Localizada no município de Valparaíso, interior de São Paulo, a Univalem possui uma área de 24 mil m2. A empresa cultiva mais de 1.600.000 toneladas de açúcar, entre os quais 200.000 são orgânicos.  Diogo Hashimoto, Diretor-Executivo da Univalem, é um entusiasta do conceito orgânico, ressaltando, durante a entrevista, a necessidade de divulgar a importância do produto orgânico para o meio ambiente.


PO – Fale um pouco sobre a Univalem e como começou seu projeto orgânico.

Vista panorâmica da Univale

DH – A Univalem foi fundada 1976, quando foi constituída com a finalidade de produzir exclusivamente álcool anidrido para adição na gasolina. Localizada no município de Valparaíso, interior de São Paulo, possui uma área de 24 mil m2.

A empresa cultiva mais de 1.600.000 toneladas de açúcar, entre os quais 200.000 são orgânicos. Vinte mil hectares são utilizados na produção total de cana-de-açúcar orgânica e convencional, sendo onze mil da própria empresa. Cerca de três mil hectares são próprios para produção orgânica. A Univalem tem uma linha variada de processados da cana-de-açúcar orgânica: álcool, xarope, açúcar e caldo de cana.

PO – E quando teve início o processo de certificação?

DH – Em 1996 iniciamos a produção de composto, utilizando resíduos (30.000 toneladas). Áreas para plantio orgânico foram ampliadas e o processo de certificação pelo IBD teve início. Foram feitas análises de solo, resíduos, etc. Em 1997 foi lançado o programa para conversão total em 3.200 hectares. e, neste mesmo ano ocorreu o processo de adaptação da fábrica e divisão no processamento. A parceria com a fábrica vizinha da Ajinomoto foi concretizada e a área fertirrigada atingia 7.000 hectares.

PO – Vocês tem uma interessante e inovadora parceria com a Ajinomoto. Explique-nos como  funciona.

Tubulações ligam a Univalem e a Ajinomoto

DH – A parceria com a fábrica vizinha da Ajinomoto foi concretizada em 1997 e a área fertirrigada atingia 7.000 hectares. A Ajinomoto é muito próxima da Univalem e várias tubulações ligam as duas empresas. Desta forma fornecemos o xarope de cana de açúcar para a fabricação de lisina (aminoácido utilizado como suplemento de alimentos para avicultura e suinocultura). Além do xarope, através destas tubulações também passa uma linha de água tratada, outra de vapor de alta pressão e uma outra de vapor de baixa pressão. A partir da safra 2001/2002 haverá uma rede elétrica para o fornecimento de energia; a Univalem vai fornecer energia para a Ajinomoto. Esta é uma obra da qual muito nos orgulhamos.


 

 

A melhor maneira de explicar como funciona esta parceria é através de um gráfico que fizemos (figura ao lado), onde tudo é otimizado. O xarope da cana vai para Ajinomto, o resíduo de ajifer da Ajinomoto vai para a compostagem, o composto, o ajifer a  vinhaça voltam para a lavoura, assim como o bagaço da cana segue para o confinamento do gado e o esterco volta para compostagem.

PO – Que medidas a Univalem tem tomado em relação ao meio ambiente e reflorestamento?

DH – Preservar o meio-ambiente é a maior bandeira da Univalem. A empresa investe pesado em projetos de recuperação do solo e de matas ciliares, supervisionando todo o processo de plantio, manejo, industrialização e armazenagem de seus produtos. A Univalem garante processos naturais que não agridem a natureza, como: a substituição de adubo químico por adubo orgânico, cultivo de leguminosas nas entrelinhas da cana, distribuição de vinhaça pelos canaviais em processo de fertirrigação, rotação de culturas para evitar erosões, eliminação das queimadas. Em 1997, a empresa realizou o plantio de 15 mil árvores nativas, sob orientação da Companhia Energética de São Paulo (CESP) na área de preservação permanente do Rio Aguapeí e Córrego Sapé. Realizou também o projeto que plantou 62 mil árvores nativas nas nascentes dos córregos Sapé e Lajeado com o apoio da Cesp e da Flora Tietê.

PO – Como é feito o controle de pragas?

DH – A Univalem tem laboratórios próprios para o desenvolvimento de técnicas naturais para produção. Os técnicos criam predadores naturais para combater as pragas e doenças, substituindo os pesticidas químicos com sucesso, além de gerenciar todos os procedimentos de adubação orgânica. O laboratório da Univalem representa alto investimento na criação e aprimoramento de novas formas de tecnologia em controle biológico. A empresa desenvolve junto à Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) pesquisas no desenvolvimento de novas técnicas para utilização na produção orgânica.

PO – Que outros produtos a Univalem cultiva?

DH – Além da cana-de-açúcar, a Univalem também se tornou uma importante produtora orgânica de soja, milho e gergelim. A soja é cultivada a partir de soja não-transgênica com grande cuidado na rastreabilidade do produto. O gergelim é extremamente rico em vitamina E, óleo, aminoácidos essenciais. O milho é vendido para consumo humano e como ração animal.

