada dos produtos orgânicos nesta rede de supermercados.

PO: Quando o Zona Sul começou a se interessar por orgânicos?

JX – A história do Zona Sul com os orgânicos vem de 1993/94.A nossa proposta é de ser uma empresa modelo e rentável: primeiro modelo, depois rentável . A rentabilidade, nós consideramos que é consequência do diferencial que nós aportamos ao nosso cliente. Há muito tempo que eu já vinha acompanhando o movimento orgânico. Estive nos EEUU e lá me dei conta desta onda que vinha crescendo. E eu sempre gostei de novidades Em 1991 trouxemos a primeira máquina de extração de suco de laranja em loja.. Importamos umas máquinas. Foi uma “danação” mas conseguimos importar. Virou uma febre, foi uma verdadeira loucura. Nessa época começou um tal de “orgânico pra lá , biológico pra cá”, mas não tínhamos muita informação sobre aquilo. Foi então que, em 1994, fui aos Estados Unidos para uma convenção do FMI, e visitei uma loja chamada Fresh & Fields onde eu vi o que era realmente um supermercado orgânico. Tinham uma média entre 2000 e 3000 itens; desde carne e refrigerante até a maior variedade de legumes e verduras possível. Uma curiosidade que me chamou a atenção, foram umas bandejas onde se viam verduras e ervas plantadas e o cliente colhia na hora, dentro do super mercado.Isto dava o maior charme ao local. Ainda vou chegar a fazer uma “loucura” dessas no Zona Sul.

PO: O Zona Sul sempre lança alguma novidade, isso já faz parte do marketing de vocês

JX – Na minha volta lancei outra novidade. Novidade em termos porque eu já tinha visto na feira livre. (Gosto muito destas feiras, pois vou sempre atrás de novidades). Foram as verdurinhas. As tais das verdurinhas e leguminhos processados. Mandamos importar umas máquinas da Suécia e começamos a processar na loja cenoura raladinha, cebola cortada em cubinho, salada e até salada de fruta. O sucesso foi tanto que virou um problema. O volume ficou muito grande, as outras lojas começaram a querer também. Nós só tínhamos feito em uma loja a título de experiência, mas não tínhamos como atender a demanda. Aí saímos disso e passamos para fornecedores que tomaram conta. A idéia já tinha sido implantada e o nosso papel é comprar e vender e não produzir. Nós desenvolvemos a idéia, aprimoramos a marca e a embalagem. Embalagens mais higiênicas e mais bonitas. Desenvolvemos um selo Feira Fácil, porque associava facilidade com o produto pronto. Hoje chama-se Feira Leve.

PO: E quando foi a primeira experiência de vender orgânico no Zona Sul?

JX – Em 1996, conheci duas senhoras, que trabalhavam com orgânico ali na Feirinha da Glória. Convidei-as para uma reunião aqui no escritório. Elas tinham poucos produtos. Algumas folhosas, batata baroa, cenoura, abobrinha, abobrinha amarela, que já dava para um início. Para o primeiro pedido, fui com elas até a loja, apresentei-as ao chefe do hortifruti, que hoje é o nosso comprador Coelho. Combinei com ele de fazermos um trabalho juntos. Disse a ele que era uma coisa diferente e devia ter uma resposta boa das pessoas, que querem, cada vez mais, produtos de qualidade. Ele comprou a idéia e fizemos o primeiro pedido. Elas foram embora com o primeiro pedido para fazer a colheita. Um dia elas me ligaram, dizendo que estavam com um problema. “Jaime: O Toninho disse que só queria alface porque não sabia se isto ia dar certo”. Achava que as pessoas estavam em dúvida. Nesta época, elas já tinham o selo do IBD. Eu acreditava na proposta delas, embora o pessoal encarregado da compra estivesse muito inseguro com o produto. Estavam muito assustados. Era uma proposta muito nova e pouco conhecida. Após algumas negociações, no entanto, todos se convenceram de que apostar nos Orgânicos valeria à pena. Era mais uma iniciativa pioneira do Zona Sul no sentido de oferecer o que há de melhor ao cliente e este é o grande diferencial da nossa empresa.

PO: Você literalmente apostou nos orgânicos…

JX – É verdade, nunca tive a menor dúvida a respeito do acerto da decisão que tomávamos e de que isto nos iria colocar mais uma vez na dianteira da prestação de bons serviços aos nossos clientes. Sabía comigo mesmo que íamos ter sucesso nas vendas destes produtos, em função do público para o qual direcionamos nossos esforços. Fomos em frente. Entramos com o produto. A medida em que o tempo passava, as vendas dos Orgânicos foram crescendo, crescendo e aí explodiram. As duas senhoras não deram mais conta sozinhas da demanda. Foi quando surgiu o Sítio do Moinho. Fomos conhecê-los, visitar o Sítio e começamos a comprar toda a produção deles. Hoje compramos não só toda a produção do Sítio do Moinho mas também nos abastecemos junto a outros fornecedores de São Paulo, dentre os quais destaco o Sítio Santo Onofre. Recentemente, incorporamos um novo fornecedor ao nosso elenco de parceiros no desenvolvimento dos Orgânicos. É a Fazenda Vale das Palmeiras, do Marcos Palmeira que visitei pessoalmente com o nosso pessoal de compras de Hortifruti e onde presenciamos o entusiasmo dele e do Rildo, seu administrador com este movimento. De vez em quando ele visita o Zona Sul e faz muito sucesso com as consumidoras. Ele aproveita para divulgar não só o produto dele mas o conceito orgânico. Passamos a comprar também de mais dois fornecedores de São Paulo. Temos procurado, também, produtores de frutas.