PO – Desde quando vocês exportam e para que países?

DH – Em 1999 4.500 toneladas foram exportadas para Europa e 300 toneladas dividas entre Brasil e Japão e em 2000 foram 9.200 toneladas exportadas para Europa e 700 toneladas para Brasil e Japão. O açúcar passou a ser vendido com especificações: dark, gold light e extra light. Teve início o projeto biodinâmico. As áreas fertirrigadas atingiram 8.500 hectares. Houve menor perda de stress hídrico e desenvolvimento de tecnologia para conversão de outros resíduos. O projeto passou a ser setorizado.

PO – Vocês desenvolvem na Univalem, predadores naturais para o controle de pragas?

DH – A Univalem tem laboratórios próprios para o desenvolvimento de técnicas naturais para produção. Os técnicos criam predadores naturais para combater as pragas e doenças, substituindo os pesticidas químicos com sucesso, além de gerenciar todos os procedimentos de adubação orgânica. O laboratório da Univalem representa alto investimento na criação e aprimoramento de novas formas de tecnologia em controle biológico. A empresa desenvolve junto à Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) pesquisas no desenvolvimento de novas técnicas para utilização na produção orgânica.

Pedimos algum texto relativo aos trabalhos desenvolvidos nos Laboratórios de Entomologia da Univalem, para publicar nesta entrevista. Ivanil Fernandes Pereira – Técnico Agrícola, atenciosamente enviou dois textos: Controle Biológico da Praga da Cana de Açúcar e Criação da broca da cana de açúcar,


CONTROLE BIOLÓGICO DA PRAGA DA CANA-DE-AÇÚCAR
Nome vulgar: BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR
Nome científico: DIATRABA SACCHARALIS


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A broca da cana-de-açúcar ocorre em todas as regiões onde se cultiva cana-de-açúcar. As mariposas são de coloração amarelo-pálida com alguns desenhos pardacentos, medindo cerca de 25mm de envergadura. As fêmeas fazem as posturas usualmente na face dorsal das folhas, agrupadas em número variável, de 05 a 50 ovos, sendo semelhantes a couro de cobra ou escamas de peixe. Após um período de incubação que varia de quatro a oito dias, eclodem as lagartinhas, que inicialmente se alimentam de parênquima das folhas e ou da bainha. Após as primeiras eclises, penetram pela parte mole do colmo, logo acima do nó, abrindo galerias no seu interior. Seu completo desenvolvimento necessita em média 40 dias, quando atingem cerca de 25mm. Apresentam coloração branco transparente, com numerosas pontuações dorsais e laterais castanhas, possuem cápsula cefálica marrom escura ou amarela.

PREJUÍZOS – As lagartas, quando atacam as canas novas, causam a morte da gema apical, cujo sintoma é conhecido por “coração morto”.

Em cana adulta, além do dano anteriormente descrito, ocorre perda de peso, brotação lateral, enraizamento aéreo, canas quebradas e entrenós atrofiados. Nos orifícios deixados pelas lagartas penetram fungos que ocasionam a Podridão Vermelha, que determina queda no rendimento industrial pela inversão da sacarose, diminuição da pureza do caldo e problemas de contaminações no processo de fermentação alcoólica. Não existe até o presente um inseticida que controle eficientemente essa praga nas condições brasileiras. No Brasil desde 1970, a broca da cana-de-açúcar é controlada biologicamente em laboratórios, utilizando-se a criação maciça da vespinha alienígena COTÉSIA FLAVIPES.

A UNIVALEM com laboratório próprio fundado em novembro de 1984, atende as necessidades de áreas próprias, áreas de acionistas e áreas de fornecedores, com uma produção mensal de 8.000.000 de vespas. O uso de um parasito como controlador biológico, depende basicamente de um eficiente método de produção massal, liberações no campo e potencial da espécie para reprimir a praga.

Ivanil Fernandes Pereira / Técnico Agrícola

LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA UNIVALEM
CRIAÇÃO DA BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR

SALA DE POSTURA: Nessa sala são mantidas as câmaras com adultos para obtenção de posturas. O acasalamento dos adultos macho e fêmea, resultam na fecundação dos ovos. As folhas de papel desinfectadas e secas, são recortadas para separar as massas de ovos que são selecionadas em placas petri (previamente forradas com papel de filtro e umedecida com solução de sulfato de cobre). As placas com os ovos devem ser mantidas em sala apropriada, com temperatura controlada entre 20 e 22c. O período de incubação dos ovos nessa temperatura é de 5 a 6 dias.

INOCULAÇÃO DOS OVOS EM TUBOS COM DIETA: A inoculação consiste em transferir as massas (20 a 30 ovos em média) para os tubos com dieta, onde são levados para uma sala apropriada com temperatura controlada entre 28 a 30C. As lagartas recém-eclodidas se alimentam da dieta, em 15 a 18 dias apresentarão um desenvolvimento normal, então estarão aptas a servirem de hospedeiros aos parasitóides COTÉSIA FLAVIPES.

SALA DE INOCULAÇÃO DE BROCAS: Posteriormente a lagarta é retirada do tubo e selecionada, faz-se a inoculação, procurando-se a fêmea de Cotésia Flavipes que imediatamente efetua a postura dos ovos na lagarta. A seguir esta lagarta é colocada em caixa plástica e alimentada com tabletes de dieta de realimentação, onde são mantidas em sala apropriada com temperatura controlada entre 26 a 28C.

BROCAS (LAGARTAS): A broca encontra-se vulnerável ao ataque da Cotésia Flavipes, na sua fase de lagarta. O ataque se inicia por uma picada do parasito, quando um lote de ovos é depositado no interior do corpo da lagarta. Estes dão origem a larvinhas que se desenvolverão as custas, especialmente dos tecidos de reserva da lagarta. Completado o período de alimentação, as pequenas larvas migram para fora do corpo da lagarta e formam casulos, dando continuidade a seu ciclo, a lagarta por sua vez, morre, sem conseguir completar seu ciclo.

MASSAS: Dez a treze dias após a inoculação, faz-se a primeira revisão, retirando-se as massas de Cotésia Flavipes formadas, e estas são colocadas em copos plásticos. À medida que se aproxima a emergência dos adultos (3 a 4 dias), as massas vão se tornando escuras até eclodirem.

COTÉSIA FLAVIPES: Após a eclosão das massas obtemos a Cotésia Flavipes que destinam-se à liberações no campo para o controle biológico da broca da cana-de-açúcar, em diferentes áreas ecológicas.

CRISÁLIDA: Quando a lagarta não é atacada pela Cotésia, fica velha e se transforma em crisálida, e a crisálida por sua vez, após a emergência se transforma em adulto (borboleta) macho ou fêmea.

ADULTOS: Os adultos são sexados e transferidos para câmara de acasalamento (45 fêmeas e 60 machos), onde as fêmeas efetuam as posturas em papel sulfite. As fêmeas são maiores, asas anteriores geralmente pouco pigmentadas e abdome volumoso. Os machos são menores, asas anteriores geralmente com pigmentação bem visível e abdome delgado.

DIETA: A dieta artificial (alimento da broca) é uma ração balanceada, preparada à base de levedura, farelo de soja, germe de trigo, açúcar, vitaminas e anticontaminantes.

INTRODUÇÃO: O controle biológico da broca da cana-de-açúcar, através da utilização de seus inimigos naturais, tornou-se entre nós, principalmente nos últimos anos, uma prática bastante difundida e utilizada nas Usinas de Açúcar e Destilarias de Álcool. A Cotésia Flavipes é um parasitóide larval primário, parecendo ser tão prolífero como seus hospedeiros naturais, foi introduzida no Brasil desde 1970, visando controlar a broca da cana-de-açúcar. O uso de um parasito como controlador biológico, depende basicamente de um eficiente método de produção massal, liberações no campo e potencial da espécie para reprimir a praga.



Diogo Hashimoto mostra os produtos Eco Linea a Rosina Guerra (Planeta Organico)

 


PO – Como surgiu a idéia de desenvolver a marca EcoLinea?

DH – Fizemos uma pesquisa, e constatamos que já havia produtos orgânicos de qualidade que pudessem ser abraçados por uma marca, à qual demos o nome de EcoLinea. Selecionamos produtos que atendessem aos nossos padrões de exigência. Gostaria de ressaltar que são certificados pelo IBD, e a maioria deles é licenciada pelo Greenpeace. A EcoLinea, mais que uma marca, é uma empresa que comercializa e distribui produtos orgânicos de forma eficiente e altamente profissional. Nosso objetivo é levar aos pontos de venda produtos orgânicos de qualidade e de uma forma eficiente, pretendendo atender e até superar as expectativas de nossos clientes e dos consumidores finais.

PO – E que produtos fazem parte desta marca?

 

DH – Açúcar orgânico, Arroz orgânico, Néctares orgânicos, Vinagre de Álcool Orgânico, Vinagre Balsâmico Orgânico Importado, Geleias Orgânicas com vários sabores (As frutas da geléia de manga vem de tribos indígenas terrenas., Café Gourmet, Balas e doces orgânicos, Caldo de cana orgânico , Molho de tomate orgânico.

PO – Paralelamente vocês também criaram um personagem de história em quadrinhos.

DH – Sim, o Super Zucca é um super herói desenvolvido para levar às crianças, de maneira divertida, mensagens sobre preservação de meio ambiente. Super Zucca mora em um canavial orgânico, num formigueiro onde moram as Zuccas, formigas saudáveis e felizes. O resto da historinha só lendo o folheto… O importante é “plantar” uma boa semente na cabeça das crianças.

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