PO: Vocês também importam produtos orgânicos, não é?

JX – Temos ido também buscar alguma coisa na Europa. Trouxemos no final do ano passado de uma forma pioneira, produtos biológicos industrializados; geléias, suco de tomate, vinagre, mostarda, molho de tomate, macarrão, óleo de girassol, azeite, enfim, uma variedade bastante razoável, alem de produtos biológicos nacionais como açúcar, café, arroz que queremos ampliar ainda mais. Eu acredito muito nisto e acho que este movimento orgânico é irreversível. Hoje em nossas lojas a maior parte das folhosas e verduras que comercializamos já é Orgânica e pretendemos um dia atingirmos 100%. Só não atingimos esta meta por não termos ainda os fornecedores. Nos legumes também já dispomos de certa variedade mas a grande dificuldade é com as frutas. Estamos também querendo fazer uma feirinha de orgânicos mas ainda não conseguimos ter segurança para implantarmos esta ideia.

PO: Que bom que você acredita tanto neste conceito!

JX – É a realidade. Em casa, só consumimos orgânicos nas variedades em que há oferta. Eu comecei com isto como uma coisa mais de marketing que outra coisa mas depois absorvi a idéia. O Zona Sul tem uma responsabilidade social a cumprir. Do ponto de vista desta responsabilidade, temos que oferecer aos nossos clientes o que há de melhor no mercado: o melhor em qualidade para colocarmos ao alcance de nossos clientes. Por este propósito, estamos envolvidos neste trabalho de orgânicos e biológicos.

PO: Você foi convidado para dar uma palestra no evento New Ventures, que aconteceu no Hotel Sofitel, Rio de Janeiro. Como foi sua participação?

JX – Convidaram-me para fazer uma palestra como representante da área comercial para falar da postura de uma empresa de livre comércio que trabalhava há muito tempo com produtos. Acho que a participação no evento foi legal pois conseguimos passar aos participantes a segurança no produto orgânico. Na hora de vender o produto tem que haver alguém que queira bancar a idéia. O que a gente tem pena é que uma proposta séria como esta possa ser mal trabalhada. Isto não é só um negócio. É um trabalho que requer muita responsabilidade.

PO: E quanto a carne e frango?

JX – Os criadores de frango já estão se organizando para oferecerem uma quantidade maior. Carne orgânica no Brasil ainda não existe. Parece que vamos ter a partir do próximo ano.

PO: E os laticínios?

JX – Quem entra neste negócio de orgânicos tem que encontrar uma forma adequada de apresentar seu produto. A embalagem conta muito. Não adianta copiar uma embalagem industrializada, por que fica uma imitação pobre. O que aconteceu foi isso. Conheço um fornecedor com um produto muito bom, mas com uma embalagem fraca. O produto além de ser bom tem que ter um impacto, um apelo visual. Para entrar em supermercado a embalagem é fundamental. Uma garrafinha de vidro, para o leite ou para o iogurte, vai remeter ao passado quando a natureza estava ligada ao saudável. O orgânico está preocupado com a preservação da espécie humana e consequentemente com preservação ambiental.

PO: O Zona Sul procura difundir o conceito orgânico?

JX – Sei que temos feito um bom trabalho com o orgânico. Temos que ser exigentes; é compensador ver que as pessoas estão se preocupando com esta história de agrotóxico. As pessoas pagam por uma qualidade melhor, mas querem perceber esta qualidade. A nossa proposta é justamente voltada para isto. A gente evita descer a discussão ao nível único de preço. Nós sabemos que temos preços competitivos, fazemos pesquisas o tempo todo. Nós nos dedicamos ao bom nível de atendimento, de limpeza, enfim de todos os meios, em busca de oferecer ao cliente o que há de melhor.

PO: E assim vocês fidelizam o cliente…

JX – Nós também desenvolvemos um projeto educacional. Nós fazemos, há vinte e um anos, um concurso de desenho do qual participam escolas, filhos de nossos clientes e filhos dos nossos Colaboradores. Criamos um folheto com uma historinha educacional que é distribuído para 40.000 crianças. Criamos também um álbum de figurinhas, que as crianças recebem com as figurinhas já dentro. Procuramos abordar temas como alimentação saudável, meio ambiente, civilidade e cidadania a partir do personagem Tico, O Brasileirinho que vive na Zona sul do Rio de Janeiro, mas que tem primos e amigos no campo. Ele é o pretexto para fazer o contraponto da vida na cidade com a vida no campo, passando assim as crianças e ao público em geral, uma mensagem de vida mais saudável, de respeito ao meio ambiente, e também de respeito ao próximo e a pátria.

Há dois anos, temos a Revista Zona Sul. Uma revista muito bonita, de elevada qualidade editorial, em que tratamos de assuntos de interesse da comunidade. Não é uma revista de comercialização de produtos. Em nenhuma matéria há qualquer referencia a venda de produtos no Zona Sul. Ë o nosso órgão de comunicação com o cliente, em que procuramos transmitir informações e criar um relacionamento de alto nível com aqueles que nos prestigiam. Nesta revista já tivemos diversas matérias sobre produtos orgânicos. Realmente nós apostamos nesta tendência.

PO: Você acha a agricultura orgânica promissora?

JX – Sem dúvida. Eu acho que isto será um grande lance para a agricultura, por causa do volume de terra que nós temos. Porque a produção orgânica permite a sobrevivência do pequeno agricultor. E principalmente porque através dela nos será possível garantirmos um mundo melhor para as futuras gerações.

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